Amigo-Oculto da Gastronomia: EM promove divertida troca de presentes
Entramos na conhecida brincadeira de Natal para celebrar o fim do ano com profissionais do setor. A única regra era que os presentes fossem de comer
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Dez pessoas que trabalham com alimentos e bebidas. Nomes sorteados. A única regra era que os presentes fossem de comer. Assim nasceu a 1ª edição do Amigo-Oculto da Gastronomia, idealizado e realizado pelo Estado de Minas, que chega para celebrar o fim do ano do setor com a tradicional brincadeira de Natal. O encontro para a troca dos presentes proporcionou momentos de diversão e reuniu muitos colegas de profissão que não se conheciam pessoalmente.
“Adoro amigo-oculto. Acho que é uma maneira de descontrair para o Natal”, comenta Agnes Farkasvölgyi, do bistrô A Casa da Agnes, do bufê Bouquet Garni e do restaurante Chafariz, em Ouro Preto. Na casa da sua mãe, a brincadeira não tem vez, porque “ela gosta de dar presente para todo mundo”, mas a chef sempre participa do sorteio da família do marido e com os seus funcionários.
O mixologista e bartender Filipe Brasil, que assina as cartas de coquetéis de várias casas, demonstra a mesma empolgação. “Diga sim ao amigo-oculto”, brinca. “É uma forma de interagir com as pessoas, seja da família, seja do trabalho, de uma forma mais leve e a gente se aproxima das pessoas.” Segundo ele, sua mãe é a grande organizadora, incentivadora e “obrigadora” da troca de presentes na família. Ninguém nem tem chance de não querer participar.
Quem também defende a “instituição” amigo-oculto é Zito Cavalcante, do bar Faísca. “Acho que é muito divertido, talvez até mais divertido do que só presentear. Você está ali prestando atenção numa pessoa que às vezes não presentearia e isso acaba causando um momento de confraternização diferente. Não só entre você e a pessoa, mas do grupo”, analisa o chef, que é de Cabo Frio (RJ). A família de lá costuma acrescentar brincadeiras para a noite de Natal ficar ainda mais divertida.
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Barista e sócia do Café Magrí, Marília Balzani tem um gosto peculiar quando o assunto é amigo-oculto. “Não gosto de participar do amigo-oculto tradicional, porque tenho dificuldade em presentear as pessoas. Mas na família gosto de participar só do amigo-oculto de sacanagem, aqueles que são de roubar, de dar um presente misterioso, bem avacalhado. É assim que eu gosto”, confessa.
Lembranças de infância
Polyana Oliveira, maîtresse do restaurante Pacato, se define como “a louca do Natal”. Ou seja, gosta de todos os rituais dessa época do ano, inclusive amigo-oculto. “A gente faz há menos tempo na minha casa, porque meus filhos eram muito pequenos. Agora que somos todos adultos, optamos pelo amigo-oculto, até para que cada um escolha um presente melhor. Mas com todo aquele ritual de Natal, de montar a mesa e abrir os presentes perto da ceia”, conta, lembrando que seu pai escondia os presentes como se fosse o Papai Noel.
Amigo-oculto também envolve memórias. Que o diga André Palhares, da terceira geração do Café Palhares. “Quando criança, é uma alegria. Você fica doido para ser chamado, aquela ansiedade, quem te tirou, eu ia para a árvore olhar os presentes... Então, relembra muito a infância.” A tradição acabou se perdendo na sua família e fazia tempo que ele não participava da divertida troca de presentes.
Pedro Barbosa, da sorveteria Uaiê, é outro participante que guarda boas lembranças da brincadeira, que vem sendo resgatada pela sua família depois da pandemia. “Acho que é muito importante a gente celebrar a nossa vida no fim do ano e presentear as pessoas que fazem parte da nossa história. Traz aquela sensação de aconchego. Quando descobri que queria fazer gastronomia, ganhei uma faca da minha mãe e foi muito bonito, muito emblemático e isso ficou marcado para o resto da minha vida.”
