'Fico com medo': oficial agredida por PM diz conviver com apreensão
Em entrevista ao Estado de Minas, Maria Sueli Sobrinho relatou que pretende se recuperar logo e voltar ao trabalho, apesar do medo
Mais lidas
compartilhe
Siga noPassado o susto da agressão sofrida no último sábado (8/3), enquanto trabalhava, a oficial de Justiça Maria Sueli Sobrinho conta que ainda carrega as marcas da violência. Tanto no corpo, com o nariz quebrado pela cabeçada e pelo soco desferidos pelo sargento da PM Daniel Wanderson do Nascimento, quanto psicologicamente. Ainda assim, ela afirma que buscará forças para se recuperar e voltar ao trabalho. “É um risco diário da profissão que escolhi”, diz.
A agressão vivida por Maria Sueli expôs os perigos enfrentados pelos oficiais de Justiça no dia a dia. Na ocasião relatada, a servidora foi atacada enquanto entregava uma intimação em Ibirité, na Grande BH. O agressor foi preso em flagrante ainda na noite do ocorrido e, nesta segunda-feira (10), teve a prisão convertida em preventiva.
Segundo a oficial, a apreensão persiste mesmo com o passar dos dias. “Fico com medo. Estou emocionalmente abalada por tudo o que vivi, que infelizmente terminou dessa maneira”, relata. Maria Sueli também afirma que, em quase vinte anos na função, nunca havia passado por uma violência tão extrema. “Agressão verbal é cotidiana, não só na minha rotina, mas na de todos os oficiais que conheço”, detalha.
Leia Mais
Entenda o caso
Na ocasião em que foi agredida, Maria Sueli estava sozinha, como é de praxe na maior parte das diligências dos oficiais. Ela procurava a pessoa que deveria ser intimada quando o sargento da PM Daniel Wanderson do Nascimento, de 49 anos, se apresentou. Durante o procedimento, ele afirmou que, na verdade, a pessoa que a servidora buscava era outra e apontou para um homem que seria, supostamente, seu enteado.
A oficial relata que questionou por que o sargento deu uma informação errada e afirmou que isso não poderia ser feito a um oficial de Justiça. "Acho que, por ele ser militar, não gostou de ser questionado", disse.
Na sequência, conforme relatou a oficial, o sargento começou a ficar agressivo e a se aproximar demais. Maria então afirmou que, se fosse agredida, poderia chamar uma viatura da polícia. "Foi nesse momento que ele se aproximou e disse 'toma aqui sua viatura' e me deu uma cabeçada no rosto", conta.

A oficial de Justiça Maria Sueli precisou ser hospitalizada após levar uma cabeçada e um soco no rosto
A oficial contou que, logo depois, ele disse que aquilo "é só lesão corporal, não dá nada pra mim" e deu um soco no rosto dela, fazendo-a cair no chão, atordoada. Ainda em seu relato, Maria Sueli afirmou que se levantou e ligou para o marido, major da PM, pedindo que enviasse uma viatura para o local. Foi nesse momento que o sargento fugiu, sendo encontrado horas depois durante diligências do 48º BPM, onde foi detido.
Devido às agressões, a oficial precisou ir ao hospital, onde foram constatados hematomas e fratura no nariz. "Além da dor física, psicologicamente estou um caco. Não sei como vou fazer para voltar a trabalhar", afirmou.
Maria, que atua como oficial de Justiça desde 2006, conta nunca ter passado por uma situação parecida. "Sempre conduzo minhas diligências de modo firme, mas com calma. É raro eu precisar acionar uma viatura; geralmente, resolvo sozinha. Nunca imaginei passar por algo assim", desabafa.
Sobre ter sido agredida enquanto trabalhava, justamente no Dia Internacional da Mulher, a oficial diz que deseja dar visibilidade ao caso para que não se repita — nem com ela, nem com outras colegas de profissão. "Acho que é um caso que deve ser relatado para que não volte a acontecer. Temos muitas oficiais mulheres em risco de sofrer agressões assim no dia a dia", relata.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia