Uma estratégia de marketing político que rende resultados nas eleições. A família Ganem, que elegeu o vereador Lucas Ganem (Podemos), cassado pela Justiça eleitoral nesta quinta-feira (18) em BH, se espalhou pelo Sudeste brasileiro nos últimos dois pleitos, disputados em 2024 e 2022.

Os dados abertos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que 16 candidatos com o sobrenome "Ganem" no nome de urna participaram das duas últimas eleições. Desses, seis (37,5%) conquistaram cadeiras. 

Em 2022, Clarice e Bruno Ganem venceram para os cargos de deputados estadual e federal em São Paulo, respectivamente. Ambos são do Podemos. Os dois, ao contrário de outros concorrentes com o sobrenome, realmente têm "Ganem" em seus documentos de identidade. 

Naquela mesma eleição, porém, três outros candidatos tentaram a sorte com o Ganem no nome de urna, mas não venceram. Amanda Beatriz Foltran, a Amanda Ganem, tentou se eleger deputada federal por Minas Gerais, pelo Avante, mas seus 19.261 votos não foram suficientes. 

O mesmo aconteceu com Flávio Fernando Prado, o Flávio Ganem, no mesmo cargo e partido no Rio de Janeiro. Wagner Luís de Paula Rosa, o Wagner Ganem, também tentou a sorte como deputado federal do Avante no Rio Grande do Sul, mas a "doação" do sobrenome não foi suficiente para elegê-lo. 

Fakes também em 2024

Nas eleições municipais, a Família Ganem repetiu a fórmula, mas se multiplicou consideravelmente. Foram 11 candidatos pelo Brasil, mas apenas um deles realmente apresentava o sobrenome em sua identidade: justamente o deputado federal Bruno Ganem, que tentou se eleger prefeito de Indaiatuba, no interior de São Paulo. Ele perdeu. 

Os outros 10 incorporaram o "Ganem" apenas para as eleições. Um deles foi Lucas do Carmo Navarro, o Lucas Ganem, eleito em BH com 10.753 votos. 

Outros três Ganem artificiais saíram vitoriosos para o cargo de vereador. Rodolfo Antônio de Lima Oliveira, o Rodolfo Ganem, conquistou uma cadeira pelo Podemos em Sorocaba (SP); Hebert Garagnani, o Hebert Ganem, pelo mesmo partido em Campinas (SP); e Simone do Carmo Navarro, a Simone Ganem, mãe do vereador cassado em BH, na capital paulista, também pelo Podemos.

Além da estratégia do sobrenome em comum, os candidatos da família Ganem abraçam a causa animal como receituário para a vitória. Todos usam fotos de campanha ao lado de pets para sensibilizar o eleitor.

Cassação

O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) determinou a cassação do mandato do vereador de Belo Horizonte Lucas Ganem (Podemos) e decretou a inelegibilidade dele por oito anos, ao reconhecer a ocorrência de fraude na transferência de domicílio eleitoral para a capital mineira. Cabe recurso.

A sentença resulta de uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) proposta pelo ex-vereador Rubão (Podemos), primeiro suplente da chapa, e aponta que Ganem simulou residência em Belo Horizonte para disputar as eleições municipais de 2024.

O ponto central da condenação foi a constatação de que o endereço informado pelo vereador à Justiça Eleitoral, uma residência no bairro Trevo, na região da Pampulha, era falso. De acordo com relatório da Polícia Federal, citado na sentença, a moradora do imóvel afirmou desconhecer Lucas Ganem e garantiu que ele jamais morou ali.

Além da perda do mandato, o magistrado determinou a anulação dos votos recebidos pelo parlamentar, o que deverá provocar a retotalização dos coeficientes eleitorais e alterar a composição da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). A medida, no entanto, só será executada após o trânsito em julgado do processo. 

A decisão, assinada pelo juiz Marcos Antônio da Silva, da 29ª Zona Eleitoral de Belo Horizonte, foi proferida na última sexta-feira (12) e acolhe integralmente os argumentos apresentados pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) e pela Polícia Federal (PF).

Com informações de Vinícius Prates

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