
Criança com paralisia morta em casa vivia em situação 'lamentável', diz tia
Corpo da criança, de 4 anos, será velado e sepultado nesta segunda-feira (18/11), a partir das 14h, na Funerária Central de Sete Lagoas
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Siga noA tia do menino de quatro anos com paralisia cerebral encontrado morto em casa no último domingo (17/11), em Sete Lagoas, na Região Central, classificou a situação em que a criança vivia como "lamentável". A mulher, de 28 anos, foi visitar a casa onde a irmã vivia com os filhos na manhã desta segunda-feira (18/11). “Encontrei a casa suja, com roupa suja, fedendo. O quarto onde Gael foi encontrado estava úmido, com um colchão sujo. Não tinha nada no quarto, era um quarto até escuro. Parece que ela colocou o menino lá e falou: 'sobreviva!', porque a situação dele é lamentável”, descreve a tia dele, que trabalha como atendente em uma padaria.
A criança foi encontrada morta com sinais de violência e maus-tratos. A mãe, de 27 anos, e o companheiro, de 23 anos, foram presos em flagrante. Segundo o registro policial, o menino estava desnutrido, com ferimentos pelo corpo, larvas de moscas na pele, fralda cheia de fezes e dentes amarelados e com cáries. De acordo com familiares, o corpo do menino de quatro anos será velado a partir das 14h desta segunda-feira (18/11). Já o sepultamento será às 16h. As cerimônias vão acontecer na Funerária Central de Sete Lagoas.
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Além do menino de quatro anos, a mulher vivia com mais três filhos, de 1, 8 e 9 anos, e com o companheiro. Até a morte do sobrinho, a tia não sabia o endereço onde as crianças moravam com a mãe. Segundo a atendente de padaria, ela e a irmã não conversam há algum tempo. Ela conta que, em dezembro do ano passado, outra sobrinha, de seis meses, morreu. Logo depois, a mulher convidou a irmã para morar com ela, mas as duas se desentenderam.
"Minha irmã e os filhos dela moraram comigo, mas eu falei com ela que não ia permitir que os dois filhos mais velhos dela cuidassem do Gael, porque ela não cuidava, quem cuidava era o menino de nove e a menina de oito. Quando eles foram morar comigo, deixei bem claro que isso não iria acontecer, que ela iria cuidar. Só que ela não é uma pessoa que consegue seguir regras. Ela achou ruim. Aí eu falei: 'Se você não for viver dentro da minha casa, do jeito que você precisa para crescer na sua vida e com os seus filhos, aqui você não vai ficar'", relembra.
Antes de morar no endereço atual, a mulher e as crianças chegaram a viver em outro local. Segundo a tia das crianças, a irmã dela foi para São Paulo morar com a avó do filho mais novo. No entanto, retornou para Sete Lagoas após um desentendimento com a família. O pai do menino, que não quis se identificar, também relatou que não sabia onde o filho morava. “Eu não tinha contato, não sabia onde ela morava, não tinha o número de telefone dela. Eu tinha que pedir para minha irmã entrar em contato com ela no Instagram para ela mandar o PIX, e assim eu conseguia fazer o pagamento da pensão. Ela me bloqueou em tudo, eu não sabia onde ela estava”, alegou.
Mãe e o companheiro presos
A mãe do menino e o namorado dela foram detidos e encaminhados para a Delegacia de Polícia Civil. Os outros três filhos da mulher ficaram sob a responsabilidade do Conselho Tutelar, que os abrigou em uma casa de apoio.
Em nota, a Polícia Civil informou que o casal suspeito de maus-tratos será ouvido na manhã desta segunda-feira (18/11). "Na ocasião, a perícia oficial da PCMG compareceu ao local dos fatos para a realização dos primeiros levantamentos. Tão logo seja possível, outras informações poderão ser divulgadas".
A corporação também foi questionada sobre a investigação da morte da outra filha da mulher e informou que recebeu, por meio da 2ª Central Estadual do Plantão Digital, a ocorrência atendida e registrada pela Polícia Militar, na noite de domingo (17/11), no Bairro Santo Antônio, em Sete Lagoas. A perícia oficial deslocou ao local dos fatos, onde foram realizados os primeiros levantamentos e a coleta de vestígios que irão subsidiar a investigação.
"A PCMG informa, ainda, que duas pessoas foram conduzidos à delegacia e ouvidos. A mulher, de 27 anos, foi autuada em flagrante delito pelo crime de homicídio por omissão imprópria. Ela segue à disposição da Justiça para as medidas legais cabíveis. Já o homem, de 23 anos, após os procedimentos, foi liberado", diz em nota. A investigação prossegue para sua completa elucidação.
A respeito do inquérito policial instaurado, em dezembro de 2023, para apurar as circunstâncias e a causa da morte de uma menina, de 6 meses, também filha da suspeita, a PC comunicou que segue em tramitação a cargo da Delegacia Especializada em Investigação de Homicídios de Sete Lagoas, com a realização de diligências necessárias à elucidação do caso.
Denúncia
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tentou reanimar a criança, sem sucesso. O médico da equipe atestou a morte, de causa desconhecida, e, de acordo com o boletim de ocorrência, orientou a mãe a procurar o serviço funerário.
A Polícia Militar foi acionada pelo serviço funerário, que percebeu a situação de maus-tratos. Ainda de acordo com a solicitante, a mãe do menino perguntava se o serviço iria demorar muito e não demonstrava sentimento pela morte do filho.
Em conversa com a PM, a mãe da criança disse que o filho tinha paralisia cerebral desde os oito meses de idade e se alimentava por sonda abdominal. No domingo, ela deu banho na criança e o alimentou por volta de meio-dia. Às 15h, ela foi até o quarto dele para alimentá-lo, mas, como ele estava dormindo, resolveu esperar até ele acordar. Por volta das 20h, ela retornou ao quarto do menino e já o encontrou frio.
A Prefeitura de Sete Lagoas foi acionada para saber se a mãe da criança teria tentado agendar consulta de acompanhamento para o filho, conforme ela relatou no boletim de ocorrência. Foi informado em nota que "cabe ao Samu salvar vidas. Sendo constatado o óbito, é orientado à família que acione o serviço funerário. O Samu apenas atesta o óbito. Somente quando a equipe da funerária foi ao local, no momento de retirar a sonda, é que foi constatada a presença de larvas, levando os profissionais a acionarem a Polícia".
Também procurado pelo Estado de Minas, o Conselho Tutelar Municipal informou que o caso segue sendo apurado pelos órgãos competentes de investigação, em sigilo. "Referente ao atendimento prestado à família pelo Conselho Tutelar, foram realizados os devidos encaminhamentos e aplicadas as medidas protetivas aos demais irmãos, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)", diz também em nota.
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