Um incentiva o outro
A chef confeiteira Marina Mendes, do ateliê Sá Marina, é do time que não perde um amigo-oculto. Já seus parentes e amigos... “Sou aquela pessoa do grupo que sempre tenta organizar e ninguém quer. Nem minha filha. Quando falo em amigo oculto, o povo já começa a dar costas e se fazer de desentendido”, conta, com risadas. Imagina, então, o tanto que ela agradeceu pelo convite.
Se Marina e Bruna Rezende já se conhecessem, certamente, a chef do bar A Porca Voadora seria a amiga que não participaria da brincadeira. “Fujo de todos os amigos-ocultos. Tanto da família quanto de amigos. Sempre falo: 'Ah, não posso, vou ter que chegar mais tarde porque estou na cozinha'. Aí chego depois”, explica, revelando que costuma usar a mesma desculpa.
Por uma razão óbvia, amigo-oculto não faz parte da cultura do chef e sócio do bufê Club do Chef, Massimo Battaglini: ele é italiano. Mas, como já se considera mineiro, quando tem oportunidade, participa. “Não é uma tradição para mim, porque não cresci com isso. Aqui, obviamente, entrei na brincadeira.”
Todo mundo quer bis
Já participou de alguma troca de presentes só com comida? Por incrível que pareça, nenhum dos convidados do 1º Amigo-Oculto da Gastronomia tinha tido uma experiência como essa. A ideia empolgou até quem costuma fugir da brincadeira e levou chefs para a cozinha para preparar receitas pensadas sob medida para o nome sorteado. Algumas foram feitas pela primeira vez.
Agnes Farkasvölgyi, Zito Cavalcante e Massimo Battaglini estão acostumados – e gostam – de dar comida de presente no Natal, mas, nesse formato, é novidade. “Achei maravilhoso, a gente devia instituir isso”, brinca a chef, que diz gostar de fazer os próprios presentes. “Por muitos anos, produzi quadrinhos e outros objetos que faço de arte. E em alguns anos faço comida. Então, esse ano em que voltei a fazer as conservas, os meus presentes vão ser todos assim.”
Para Zito, comida tem mais valor que dinheiro. “A gente sempre faz questão de dar um presentinho de comida para a família inteira. Normalmente, é um azeite temperado, um sal temperado ou uma geleia.”
Certamente, Massimo concorda. “Colocar alimento como presente, isso é uma coisa que na minha casa tem tradição há muitos anos”, diz o italiano.
Nem mesmo quem curte muito amigo-oculto, como é o caso de Marina Mendes, Marília Balzani e Filipe Brasil, já tinha ouvido falar nessa troca de presentes gastronômica. “Amigo-oculto de comida só na adolescência, o de chocolate, que eu também achava o máximo”, compara a chef confeiteira. Mas com comida mesmo, nunca.
Pedro Barbosa achou a ideia “genial”, tanto que já quer replicar com outras turmas. “Fiz o meu próprio presente, vou entregar para a pessoa, então já tem amor ali desde o primeiro momento. Isso é maravilhoso.”
Alguns participantes encararam o convite como um delicioso desafio. Bruna Rezende, a “fujona” de amigo-oculto, só aceitou participar porque era de comida. “Isso que me deu uma chama de aceitação, de ficar animada. Levar o seu de comer para o outro é uma honra.” Polyana Oliveira gostou de ser desafiada desse jeito, mesmo não sendo cozinheira. “Tive que pesquisar para dar algo que faça sentido para mim e para quem está recebendo.”
André Palhares deu uma ideia que pode ser adotada na edição do ano que vem. “Poderíamos fazer depois até a ceia do Natal com os presentes do amigo-oculto. Até brinquei: se todo mundo abrir os presentes aqui, a gente vai ter comida salgada, doce, sobremesa, vai ter tudo. Vai ser um banquete.”
Troca de presentes
Veja a seguir quem tirou quem e o que cada um ganhou.
- De: Agnes Farkasvölgyi (A Casa da Agnes, Bouquet Garni e Chafariz)
- Para: Filipe Brasil (mixologista)
- Presente: Picles de mini chuchus e língua braseada
- “Comecei há 38 anos fazendo picles, conservas, geleias, molhos e resolvi retomar isso esse ano. Então, fiz para o meu agraciado picles de chuchuzinho. Esses picles dão uma quebrada na língua braseada, com um molho denso.”
- De: Filipe Brasil (mixologista)
- Para: Marina Mendes (Sá Marina)
- Presente: Torta de frango da lanchonete Big-Tê
- “Da mesma forma que peguei uma fila para comer uma coisa maravilhosa que essa pessoa fez num evento, peguei uma fila para pegar este presente maravilhoso que trouxe para essa pessoa. É uma torta de frango do Big-Tê, ali no Santa Cruz.”
- De: Marina Mendes (Sá Marina)
- Para: Bruna Rezende (A Porca Voadora)
- Presente: Doce com ovos, queijo, mel e milho
- “Obviamente, é uma pâtisserie, mas é algo que vai lembrar muito todo o universo que ela vive. Trouxe ovos, mas do meu jeito. Dentro tem queijo, mel e milho. Nunca fiz essa combinação e gostei muito. A Bruna faz uma ode à mineiridade com muita ousadia e é isso que trouxe nesse presente.”
- De: Bruna Rezende (A Porca Voadora)
- Para: Agnes Farkasvölgyi (A Casa da Agnes, Bouquet Garni e Chafariz)
- Presente: Caju-passa, coalhada, conservas de picles de uva e de cebola tostada, pimenta e café
- “Escolhi fazer um doce de caju que li muito nos livros de Cora Coralina, um doce que ela fazia para aumentar a renda da família. Pensando na Agnes como uma figura que também teve muitos feitos e profissões, me inspirei nisso. Trouxe outras coisinhas que representam bem a minha casa.”
- De: Marília Balzani (Café Magrí)
- Para: Polyana Oliveira (Pacato)
- Presente: Café, mel, panetone, licor de cupuaçu, cachaça de jambu e licor de mel de cacau
- “Fiz uma curadoria de produtos do Magrí. Escolhi um pouquinho de cada coisa que acho incrível e trouxe uma caixa enorme para impressionar. Aqui dentro tem um pacote de café, um mel fermentado no abacaxi, o Magrítone e três preciosidades amazônicas. São produções indígenas.”
- De: Polyana Oliveira (Pacato)
- Para: Marília Balzani (Café Magrí)
- Presente: Quitutes como pastel de angu com umbigo de banana e folhado de Natal
- “Não me arriscaria a dar café para alguém entendida de café. Mas me arrisquei, como uma boa mineira, a dar quitutes que acompanham cafés. Trouxe algumas entradas salgadas do Pacato e folhados doces da nossa parceira, um lugar que gosto muito, a Albertina Pães.”
- De: André Palhares (Café Palhares)
- Para: Pedro Barbosa (Uaiê)
- Presente: Pudim de leite condensado
- “Trouxe para ele um pudim de leite condensado que, para mim, modéstia à parte, é o melhor pudim da cidade. É um pudim que vendo no Café Palhares, super levinho, lisinho. Acho que é a cara dele, ele vai adorar.”
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- De: Pedro Barbosa (Uaiê)
- Para: Zito Cavalcante (Faísca)
- Presente: Sorvete de castanhas brasileiras com mexerica
- “Esse é um dos meus sorvetes favoritos. São castanhas brasileiras misturadas com um pouquinho de mexerica para trazer aquela acidez deliciosa. Também fizemos as casquinhas fresquinhas para ele aproveitar esse momento com a família dele.”
- De: Zito Cavalcante (Faísca)
- Para: Massimo Battaglini (Club do Chef)
- Presente: Geleia de tomate picante
- “Fiz quatro potinhos de geleia de tomate picante. Adoro fazer geleias e essa é uma que sempre faço em ocasiões especiais. Acho que ela é diferente, chama atenção e me lembra muito a minha formação italiana na gastronomia.”
- De: Massimo Battaglini (Club do Chef)
- Para: André Palhares (Café Palhares)
- Presente: Cogumelos morilles
- “Comprei numa loja que amo, no Bairro da Liberdade, em São Paulo. É um produto que é muito difícil de encontrar em Belo Horizonte, por isso acho que vai ter valor. É um cogumelo silvestre, mas que não é o clássico porcini, é o morille, que vem do Oriente.”