DESABILITAÇÃO

Minas registra média de 202 acidentes envolvendo motoristas sem CNH por mês

A combinação de imprudência e falta de controle do carro levou à morte do pequeno Hariel, de dois anos, no último domingo (7/12) em Santa Luzia (MG)

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Uma adolescente de 15 anos, três anos a menos do que a idade mínima para a obtenção da carteira nacional de habilitação (CNH), tentou dirigir um carro cujo dono, um homem de 18 anos, também não tinha habilitação. A combinação de imprudência e falta de controle do carro levou à morte do pequeno Hariel, de dois anos, no último domingo (7/12) em Santa Luzia (MG), Região Metropolitana de Belo Horizonte.  

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Situações como esta não são raras. Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), foram registrados uma média de 202 acidentes envolvendo motoristas inabilitados, com e sem vítimas, por mês nos primeiros dez meses deste ano.

Entre janeiro e outubro de 2025, foram registrados 1.594 acidentes com vítimas e envolvendo motoristas inabilitados, um aumento de 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Já os acidentes com motoristas sem CNH, mas sem vítimas, tiveram um aumento ainda maior, saindo de 405, em 2024, para 434 este ano, o que representa um crescimento de 7,2%.

Alysson Coimbra, diretor-científico da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra), analisa que o crescimento reflete a parcela da sociedade que não se importa em seguir os trâmites legais ou as regras de trânsito. 

“Estamos falando de um perfil de condutor infrator que dificilmente se modifica. Então, esse é o condutor que, além de não ter habilitação, não vai respeitar os limites de velocidade, que não vai respeitar as normas gerais de circulação. É sinônimo, hoje, de um mau cidadão”, diz Coimbra.

Impacto em quem fica

Segundo o boletim de ocorrência (BO), um homem de 28 anos estaria ensinando uma adolescente, de 15, a dirigir quando ela perdeu o controle do carro e atingiu duas crianças: uma de 6 anos, Antony, que foi levado para a UPA São Benedito, e Hariel, de dois anos, que morreu no local. 

O pai do menino, Jefferson Fred, pedreiro, de 39 anos, estava inconsolável no velório do filho. Sentado em uma cadeira, mal conseguia falar sobre a perda: “Eu só consegui dormir à base de remédio. Eu estava na porta de casa brincando de futebol quando aconteceu. É horrível. É a última lembrança que eu tenho do meu anjo”.

Antony foi internado no Hospital Odilon Behrens. Alexandra Cristina Quirino, de 50 anos, avó do menino, conta o quanto o acidente afetou o neto. "Ele está abalado, transtornado, confuso. Não sabe o que aconteceu e perguntou porque estava no hospital. Levou muitos pontos na cabeça. De madrugada, segundo minha filha, a mãe dele, Lorraine, ele tinha sido diagnosticado com perda de memória", contou Quirino ao Estado de Minas.

O homem que acompanhava a adolescente sofreu uma fratura em um dos joelhos e ficou com vários hematomas, foi salvo por militares, que o levaram primeiro para o Hospital Risoleta Neves, e preso. A prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva. Já a adolescente foi apreendida no dia do acidente e liberada mediante a assinatura do Termo Compromisso de Entrega sob Guarda e Responsabilidade. 

Combinação mortal

Além da falta de preparo para dirigir, condutores inabilitados e imprudentes podem elevar o risco de acidentes ao consumir álcool. Foi o que aconteceu em julho deste ano em um acidente envolvendo motoristas de carro e moto inabilitados, sendo que um deles estava embriagado, em Contagem, na RMBH.

O motociclista e o garupa, ambos de 20 anos, foram atendidos por uma equipe do Samu e encaminhados em estado grave ao Hospital Municipal da cidade. O motorista do carro não ficou ferido e foi encaminhado preso à delegacia.

No mês seguinte, um motorista de 21 anos, sem CNH e com sinais de embriaguez, provocou a morte de uma passageira de 24 anos em Inhapim, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. De acordo com a Polícia Militar (PM), testemunhas contaram que o Ford Fiesta trafegava em alta velocidade pela rua Osvaldo Silva Araújo quando, ao passar por uma faixa elevada de pedestres, o condutor perdeu o controle da direção e atingiu um muro. 

A passageira morreu na hora. Já o motorista ficou preso às ferragens, consciente, mas com fraturas no braço e no fêmur, sendo encaminhado para cirurgia em um hospital.

 

Mudança profunda

Segundo Alysson, para evitar ocorrências envolvendo motoristas sem habilitação, é necessário investir em educação - não apenas em auto-escolas, mas também nas escolas - e fiscalização. Ele explica que ainda há uma parte da população que aprende a dirigir por conta própria e não vê importância em uma formação formal: ”A gente chama de crença coletiva equivocada porque, no grupo social ao qual ele pertence, há um claro entendimento de que é tranquilo conduzir sem habilitação”.

Ele aponta, ainda, que a fiscalização é insuficiente para localizar e punir os infratores, resultando em uma sensação de impunidade. Este cenário pode, ainda, ser agravado pela desobrigação da formação em auto-escolas, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na terça-feira (9/12). Segundo Coimbra, algumas pessoas podem interpretar que a flexibilização das aulas permite ter aulas com qualquer pessoa com carteira de motorista, e não com um profissional autônomo. 

“Obviamente, quando a pessoa não recebe educação para o trânsito nem um treinamento qualificado, supervisionado por pessoas preparadas, ela vai ter uma dirigibilidade insegura. Então, a habilitação da forma correta com treinamento, o incentivo à educação, a fiscalização e com cuidado à saúde são os quatro pilares fundamentais de qualquer nação que quer reduzir estatisticamente mortes evitáveis no seu trânsito”, defende o especialista. (Com informações de Ivan Drummond, Giovanna de Souza e Quéren Hapuque)

O Estado de Minas questionou a Polícia Militar e a Polícia Civil sobre ações que visam impedir motoristas inabilitados de dirigir, mas não obteve resposta. 

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