Segurança pública

Como conter os ladrões? Roubos são maior desafio em cidades da Grande BH

Capital e entorno têm nos roubos o principal indicador entre crimes violentos. Especialista chama a atenção para a migração de facções e gangues

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O maior desafio da segurança pública contra crimes violentos na Região Metropolitana de Belo Horizonte se concentra nos roubos, que chegam a 71,4% da composição da criminalidade mais brutal, enquanto o percentual das 72 cidades mineiras com mais de 50 mil habitantes é de 64,1%. Além de Belo Horizonte, com 77% dessa forma de crime contra o patrimônio se destacando entre os de maior emprego de violência, sobressaem nesse quesito também Contagem (73,5%), Betim (64,9%), Vespasiano (53,8%), Sabará (52,3%) e Ribeirão das Neves (51,1%).


A região soma 12 cidades com mais de 50 mil habitantes relacionadas pelo mapeamento com dados da Sejusp: BH, Contagem, Betim, Vespasiano, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Esmeraldas, Lagoa Santa, Sabará, Ibirité, Pedro Leopoldo e Nova Lima.

Esmeraldas, Lagoa Santa e Pedro Leopoldo têm menos de 100 mil e mais de 50 mil habitantes. Quando comparados pela metodologia indicada pela Sejusp, apresentaram, respectivamente, 145, 114 e 78 crimes violentos e 31, 20 e 19 vítimas de homicídios.


As ocorrências de crimes violentos em Esmeraldas – município de 85 mil habitantes – superaram o quantitativo de Nova Lima (111 mil habitantes) e foram 25,6% menores do que Ibirité (170 mil) e 34,9% menos do que Sabará (129 mil). Entre os homicídios, morreu mais gente assassinada em Esmeraldas do que em Ibirité (170 mil), Sabará (129 mil), Vespasiano (129 mil) e Nova Lima (111 mil), chegando a 22,5% menos que Santa Luzia (219 mil).


Fácil acesso ao armamento


Quase três quartos (73,91%) dos homicídios da Grande BH foram cometidos com o emprego de armas de fogo, indicando a alta disponibilidade e o papel central desses instrumentos para o crime na região da capital e seu entorno. Pior índice mineiro de vítimas em relação à população em Minas Gerais, Esmeraldas concentra 77,4% das mortes por armas de fogo, enquanto Belo Horizonte registrou 78,1% das pessoas que morreram assassinadas como tendo sido vitimadas por tiros.


O coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de Estado e segurança pública, destaca mais uma vez a precarização das condições de segurança pública e infraestrutura nos municípios do entorno de Belo Horizonte como motor para a violência e a vulnerabilidade diante do crime organizado.


“O desafio se impõe além do investimento que vem sendo feito. Perceba que tem ocorrido um fortalecimento de ações, como das guardas metropolitanas de Betim, Ribeirão das Neves, Esmeraldas e Vespasiano e até a implantação de monitoramento de câmeras, centros de inteligência e de crises. Mas não foi ainda o suficiente, porque o tráfico regional e o transnacional de drogas se instalaram nesses municípios, buscando as áreas periféricas e se afastando de Belo Horizonte, que é mercado, mas também foco de grandes operações e estrangulamento do crime pela polícia. É como na Baixada Fluminense”, compara o especialista.


O movimento de expansão das facções criminosas originárias no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas já com presença nacional, impulsiona os crimes e confrontos contra as forças de segurança pública. “As facções chegaram a essas regiões financiando os líderes de quadrilhas e gangues locais com recursos para que assegurem seus domínios, até por corrupção. Trouxeram facilidades de fluxo de mercadorias como as drogas e armas para assegurar seu domínio, mas cobram total submissão e lealdade”, afirma.


“É ainda mais necessário que se criem rotinas de acompanhamento de inteligência desses grupos, do topo dessas lideranças para baixo; não é na boca de fumo que eles são combatidos. Por isso, é urgente uma Justiça criminal implacável. São o inimigo número 1 da sociedade. Não só pelo crime, como pelo domínio das estruturas sociais pelo medo e pelo aparelhamento do Estado”, destaca.


A mancha da violência em BH


Em Belo Horizonte, os bairros com mais registros de homicídios foram o Granja Werneck (Regional Leste), com 11 ocorrências; o Centro, com 10; Jardim Vitória (Regional Nordeste), com 10; Conjunto Taquaril (Regional Leste), com nove; e Jardim Felicidade (Regional Norte), com oito. No município de Esmeraldas, as ações dos assassinos em 2024 se deram com mais frequência nos bairros Conjunto Habitacional Presidente Castelo Branco (4), Cidade Jardim (3), Santa Cecília (3) e São Francisco de Assis (3).


A maioria dos homicídios da Grande BH ocorreu em vias públicas (66,30%), mas um número significativo aconteceu dentro de residências (19,96%), apontando para dinâmicas de violência interpessoal e comunitária. Em Belo Horizonte, 67,2% dos homicídios ocorreram em vias de acesso público, enquanto 16,3% aconteceram no interior de casas e apartamentos.


Já no município de Esmeraldas a distribuição é diferente, com as vias públicas respondendo por 29% dos homicídios, mesmo índice de 29% referente ao interior de casas. O restante ocorreu em bares, sítios, lotes vagos, córregos, matas, barragens e outros.

