
Todos os tempos do fóssil de Luzia, a primeira brasileira
Em 1975, na região de Lagoa Santa, foi encontrado o fóssil humano com datação mais antiga do país. Era de uma mulher e recebeu o nome de Luzia
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Siga noHá 50 anos, nossa pré-história começava a ganhar um rosto e um nome a partir de importante descoberta, de repercussão internacional, na região cárstica de Lagoa Santa, na Grande BH. Chefiando missão franco-brasileira, sob chancela da Unesco (agência das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a arqueóloga Annette Laming Emperaire (1917-1977) encontrou o fóssil humano com datação mais antiga do país, a Luzia e deu nova dimensão aos achados do naturalista dinamarquês Peter Lund (1801-1880). Lund viveu 46 anos na região e se tornou o pai da paleontologia e da arqueologia brasileiras.
A missão franco-brasileira concentrou as escavações principalmente na Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo. Foi nessa caverna que Annette encontrou, em 1975, Luzia, cujo crânio ficou em exposição no Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ) até virar fragmentos no tenebroso incêndio de 2018. Duas décadas antes, a primeira mulher da América ganhou rosto e uma história. Durante levantamento de coleções de fósseis no museu, o bioantropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo (USP), fez estudos aprofundados sobre os ossos e providenciou a datação, que é de 11,4 mil anos. O nome surgiu de forma espontânea, num trocadilho. Quando perguntaram a Neves se essa seria a nossa Lucy (fóssil encontrado na Etiópia, em 1974), ele respondeu que estava mais para Luzia. E assim ficou batizada.
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Sobre o atual estado do fóssil de Luzia, a informação do Museu Nacional é a seguinte: “Os fragmentos foram resgatados do incêndio e continuam guardados, enquanto a equipe de pesquisadores segue debatendo sobre a forma mais interessante, para o público, e mais correta de trazer Luzia de volta para as exposições”. O museu segue em processo de restauração.
Ao longo do tempo, o rosto de Luzia “sofreu” alterações. Em 2018, um grupo de estudiosos internacionais e brasileiros apresentou resultados inéditos sobre o povoamento pré-colombiano das Américas. Um deles surpreendeu: Luzia não tinha feições africanas, e sim mais semelhantes à dos indígenas brasileiros. O trabalho, feito a partir de DNA fóssil com amostras dos mais antigos esqueletos encontrados no continente, confirmou a existência de um único grupo populacional ancestral de todas as etnias da América. E apontou os traços de Luzia como mais próximos dos povos ameríndios. Dessa forma, houve, em 2018, mudança na reconstrução facial do rosto da primeira brasileira ocorrida, na Inglaterra, em 1990. Quem visitar o Museu de Ciências Naturais, da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico, na capital, poderá ver a nova versão.
Trajetória preservada
Em Lagoa Santa, a memória da arqueóloga que descobriu Luzia está bem preservada no no Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire (Caale), coordenado pela arqueóloga Rosângela Albano. A história de Annette, cuja vida daria um belo filme, está bem contada no espaço mantido pela prefeitura local. Filha de diplomatas franceses, Annette nasceu em São Petersburgo, Rússia, 15 dias antes de os bolcheviques tomarem Moscou. Com a situação, a família voltou para a França. Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ela participou da Resistência até cair em desgraça nas mãos dos alemães. Terminado o conflito, fortaleceu a paixão pelas pesquisas e escavações – formou-se primeiro em filosofia para depois se especializar em arqueologia.
Em Paris, estudou sob orientação do francês Leroi Gourhan, com enfoque na arte rupestre da Europa ocidental, e nos anos seguintes se dedicou aos estudos sobre a pré-história sul-americana, desenvolvendo, com o marido, J. Emperaire, pesquisas pioneiras sobre os sambaquis do litoral brasileiro. Conseguiram aí as primeiras datações radiocarbônicas para sítios arqueológicos do país.
Depois de estudar os sítios de ocupação humana mais antiga na Patagônia chilena, Annette retornou ao Brasil e participou da expedição para estudar um dos últimos grupos indígenas arredios do Brasil meridional – os xetás, do Paraná. Já como diretora de pesquisas da École Pratique des Hautes Etudes, de Paris, foi, nos anos 1970, coordenadora científica da missão franco-brasileira de Lagoa Santa. Nessa região, foi possível, pela primeira vez, obter a datação mínima para pinturas rupestres brasileiras.
Reforço na busca por...
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lança seu novo banco de Bens Culturais Procurados (BCP). Trata-se de um portal com informações sobre objetos desaparecidos, os quais podem ser protegidos individualmente, parte de peças maiores ou de acervos tombados. Criado em 1998, o BCP Iphan, conforme divulgado pela autarquia federal, é o mais antigo e abrangente banco de dados do gênero no País. Passou por modernizações para ajudar na busca e recuperação de tesouros do patrimônio nacional, e inclui o “botão de denúncias”. Atualmente, o sistema já conta com cerca de 1,8 mil bens cadastrados.
