BH: um furto de celular a cada 20 minutos; MP mapeia shoppings de ilegais
Audiência pública discutirá medidas contra o comércio ilegal que alimenta a violência urbana; mapeamento aponta perfil de criminosos e locais de venda
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Medidas contra o comércio ilegal de celulares em Belo Horizonte buscam frear o prejuízo e a fragilização financeira das vítimas. A cada 20 minutos um celular foi furtado em Belo Horizonte no primeiro trimestre deste ano. Contudo, em apreensões recentes, cerca de 10% dos aparelhos recuperados tinham queixa na polícia.
Para combater essa atividade, impulsionada pela receptação e comércio ilegais, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) mapeou a atividade dos criminosos e realizará, no dia 17 de dezembro, às 15h, uma audiência pública para discutir e implementar medidas para a redução da receptação de aparelhos celulares em shoppings populares de Belo Horizonte.
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Segundo a instituição informou para a reportagem do Estado de Minas, o mapeamento do MPMG determina que os locais onde mais ocorrem os roubos e furtos são o hipercentro de Belo Horizonte; as paradas de semáforos; o transporte coletivo urbano; e as saídas de bares e boates, no período noturno.
O perfil dos ladrões é sobretudo de dependentes de drogas e álcool, devedores de traficantes, pessoas em situação de rua e autores especializados na prática especificamente de subtração de celulares (normalmente usam motos e fazem subtrações inclusive em calçadas).
Segundo dados da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), só entre janeiro e março de 2025, o volume de furtos de celulares em BH chegou a 5.734. Durante o carnaval, foram 200 aparelhos roubados ou furtados por dia.
O mapeamento sobre a receptação, que é quem recebe o aparelho para revender e paga aos ladrões, destaca os proprietários de lojas de reparo e revenda de aparelhos usados como os principais agentes.
De acordo com o MPMG, as lojas normalmente estão situadas em shoppings populares (onde a falta de fiscalização e o comércio informal prevalecem) ou funcionam clandestinamente em outros pontos da cidade.
Tais envolvidos não fazem cadastro de quem deixa os equipamentos e não emitem nota fiscal. Não verificam a procedência dos aparelhos, que são adquiridos a baixo preço e recolocam os aparelhos receptados no mercado.
"Estabelecimentos comerciais localizados nos shoppings (populares de BH) adquirem telefones celulares, produtos de furto a baixo custo e, posteriormente, os recolocam no mercado, lesando, inclusive, os interesses de possíveis consumidores de boa-fé, que têm seus direitos básicos violados", informam as Promotorias de Justiça Criminal e de Defesa do Consumidor.
De acordo com o promotor titular da 12ª Promotoria de Justiça Criminal de Belo Horizonte, Marcos Paulo de Souza Miranda, os proprietários dos centros comerciais também têm de responder pelas atividades ilícitas, e serão ouvidos na audiência pública.
"Nós convidamos os proprietários dos shoppings populares. No nosso modo de entender, existe corresponsabilidade por parte deles, por permitir que esse tipo de comércio ocorra à margem da lei nos estabelecimentos deles. Vamos buscar a cooperação dos proprietários também."
Além do promotor, assina também a audiência o promotor de Justiça Fernando Ferreira Abreu, da 14ª Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de BH.
Foram também convidados para a audiência pública representantes da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Guarda Civil Municipal, Setor de Fiscalização da PBH, Câmara dos Vereadores e Assembleia Legislativa.
Mas em que uma audiência pública pode ajudar?
Segundo o promotor Marcos Paulo, a audiência vai traçar um diagnóstico e inspirar medidas práticas como a formulação de uma lei contra os principais problemas já detectados, entre eles a falta de controle de entrada dos equipamentos em lojas de reparo e revenda - o que favorece o comércio ilícito dos aparelhos.
"Uma lei obrigando as lojas de reparo e venda de usados a manter um cadastro detalhado do responsável pela entrega do aparelho, incluindo seus documentos pessoais e o IMEI do dispositivo poderia diminuir sensivelmente esse tipo de ilícito, pois o criminoso ou receptador evitará procurar estabelecimentos que exijam sua identificação formal e a assinatura, bem como uma declaração de procedência", afirma o promotor.
O Centro de Belo Horizonte é um dos locais onde os furtos e roubos mais ocorrem, mas justamente devido ao comércio ilegal que reintroduz os aparelhos, acaba sendo um destino de ladrões e receptadores de todo estado, orbitando e até agindo dentro dos shoppings.
No dia 19 de setmbro de 2025, por exemplo, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), por meio da 6ª Companhia do 1º BPM, prendeu no Centro dois homens de 25 e 21 anos, e, com eles, vários aparelhos.
Foram 44 aparelhos celulares, quatro Ipads, seis notebooks, vários acessórios de celulares, uma balança de precisão, R$ 1.430 em dinheiro, uma maquina de cartão de crédito/débito, uma bicicleta, quatro cartões bancários e documentos pessoais de terceiros.
Um homem se aproximou de policiais e alegou que o sinal de GPS de seu aparelho celular, que fora furtado durante uma partida de futebol, estava indicando sua presença em um shopping popular.
Furto de celular aumenta em até 150% em dias de carnaval em Belo Horizonte
Os militares foram ao local. Ao visualizar a aproximação dos militares, um homem que estava no interior da loja fuigiu.
"Durante o rastreamento, com apoio de outras guarnições policiais, ele foi detido. Um segundo indivíduo, já conhecido por furtos na área central de BH, chegou ao local para buscar o referente à venda de um celular, também tentou evadir e foi detido", informou a PMMG.
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Dos 44 aparelhos apreendidos, quatro (9%) tinham queixa de furto ou deroubo. Os demais não tiveram suas procedências justificadas por notas fiscais ou por registros da identidade eletrônica do aparelho, o IMEI (International Mobile Equipment Identity).
Roubaram meu celular, o que fazer?
- Tenha sempre anotado o número da linha e o IMEI – identificação internacional do equipamento móvel
- A pessoa deve ir a uma unidade policial para fazer o Registro de Eventos de Defesa Social (Reds)
- Ou então pode solicitar registro de ocorrência de furto, até 30 dias depois do fato pela Delegacia Virtual
- Em seguida deve acessar a Central de Bloqueio de Celulares do Estado de Minas Gerais (Cbloc) para que o celular seja inutilizado para operadoras para solicitar o bloqueio do aparelho
- No caso de recuperação por autoridades policiais dos aparelhos roubados ou furtados será realizado contato com o proprietário
- Dúvidas sobre bloqueio ou desbloqueio de celular: 0800 283 0190. Atendimento 24 horas
Cuidados ao comprar ou vender celulares usados
- Nota fiscal: exija sempre o documento original de compra, conferindo se o número de série bate com o aparelho
- IMEI: verifique o número de identificação do aparelho (digite *#06# no teclado)
- Consulta: Com o IMEI verifique a situação do aparelho no site da Anatel
- Procedência: desconfie de preços muito abaixo do mercado ou vendedores que não possuem loja física estabelecida
- Embalagem: a falta da caixa original e do carregador pode ser um indício de origem duvidosa
Fontes: MPMG, PMMG, PCMG