O lipedema é um problema que afeta essencialmente o público feminino. Estima-se que 10% das mulheres sofra com o problema -  (crédito: Reprodução/Instagram)

O lipedema é um problema que afeta essencialmente o público feminino. Estima-se que 10% das mulheres sofra com o problema

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A modelo Yasmin Brunet, ex-participante da última edição do Big Brother Brasil, afirmou durante entrevista no programa Encontro, da TV Globo, que foi diagnosticada com lipedema antes de entrar no reality show. "Lá, ficou horrível. Eu sentia muita dor, desconforto e pressão. Minha perna ficou gigante. Quando saí, encontrei um médico incrível que está me ajudando muito", afirmou. E a influenciadora não está sozinha: apesar de ainda ser pouco conhecido, o lipedema afeta aproximadamente 10% da população feminina. Segundo a cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Aline Lamaita, essa é uma condição caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros, principalmente em áreas como coxas, culotes e quadris e pernas.

“Apesar de ter sido padronizado como doença em 2022, o lipedema, ainda hoje, é um problema pouco conhecido pela população e até mesmo pelos médicos, o que atrapalha o diagnóstico e tratamento. Frequentemente, a paciente com lipedema passa a vida como uma ‘falsa magra’, isto é, magra da cintura para cima, mas com pernas grossas. Muitas vezes, acredita que esse é o padrão de corpo familiar, já que o lipedema realmente pode afetar várias mulheres da família, então não pensa que pode ser um problema. E, como até pouco tempo o lipedema não era considerado uma doença, a literatura científica sobre seus mecanismos ainda é muita escassa. Dessa forma, a própria comunidade médica ainda está tomando consciência sobre a doença e se capacitando para o tratamento”, explica a médica. Essa falta de conscientização sobre a doença e a confusão com outros problemas, como a obesidade e a celulite, atrasa o diagnóstico e o tratamento com consequente evolução no quadro. Mas alguns sinais podem ajudar e identificar a presença de lipedema, como:

Acúmulo de gordura desproporcional: o lipedema é uma doença caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros. “A doença afeta principalmente áreas como coxas, culotes, quadris e pernas, mas, eventualmente, pode atingir também os braços, porém, com menos frequência. Além disso, o lipedema é sempre simétrico”, diz a médica, que ressalta que pessoas com sobrepeso devem ficar especialmente atentas ao lipedema, visto que pode ser difícil notar o aumento do tamanho dos membros inferiores.

Gordura difícil de ser eliminada: é muito comum que o lipedema seja confundido com a obesidade, o que causa grande frustração nas pacientes quando as estratégias comumente empregadas nesses casos não funcionam. “O grande problema é que a gordura do lipedema é doente, e frequentemente, não reduz somente com hábitos básicos como dietas e prática de atividade física. Esse deve ser outro sinal de alerta para buscar ajuda profissional”, aconselha.

Dor ao toque: a dor ao toque é um dos principais sinais do lipedema. “Não é incomum que a portadora de lipedema estranhe ao se submeter a uma drenagem linfática ou massagem relaxante, já que experiência, que deveria ser agradável, geralmente é acompanhada de dor e sensibilidade ao toque”, afirma a especialista, que ainda destaca aumento da frequência de hematomas espontâneos e maior tendência ao acúmulo de líquido como outros sintomas da doença.

Presença de nódulos: o lipedema pode causar nódulos visíveis na pele, conferindo à região afetada um aspecto semelhante à celulite. “Fique atenta também à evolução desses nódulos: se eles crescerem, o tamanho das pernas aumentar e a pele começar a dobrar, como se fosse flácida, provavelmente trata-se de lipedema”, detalha a especialista.

Fatores de risco: caso você apresente algum dos fatores de risco da doença, é importante redobrar a atenção aos sinais do lipedema. “O lipedema é um problema que afeta essencialmente o público feminino. Estima-se que 10% das mulheres sofra com o problema. Além disso, é uma doença genética e comumente atinge várias pessoas da mesma família”, diz a médica, que ainda afirma que existe uma forte correlação entre distúrbios hormonais e o avanço da doença. “Por isso, observamos picos de piora e manifestação da doença em períodos hormonais: puberdade, uso de anticoncepcionais, gestação e menopausa.”

Ao notar esses sinais, o mais importante é buscar auxílio médico, pois, apesar de ser uma doença crônica, isto é, sem cura, o lipedema pode ser controlado quando devidamente abordado. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o tratamento do lipedema não se restringe a realização da cirurgia de lipoaspiração. “A imagem da lipoaspiração como grande solução para o lipedema é uma ideia simplista. Não basta apenas retirar essa gordura, pois não se trata simplesmente de um acúmulo de gordura qualquer. O lipedema é uma doença sistêmica, então somente fazer uma lipoaspiração não resolve”, diz Aline, que explica que a lipoaspiração realmente faz parte dos pilares de tratamento contra o lipedema, mas não é necessária e nem indicada em todos os casos e sempre deve ser acompanhada do tratamento clínico. “Em casos mais iniciais, somente o tratamento clínico pode ser suficiente para controlar a doença. Quando isso não acontece, a lipoaspiração pode ser indicada, assim como nos casos mais graves da doença, em que há limitação do movimento”, conta a médica, que afirma que, caso a lipoaspiração seja indicada incorretamente e não seja associada, antes e depois, ao tratamento clínico, a gordura retornará após algum tempo.

Aline destaca que um bom tratamento de lipedema começa pelo cirurgião vascular, mas o acompanhamento com endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta e, eventualmente, ortopedistas e cirurgiões plásticos, também é fundamental. “Mudanças no estilo de vida com adoção de uma alimentação anti-inflamatória e prática regular de atividade física são estratégias importantes para controlar a evolução do lipedema. Mas outras medidas devem ser adotadas, como uso de meias de compressão e medicamentos e realização de sessões de fisioterapias, tratamentos vasculares e até lipoaspiração para retirada do tecido doente”, informa.