"Só durmo à base de remédio", diz pai de criança atropelada em Santa Luzia
Família e amigos fazem carreata e homenagens antes do sepultamento de Hariel, de 2 anos
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A porta da casa onde morava Hariel Lucas Santos de Melo, de 2 anos, se transformou em ponto de encontro para parentes e amigos na manhã desta terça-feira (9/12). De camiseta branca estampada com pedidos de justiça, o grupo organizou uma carreata em homenagem ao menino, que será sepultado às 15h no Cemitério Belo Vale, em Santa Luzia (MG), Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Nas costas das camisas, uma frase resume o sentimento de quem convivia com Hariel: “Eterna será a saudade que vamos sentir de você”.
O pai do menino, Jefferson Fred, pedreiro, de 39 anos, está inconsolável. Sentado em uma cadeira, mal consegue falar sobre a perda. “Eu só consegui dormir à base de remédio. Eu estava na porta de casa brincando de futebol quando aconteceu. É horrível. É a última lembrança que eu tenho do meu anjo”, disse.
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Ao lado dele, a mãe de Hariel, Ingrid Jéssica Correia de Melo, 33, permanece abraçada à filha, Sofia, de 8 anos, irmã do menino. Para confortar a criança, as duas repetem um pacto feito entre elas. Ingrid pergunta: “Ele virou o quê?” Sofia responde, baixinho: “Estrelinha.”
A mãe reforça a promessa feita com a filha: “Combinamos que não vamos chorar. Vamos pensar sempre que ele veio à Terra para cumprir uma missão, por um tempo. Foi isso”, desabafa.
O acidente
Segundo o boletim de ocorrência e depoimentos anexados ao processo, Daniel permitiu que a adolescente assumisse o volante do VW Gol na Rua Maringá, no Bairro São Benedito. Em uma ladeira acentuada, ela perdeu o controle do veículo, que desceu de ré em alta velocidade, atingiu uma mureta e atropelou as duas crianças que estavam na calçada.
Hariel morreu no local. A outra criança teve ferimentos na cabeça, foi atendida na UPA São Benedito e transferida ao Hospital Odilon Behrens, em Belo Horizonte.
Daniel foi agredido por moradores revoltados, teve suspeita de fratura em um dos joelhos e foi levado sob custódia ao Hospital Risoleta Neves. O interrogatório não pôde ser colhido imediatamente devido ao estado de saúde dele.
O que diz a Justiça
A magistrada considerou que o flagrante foi legal e destacou que o caso apresenta “gravidade concreta” e risco de reiteração da conduta. A decisão menciona o depoimento da adolescente. Segundo ela, foi a segunda vez que Daniel a colocou para dirigir.
A juíza também ressaltou que a soltura do suspeito poderia gerar “risco à ordem pública”, especialmente diante da "forte comoção social", o que ficou evidente pelas agressões de populares logo depois do acidente.
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Com isso, a prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva. Como Daniel permanece internado, a custódia seguirá no hospital até a alta médica, quando deverá ser transferido para o presídio.
A adolescente de 15 anos foi apreendida ainda no domingo, ouvida pela autoridade policial, que realizou o Auto de Apreensão em Flagrante de Ato Infracional (AAFAI) pela prática do atos infracionais análogos aos crimes de homicídio culposo na direção de veículo automotor e de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor.
Em seguida, ela foi liberada mediante a assinatura do Termo Compromisso de Entrega sob Guarda e Responsabilidade, conforme procedimento previsto no artigo 174 do Estatuto da Criança e do Adolescente e prestou depoimento acompanhada pela mãe. O caso continua sob investigação.