Cambaleando em meio aos carros parados e ao cheiro forte de combustível no ar, uma vítima caminha desorientada. Um caminhão-tanque carregado com 30 mil litros de etanol e um carro de passeio colidido compõem o cenário dramático, mas simulado, montado nesta quinta-feira (10/7) no km 544 da BR-040, em Belo Horizonte.

O ponto foi escolhido por concentrar alto fluxo de veículos e risco de acidentes graves e o objetivo do exercício foi testar a capacidade de resposta integrada a ocorrências com produtos perigosos.

Por dentro do exercício de alto risco

O simulado foi promovido pela EPR Via Mineira e envolveu cerca de 30 profissionais da concessionária e de instituições como a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a Ambipar, o Núcleo de Emergência Ambiental (NEA), a BHTrans e a Polícia Militar Rodoviária.

O exercício teve como foco treinar a atuação conjunta das equipes e testar os limites operacionais em um cenário realista e perigoso. Segundo o comandante do Pelotão de Produtos Perigosos do Corpo de Bombeiros, tenente Paulo César, o etanol é um dos piores cenários possíveis, por se tratar de um líquido altamente inflamável com risco elevado de incêndio e explosão.

Cada segundo importa

O atendimento começa com o acionamento da concessionária, que, ao identificar a gravidade da ocorrência e a presença de carga perigosa, mobiliza toda a estrutura de resposta. A primeira viatura a chegar a de inspeção, isola a área, sinaliza o trecho e inicia o protocolo de emergência.

Em seguida, são acionados guinchos, ambulâncias, caminhão-pipa, técnicos ambientais e as forças de resgate. O tempo-resposta ideal, segundo a EPR, é de até 15 minutos após a chegada ao local. O diretor-executivo da concessionária, Eric de Almeida, afirma que o treinamento prepara as equipes para atuar com segurança e eficiência mesmo diante de situações críticas.

Integração entre instituições

A atuação integrada foi o centro do simulado. A PRF assumiu o controle do trânsito e o isolamento da área, além de verificar o cumprimento das normas de transporte da carga. Segundo o policial federal Heider Neves, o trabalho da corporação envolve garantir o fluxo em rotas alternativas, fiscalizar o transporte e liberar a pista.

“Nosso papel é garantir a segurança do local, evitar o acesso de curiosos, e garantir o fluxo em rotas alternativas. Depois, fazemos a identificação do condutor e da carga, verificamos se houve infração e liberamos a pista junto aos demais órgãos”, explica.

O Corpo de Bombeiros ficou responsável pela contenção do vazamento, aplicação de espuma e salvamento das vítimas. O primeiro passo, segundo Paulo César, é identificar o produto envolvido e delimitar zonas de atuação para proteger as equipes e evitar riscos maiores.

Já o Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) analisa os danos ambientais, enquanto a Ambipar atua na contenção e no transbordo do produto, protegendo o solo e os corpos d’água da contaminação.

No simulado, foram utilizados guinchos de grande porte, caminhão-pipa, viaturas de inspeção com kits de segurança, ambulâncias com suporte avançado e espuma química. Drones também foram empregados para avaliar o cenário e auxiliar no planejamento da contenção ambiental.

Além da parte técnica, o exercício também visou fortalecer o preparo emocional das equipes, que precisam manter o foco mesmo sob pressão. Um dos integrantes do resgate da EPR explicou que, embora seja um simulado, a rotina de treinamentos visa tornar a resposta a uma situação real mais segura e automática.

Por que o km 544 foi escolhido?

Segundo Eric de Almeida, o ponto do simulado foi estrategicamente escolhido por seu alto fluxo e variedade de veículos, o que aumenta a probabilidade de acidentes complexos. A BR-040 é uma das principais rotas de transporte de cargas perigosas em Minas Gerais.

Desde o início da concessão pela EPR Via Mineira, em 6 de agosto de 2024, já foram registrados 68.482 atendimentos na BR-040, sendo 3.327 de atendimento médico. Embora a empresa não divulgue quantos desses envolvem cargas perigosas, dados da concessionária apontam que mais de 50% das mortes nas rodovias estão ligadas ao não uso do cinto de segurança, uma imprudência também simulada no exercício.

Para Heider Neves, o simulado também tem um papel educativo, já que esse tipo de comportamento ainda é comum e precisa ser enfrentado com fiscalização e conscientização.

Novos limites de velocidade

A BR-040 também passa por alterações nos limites de velocidade em trechos entre Belo Horizonte e Juiz de Fora. A mudança faz parte do Plano de Trabalhos Iniciais da concessionária e visa aumentar a segurança viária, especialmente em áreas urbanas ou com alto índice de acidentes.

Os novos limites vão variar entre 40 km/h e 100 km/h, definidos com base em estudos sobre relevo, volume de tráfego e histórico de sinistros. A PRF também colaborou com as recomendações técnicas.

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Além disso, a duplicação da rodovia, prevista para começar em 2026 em Congonhas, faz parte do cronograma de longo prazo. A expectativa é de conclusão até 2032. Enquanto isso, seguem em andamento obras emergenciais de recuperação de pavimento, melhorias na sinalização e no sistema de drenagem.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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