Pais e especialistas comemoram conquista da vacinação em casa para autistas
Lei que garante atendimento domiciliar humanizado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista em Belo Horizonte foi assinada ontem (31/12)
compartilhe
SIGA
A nova lei que garante a vacinação domiciliar a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), oficializada nessa terça-feira (30/12), foi considerada uma conquista por pais e especialistas. Segundo o texto, o objetivo é promover a imunização desse grupo respeitando as necessidades específicas de cada caso.
Leia Mais
A psicóloga Jéssica Nogueira Ribeiro, especialista em TEA, acredita que a legislação será uma importante forma de reduzir as barreiras de acesso e garantir que esta parcela da população, em especial as crianças autistas, tenham direito à saúde e à inclusão plena.
“As crianças que estão dentro do espectro do autismo podem ter sensibilidade sensorial mais acentuada e isso torna a experiência de vacinação em ambientes coletivos, nos postos de saúde por exemplo, um pouco desagradável, podendo até desencadear uma crise. Muitas famílias dos meus pacientes relatam essa dificuldade”, conta.
Ribeiro explica que a hipersensibilidade pode se manifestar de várias maneiras, como olfativa, auditiva ou ao toque. Além do atendimento em si, o trajeto também pode sobrecarregar o autista. “Tem a questão do transporte também, né? O transporte público é muito cheio, tem muito barulho. Então, as famílias às vezes deixam ou postergam a vacinação e acabam não seguindo direitinho o calendário”, diz Jéssica.
Por isso, um ambiente controlado e familiar pode ajudar a pessoa a receber menos estímulos externos. Os pais também podem contribuir, explicando o passo a passo de tudo o que vai acontecer para que a criança não seja pega de surpresa em nenhum momento.
A psicóloga ainda salienta, ainda, que nenhuma vacina é capaz de causar autismo, uma vez que não é uma doença transmissível e sim um transtorno. “As famílias podem ficar tranquilas. A vacina salva vidas e não está ligada ao TEA”, garante.
Dignidade e respeito
A professora Érica Santiago é mãe do Miguel, um menino de 11 anos com TEA nível dois. Ela conta que já trabalha o que vai acontecer durante a vacinação com o filho mas, mesmo assim, ele ainda fica extremamente ansioso quando precisa ir a um posto de saúde e é necessário duas pessoas para segurá-lo na hora da aplicação.
Em uma ocasião foi preciso deixar a imunização para outro dia pois a sala de vacinação era muito pequena e foi necessário ir a outra unidade. “Optamos por ir embora e ir em um outro posto que tinha um espaço físico um pouco melhor e que a gente pudesse segurar ele de uma forma respeitosa para que não visse muito o momento da aplicação. Depois que aplica, ele dá até beijo, fala tchau e agradece”, relata Santiago.
Para ela, a possibilidade de receber a vacina em casa vai ser mais tranquilo para Miguel. “Acredito que, no caso dele e para tantos outros autistas que precisam de maior suporte nesse momento, o ambiente domiciliar, onde está com as próprias coisas, onde tem um distrator dentro dos hiperfocos deles e com maior aconchego, possa ser um grande facilitador, sim”.
Jonathas Magalhães, pai de Heitor Afonso, de 7 anos, considera a aprovação da lei uma conquista, mas que precisa sair do papel e ser colocada em prática. Para ele, a vacinação em casa vai reduzir o estresse das crianças, evitar situações traumáticas e garantir dignidade e respeito.
“No Brasil, existem muitas leis que garantem direitos, mas nem sempre esses direitos são aplicados. Por isso, é fundamental que essa lei seja divulgada e que as famílias saibam como solicitar esse serviço, de forma simples e acessível. Muitas famílias, principalmente as de baixa renda, não têm acesso a essas informações. A iniciativa é excelente, agora precisamos ver a efetivação. Direito garantido em lei precisa ser direito aplicado na prática”, afirma.
O que diz a lei
A Lei nº11.943 estabelece que as pessoas com TEA passam a ter atendimento prioritário e individualizado, com a possibilidade de agendamento prévio e domiciliar. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) deve oferecer conforto e segurança no momento da vacinação, a fim de minimizar o estresse e facilitar o acesso aos serviços. Equipes de saúde serão capacitadas para respeitar as necessidades sensoriais e comportamentais desse público.
Segundo a PBH, a solicitação para agendamento de vacinação domiciliar para pessoas com TEA poderá ser feita a partir da próxima segunda-feira, dia 5 de janeiro, diretamente nos centros de saúde. Os endereços das unidades estão disponíveis neste link.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Para o agendamento é necessário apresentar um documento com foto e o comprovante de endereço. Posteriormente as marcações também poderão ser feitas on-line.