Segundo o diretor da Ativa Inclusão, Filipe Rosa, a ideia do projeto surgiu após conversas com o seu sócio – que é pai atípico – e juntos resolveram criar um plano para desenvolver um lugar que trabalhasse a inclusão das crianças. Eles buscaram contato com a Prefeitura de Belo Horizonte para compreender como funcionava a relação entre crianças típicas e atípicas dentro desses espaços de lazer.
“Decidimos fazer esse projeto piloto e chegamos na prefeitura para ver se existia a possibilidade de que eles dessem um lugar. E, a partir dos diálogos com a PBH, chegamos ao parque municipal como um ponto ideal”, afirma Rosa.
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Ainda de acordo com Felipe, o projeto demorou cerca de 45 dias para ficar pronto, e a intenção é criar um lugar que não é comumente visto em locais abertos.
“Você tem algumas salas sensoriais, em shoppings, aeroportos, mas em um espaço público aberto, acessível, com horário livre, não há”, diz. “Acho que hoje esse parque dá a oportunidade das crianças experienciar um convívio diferente, não mais restrito às salas de terapia ocupacional, e traz a criança para um outro universo”, aponta o diretor da Ativa Inclusão.
IMPORTÂNCIA DA PRAÇA
Karina Icasatti, mãe da Marina e do Gabriel – criança de 13 anos, autista, com síndrome de Down – vê com bons olhos o desenvolvimento do lugar.
“Eu tenho uma visão de que o ideal seria que todos os lugares fossem preparados para todas as crianças. Que parques fossem sensoriais, não fossem específicos para autistas, que fosse um espaço tão lúdico e divertido do jeito que ele é, com acesso para todas as crianças”, afirma. “Tem muitas pessoas que ainda não sabem o que significa inclusão. Por isso, precisamos de espaços específicos para as crianças e familiares, para que elas possam realmente se divertir ali sem um olhar maldoso, sem um olhar de reprovação”, aponta Karina.
Ela destaca a necessidade de lugares como este para famílias, em especial para mães, que normalmente acompanham as crianças a esses parques e, muitas vezes, recebem olhares de julgamento pelos comportamentos das crianças atípicas.
“É muito comum você conversar com mães e elas falarem que não saem, não vão a restaurantes, que evitam espaços abertos ou com muita gente, não pelo comportamento do filho, mas pelo comportamento das outras pessoas. Fica a preocupação de como os outros vão reagir ao comportamento da sua criança”, finaliza Icasatti.
A praça não substitui a necessidade de acompanhamento em uma clínica com uma terapeuta ocupacional; ela surge como complemento ao tratamento realizado nos consultórios.
De acordo com a professora Ana Amélia Cardoso, terapeuta ocupacional, professora da UFMG e coordenadora do PRAIA – Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo, esses locais são de extrema importância, e é necessária a implantação de mais lugares como este na cidade.
“Essas crianças muitas vezes apresentam sensibilidade sensorial e comportamentos diferentes das crianças típicas, e acabam sendo excluídas em muitos locais. O parque certamente será uma oportunidade para crianças autistas brincarem sem julgamentos e estigmas”, aponta a professora.
É SUFICIENTE?
A ideia do desenvolvimento da construção tem sido muito bem aceita pela comunidade, e eles esperam que novas estruturas possam surgir. Segundo o presidente da Associação dos Amigos Autistas de Minas Gerais, William Fernandes, projetos como este devem ser implantados por toda a capital mineira.
“Belo Horizonte é muito grande! Espero que esta seja a primeira unidade de várias. Toda região da cidade teria que ter pelo menos um parque como este”, diz. “O poder público poderia utilizar as praças públicas já existentes, que estão sempre recebendo reformas e que acabam ficando sem função, e reformá-las já com a intenção de incluir esse público”, afirma Fernandes.
A professora Ana Amélia identifica que há a necessidade de serem realizadas campanhas de conscientização junto à população, com o intuito de que não haja olhares de julgamento sobre os familiares atípicos.
“Pessoas consideradas neurotípicas precisam entender que o autismo é uma deficiência sim, mas pessoas autistas têm o direito de usufruir dos espaços públicos como qualquer outro indivíduo. Com menos julgamento e 'olhares de reprovação', as famílias atípicas se sentiriam mais à vontade para frequentar os parques públicos, sem a necessidade de se criar espaços específicos para o autismo”, afirma Ana Amélia.
A mamãe Karina endossa esse apontamento e cobra do poder público que sejam realizadas mudanças estruturais no entorno, para que as crianças cheguem ao espaço em segurança.
“Quando você tem o respeito pelas características dessas pessoas, tem um estacionamento próximo para cadeirantes e para pessoas com dificuldades de locomoção”, diz. “Esse pedacinho dentro do parque é um grãozinho de areia. Eu tenho esperança de que os arquitetos vão começar a entender que todos os parques precisam ter tudo que está ali dentro daquele lugar, daquele pequeno espaço, porque as crianças precisam estar em todos os locais”, finaliza Karina.
Entramos em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte e não obtivemos retorno. O espaço fica aberto para possíveis esclarecimentos.
SERVIÇO
Inauguração do Parque Girassol
Local: Parque Municipal, Centro de BH
Dia: Quinta-feira (18/12)
Horas: 10 horas
