DADOS ALARMANTES

João XXIII atende 20 vítimas de acidentes com moto por dia

Em 5 anos, hospital da Região Centro-Sul de BH recebeu mais de 26 mil internações por colisões envolvendo veículo sob duas rodas. Crescimento, entre 2023 e 2024

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A porta de entrada de urgência e emergência do principal pronto-socorro de Belo Horizonte tem ficado cada vez mais sobrecarregada. Em 2024, 20 vítimas por dia de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas foram internadas no Hospital João XXIII, em média - cinco internações a mais que em 2023.

O crescimento, que tem acontecido nos últimos cinco anos, à exceção de 2022, retrata a precariedade de serviços ofertados por motociclistas, como o mototáxi e delivery, uma vez que, conforme especialista, nos últimos dois anos, cerca de 80% dos pacientes trabalham nestas funções. Nos primeiros 23 dias de 2025, 383 atendimentos foram feitos.

Rodrigo Muzzi, gerente médico do Complexo de Urgência e Emergência da Fhemig, instituição que administra o João XXIII, explica que das internações registradas no local, a maioria é de traumas leves, como fraturas fechadas em membros inferiores. Mesmo assim, há um aumento de casos graves que necessitam de internação, como traumatismo craniano.


“O paciente que tem uma fratura, na maioria das vezes, precisa operar. Então, ele vai ficar internado e vai precisar ir para o bloco cirúrgico. Nisso, vai demandar um recurso que é limitado (a sala de bloco) e leito de internação”.


O médico explica que o aumento de ocorrências de trauma em acidentes de trânsito tem sido uma constante desde 2020, no ápice da pandemia da COVID-19. No ano, foram contabilizadas 4.443 internações. Já em 2021, houve um crescimento de 7,9% no número de atendimentos, sendo feitas 4.795 internações. O ano de 2022 apresentou uma leve queda, e o número passou para 4.715. Já no ano seguinte, o aumento foi de 21%, com a entrada de 5.707 pessoas e, em 2024, a ascensão foi de cerca de 27%, chegando à casa dos 7.227 registros. No total, em cinco anos, foram 26.887 internações.


“Moto sempre foi a principal causa de acidentes automobilísticos em qualquer hospital. Mas a gente já tinha notado um aumento nas ocorrências depois da pandemia, muito por causa do delivery e, agora, por conta desse transporte por aplicativo com moto — muito provavelmente — que além de ter o risco de acidente, é uma pessoa levando outra atrás”, explica Muzzi.


Regulamentação

Segundo dados apresentados pelo Governo de Minas Gerais, no painel de monitoramento de acidentes de trânsito, em 2024, foram computados 20.221 sinistros com motocicletas em Belo Horizonte. Desses, 10.034 tiveram alguma vítima, sendo que 7.897 possuíam ferimentos leves e 850 graves ou chegaram a ficar inconsciente. Noventa e uma pessoas morreram. Em relação à causa presumida, considerando todos os registros, 10.273 foram por “falta de atenção”. Outros 4.423 aconteceram por “causas relacionadas ao trânsito”.

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Belo Horizonte não conta com uma legislação municipal que regulamente esse tipo de serviço. Desde março de 2018, a Lei 13.640 permite a modalidade em todo o território nacional e determina que é função das cidades viabilizar a regulação do trabalho local. “Compete exclusivamente aos municípios e ao Distrito Federal regulamentar e fiscalizar o serviço de transporte remunerado privado individual de passageiros, previsto no inciso X do art. 4º desta Lei, no âmbito dos seus territórios”.


Ao Estado de Minas, um motociclista que trabalha há cinco anos com entregas contou que, desde que a modalidade de transporte por aplicativo por duas rodas chegou à capital, percebeu que o número de acidentes aumentou drasticamente. Ele afirma que, desde então, já soube de pessoas que fornecem o serviço usando cadastros falsos e até pilotando sem carteira.


“Tem acontecido muito acidente. Os meninos não têm preparação, não têm curso, não têm equipamento de segurança. Tira a carteira com 18 anos e já vão para essa 'selva de pedra'. Muitos trabalham sem carteira de habilitação. Virou uma bagunça e o poder público tem sido omisso a toda essa situação”, desabafa o motoboy, que não quis se identificar.


Embate na categoria

A possibilidade de suspensão do mototáxi em Belo Horizonte reuniu centenas de motociclistas na Avenida Afonso Pena, em frente a sede do poder Executivo municipal, na manhã de anteontem (23/1). No ato, marcado pela união da categoria, os profissionais entoaram gritos contra o pedido da Superintendência Regional do Trabalho (SRT-MG), de interromper o serviço por 90 dias enquanto uma possível regulamentação é discutida.


A pressão fez com que o representante regional do Ministério do Trabalho, Carlos Calazans, voltasse atrás na solicitação e que o prefeito em exercício, Álvaro Damião (União Brasil), creditasse a responsabilidade ao Governo Federal. 

“Tem acontecido muito acidente. Os meninos não têm preparação, não têm curso, não têm equipamento de segurança. Tiram a carteira com 18 anos e já vão para essa ‘selva de pedra’. Muitos trabalham sem carteira de habilitação. Virou uma bagunça e o poder público tem sido omisso a toda essa situação”


Motoboy
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