Facções e tráfico na origem da violência


Embora muitos motivos para assassinatos na Grande BH sejam inicialmente assinalados como “ignorados”, as brigas e atritos (12,8%), ações de gangues (9%) e o envolvimento com drogas ou tráfico (8,5%) somam quase 30% das causas conhecidas na região. Em Esmeraldas, ações de gangues e o envolvimento com drogas ou tráfico chegam a 50% das motivações conhecidas para homicídios. Na capital mineira, 57% das causas das mortes tiveram esse indicativo assinalado pela Sejusp, em levantamento que é anterior à investigação da Polícia Civil. As ações de gangues representaram 38,7% do que foi identificado, o envolvimento com drogas ou tráfico chegou a 27,8% e as brigas e atritos, a 25,8%.


Além de Belo Horizonte, Contagem, com 375,1 crimes por 100 mil habitantes, Betim (261,9/100 mil) e Vespasiano (199,6/100 mil) figuram representando a Grande BH entre as 10 piores taxas de crimes violentos de Minas Gerais.


Os roubos, como componente mais expressivo dos crimes violentos considerados pela Sejusp, foram praticados na Grande BH em sua maioria com o uso de armas de fogo (46,44%) e ameaça (21,25%), demonstrando o caráter violento e intimidador do crime. O uso de armas brancas (17,74%) também é significativo. Na capital mineira, os ladrões se valeram de armas de fogo em 45,9% dos roubos; 16% foram praticados por meio de ameaças, 15% com uso de armas brancas, como facas, e 11,7% depois de agressões físicas desarmadas.


A maioria dos roubos na Grande BH ocorreu em vias de acesso público, chegando a um índice de 79,71%. Os estabelecimentos comerciais (11,14%) e residências (5,30%) também são alvos relevantes, indicando as vulnerabilidades nesses ambientes.


Em busca de soluções


Investimentos, organização e união de esforços estão entre as ações que podem trazer mais segurança para as regiões mineiras. É o que sugere o coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de Estado e segurança pública, como ferramentas e políticas de contenção e redução da criminalidade nos municípios mais populosos. “O ativo mais importante são os agentes e os policiais, a sua valorização é fundamental. É também necessária uma retomada da integração das inteligências, com protocolos de cooperação fundamentais, alinhados a uma política de transparência total. A divulgação de estatísticas criminais serve como alerta e preparação para a população dos locais mais vulneráveis, direcionadas aos públicos desses locais como ferramenta de prevenção primária e orientando o policiamento”, afirma.


O coronel sugere que se tenha como política de Estado um observatório social permanente. “Uma estrutura aberta para analisar indicadores de crimes, identificação de tendências e emissão de alertas, incluindo e incentivando a vigilância entre vizinhos e moradores, fortalecendo o controle social informal”, aconselha.


A sofisticação de meios deve ser incessante e estar à frente do crime organizado, na vanguarda das experiências de mais êxito mundiais, como define o coronel Carlos Júnior. “O incremento da tecnologia de vigilância vertical, com o uso de drones e câmeras, é proposto para o monitoramento de casos de anormalidade ou atitudes suspeitas. Ferramentas que se complementam com as necessidades táticas dos carros, motos e da presença dos agentes de segurança.”


A integração das forças de segurança deve buscar, segundo a avaliação do especialista, não apenas o nível de colaboração, mas também a evolução da sociedade. “O planejamento estratégico e tático deve considerar a realidade cultural de cada região, visando um planejamento operacional integrado. A remodelação de algumas estruturas da malha operacional é crucial para atuar em zonas quentes de criminalidade ou faixas cinzentas, evitando que o crime aconteça nas barbas da polícia e garantindo a paz social”, afirma.


A reação oficial aos criminosos


A Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais afirma que as forças estaduais de segurança acompanham diariamente os índices de criminalidade dos 853 municípios mineiros, “em busca de estratégias integradas que possam reduzir os impactos da ação criminosa em todo o estado, por meio de ações preventivas, repressivas e ostensivas voltadas para coibir homicídios e demais crimes violentos”. Segundo a secretaria, destaca-se a atuação do método Igesp (Integração da Gestão em Segurança Pública), que tem como foco o combate a crimes contra o patrimônio. Análises das estatísticas criminais feitas pelo Observatório de Segurança Pública identificam as áreas com índices de criminalidade mais altos, conhecidas como “zonas quentes”.


Sobre o combate aos crimes contra a pessoa, sobretudo os assassinatos, a pasta destaca o trabalho repressivo e preventivo realizado pela Polícia Militar, com as Patrulhas de Prevenção a Homicídios e a Gestão de Desempenho Operacional (GDO). “Elas são iniciativas voltadas para o mapeamento de locais de ação de infratores, que têm tendência para o acontecimento de crimes, com o objetivo de promover uma repressão qualificada dos atos criminosos”, informa a Sejusp.


A secretaria acrescenta que a Polícia Civil de Minas Gerais é responsável pela investigação dos crimes, integrando as forças de segurança, o Ministério Público e o Poder Judiciário. “A criação da Agência Central de Inteligência (ACI) da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública é outra importante iniciativa que veio potencializar e agilizar o compartilhamento de informações para ampliar o cerco ao crime”, afirma a Sejusp. A ACI coordena a inteligência dos órgãos públicos e é a responsável pelo mapeamento de organizações criminosas.

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A Sejusp avalia que, para fins de comparação, os municípios devem guardar entre si correlação econômica, social, ambiental, além de ser observada a Região Integrada de Segurança Pública (Risp) à qual cada um pertence. “As Risps são estruturadas com base nos indicadores de criminalidade historicamente acompanhados pela Sejusp, com objetivo de promover um amplo e irrestrito combate à criminalidade no estado, de forma regionalizada.”


A pasta destaca ainda que se deve considerar o grau de participação das gestões municipais nas ações de segurança pública, em iniciativas como a criação de guardas civis municipais que atuam também no combate à desordem urbana e demais fatores que têm impacto sobre a criminalidade local.

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