...bens desaparecidos
No novo BCP Iphan, há cadastramento de esculturas religiosas, luminárias, tapeçarias, pinturas e diversos outros objetos de valor histórico e artístico (foto). Atendendo a diferentes públicos, facilita tanto o registro de bens procurados e encontrados quanto a elaboração de estatísticas com os dados disponíveis. O sistema modernizado traz um acervo atualizado, com campos de descrição e novas funcionalidades, permitindo maior precisão na busca e registro das informações. O cadastro e verificação das informações são realizados exclusivamente pelos técnicos do Instituto, garantindo rigor no controle e evitando duplicações.
Parede da memória
Sabia que o Pirulito da Praça Sete, no Centro de BH, já esteve na Praça Diogo de Vasconcellos, coração da Savassi? Pois o centenário obelisco ficou nesse local durante 14 anos – de 1963 a 1977. Antes da transferência, em 1962, durante a administração do prefeito Amintas de Barros, ele ficou abandonado num lote ao lado do Museu Histórico da Cidade, atual Museu Histórico Abílio Barreto.
Sem o monumento com 13,57 metros de altura, esculpido em cantaria, a Praça Sete se tornou corredor livre para o crescente trânsito de veículos. Virou, conforme especialistas, apenas uma área asfaltada, sem qualquer marco de referência. Após grande mobilização popular, o Pirulito retornou ao local de origem, sendo tombado, em 1994, dentro do conjunto urbano da Avenida Afonso Pena, incluindo a Praça Sete, pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte.
Inaugurado em 7 de setembro de 1924, o famoso marco de BH teve sua pedra fundamental lançada em 7 de setembro de 1922. Naquele dia, o espaço público recebeu o nome de Praça Sete de Setembro em homenagem ao centenário da Independência do Brasil. Projetado pelo arquiteto Antônio Rego, o obelisco foi executado pela empresa do engenheiro Antônio Gonçalves Gravatá, numa pedreira da cidade vizinha de Betim. De lá até BH, foi transportado pela empresa Emílio Señor, no leito da Estrada de Ferro Central do Brasil.
Dona Beija
Novidade sobre Dona Beija, que viveu no século 19 e ainda povoa o imaginário popular com muitas histórias e lendas. A Casa da Cultura de Estrela do Sul expõe cópia da certidão de óbito da célebre mineira, emitida por registro tardio. Anna Jacinta de São José faleceu em 20 de dezembro de 1873, nessa cidade do Alto Paranaíba. O registro do óbito, feito pelo Cartório de Registro Civil da comarca atendeu a determinação do juiz de direito Cássio Macedo dos Santos, que acatou requerimento do Ministério Público. Ao lado da certidão, há uma cópia da ação ajuizada pelo MP em 2023, e documentos referentes à passagem de Beija por Estrela do Sul. Natural de Formiga, ela viveu muitos anos em Araxá, de onde sua fama se espalhou pelo país. Completando 40 anos, a Casa da Cultura tem à frente o jornalista Pedro Divino Rosa, o Pedro Popó. Para agendar visita, enviar email para: pedro.popo@yahoo.com.br
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Ofícios tradicionais
Que tal trilhar novos caminhos profissionais e ainda ajudar a preservar os tesouros de Minas? A Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana abriu inscrições para os cursos gratuitos de alvenaria - técnicas tradicionais de bioconstrução, carpintaria, forjaria, cantaria e pintura. As aulas começam em 11 de março, com término previsto para 3 de julho, e os alunos matriculados recebem vale-transporte e lanche. A Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana é uma iniciativa do Instituto Pedra, com patrocínio master do Instituto Cultural Vale e apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e da Prefeitura de Mariana. Inscrições abertas, para pessoas com idade a partir de 18 anos, até 13 de fevereiro pelo site oficial da escola.
Patrimônio de BH
Na quinta-feira (13), acontece a 9ª Edição da Noite Mineira de Museus e Bibliotecas, com o evento Memória e Patrimônio – Noite do Cinema no Iepha-MG. O objetivo é resgatar a atuação da instituição estadual de proteção do patrimônio na história das duas emblemáticas salas de exibição de BH: o Cine Metrópole, demolido em 1983, e o Cine Teatro Brasil, que foi todo restaurado e tem programação artística permanente. Haverá palestra, bate- papo e apresentação de material audiovisual, sob coordenação do novo gerente de Documentação e Informação do Iepha, Adalberto Andrade Mateus. Tudo ocorrerá na sede do órgão estadual (Prédio Verde), na Praça da Liberdade, em BH. Inscrições abertas na plataforma Sympla.