A relação do homem com os animais é antiga. Tidos como inimigo, alimento ou, posteriormente, amigo, eles sempre estiveram perto do ser humano. A domesticação de espécies, que antes visava a proteção das famílias e a alimentação, deu lugar aos chamados pets – animais de estimação que vivem com o homem para fins de convívio social e companheirismo.

Hoje, esses animais se tornaram, em muitas casas, membros da família. Essa tendência, que muito diz respeito ao homem atualmente, que, para alguns estudiosos, parece não querer uma companhia questionadora ou portadora de senso crítico, é tão real que fez com que restaurantes também abrissem suas portas para outras espécies do reino animal.

O Pet Café nasceu no início de 2024, no coração da Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, com o objetivo de ser uma cafeteria que acolhesse animais e humanos apaixonados por eles. A casa surgiu do sonho de Catarina Hauck, proprietária de apenas 17 anos, de ter seu próprio empreendimento e de abraçar uma causa.“Eu não queria só empreender, queria um negócio com propósito”, explica.

Por isso, além de funcionar como café, o espaço tem parceria com uma ONG no cuidado de gatos abandonados e na divulgação da adoção deles. Até ganharem um novo lar, eles ficam confortáveis e com acompanhamento veterinário no espaço do Pet Café.

O carinho e cuidado com os animais é o princípio básico da casa não apenas no que diz respeito aos funcionários, mas também em relação aos clientes. “É lindo ver a interação dos pets e das pessoas. Me lembro de um dia entrar no café e ver as pessoas de mesas diferentes conversando umas com as outras por conta dos seus bichinhos, que brincam entre si”, destaca Catarina.

Cardápio especial

Na foto, o cachorro xaxá degusta a "macãorronada" do Pet Café

Victor Schwaner/Divulgação


No último mês, com a intenção de integrar ainda mais os animais, o café lançou um cardápio especial para eles. Se antes a única opção destinada aos pets era um picolé de iogurte com frutas, agora eles contam com um menu completo, com pratos, como a “Macãorronada”(R$ 30), composta por macarrão, carne bovina e legumes; petiscos, a exemplo da “Cãoxinha” (R$ 20), feita com batata-doce, frango e cúrcuma, e “vinho” e “cerveja” (R$ 25) sabor carne.

Catarina explica que, na verdade, ela sempre quis ter um cardápio especial como este para os bichinhos, mas, por questões burocráticas, demorou até conseguir implementá-lo. Uma das razões por trás desse atraso é a própria Instrução Normativa nº 17, de 7 de abril de 2008 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que resolve, em seu Artigo 1º, “proibir em todo o território nacional a fabricação, na mesma planta, de produtos destinados à alimentação de ruminantes e de não-­ruminantes (...)”, com apenas algumas exceções.

Por não conseguir, portanto, manusear alimentos para os animais dentro da cozinha do café, Catarina passou a buscar fornecedores de alimentação natural para pets. “Depois de muitos testes, encontramos o fornecedor que trabalha com a gente hoje. Contamos também com a atuação de uma nutricionista que aprovou todos os alimentos utilizados”, ressalta a proprietária.

Além da aprovação da especialista, os pratos também passaram pela avaliação de Charlie, de nove anos, e Pitoco, de 2 anos, os dois cães da raça Golden Retriever de Catarina. “Eles adoraram tudo, foram as nossas ‘cobaias’. Eu acredito muito na alimentação natural quando bem feita, tento implementar ela em casa também”, explica.

Com os itens do novo cardápio vindos de um fornecedor, o único procedimento que precisa ser feito no Pet Café é o aquecimento das comidas e a montagem, e eles são realizados em um espaço separado da operação da cozinha.


Pet friendly não basta

André Lopes e Frederico, seu cachorro de 11 meses, são clientes do Pet Café

Marcos Vieira /EM/DA. Press

Mesmo antes desse cardápio repleto de opções, o Frederico, um cachorrinho da raça shiba inu de 11 meses, já amava as idas ao Pet Café. Ele e seu tutor, André Lopes, têm o hábito de passear pelas ruas da Savassi, região onde moram e onde fica a cafeteria. “Até mesmo antes de eu ter o Frederico, eu ia ao Pet Café para brincar com os bichinhos, tomar um café e comer algo”, explica André, que não guarda elogios para o pão de queijo (R$ 5) e para a torta de leite Ninho com morango (R$ 25, a fatia) da casa.


O cliente ressalta ainda a atmosfera do café, que une pessoas com uma coisa em comum: o amor aos animais. “Existem muitos lugares que são pet friendly, mas que muita gente que frequenta não gosta ou não se sente à vontade com a presença dos animais. Para mim o diferencial do Pet Café é que todo mundo que vai lá já espera e, inclusive, deseja encontrar pets”, relata André.

Integração

Um dos maiores – senão o maior – pilar do Gennaro é a integração por meio da acessibilidade. A casa com nove anos de existência e inspiração italiana busca englobar o maior número de pessoas em seu ambiente, que oferece pratos a partir de R$ 35. Hoje, o restaurante já conta com três unidades: no Bairro Lourdes, no Belvedere e na Savassi, todos na Região Centro-Sul de BH.

Desde o início da marca, a proposta é oferecer comida e ambiente de qualidade com um preço justo. “A gente pensava: ‘porque um restaurante com o preço acessível não pode ter guardanapo de pano, cadeiras confortáveis ou um banheiro muito bom?”, relata Priscila Baeta, sócia do restaurante.

Há três anos, o restaurante deu mais um passo no quesito integração, e abraçou a ideia de um cardápio especial para os pets, que já eram bem vindos na parte externa dos restaurantes. “A inclusão está em todos os aspectos do Gennaro. Observamos que os clientes levavam muitas vezes seus animais de estimação para acompanhá-los na varanda, e pensamos em oferecer algo para eles também”, conta Priscila.

E eles não brincaram em serviço. A carta é extremamente completa. Oferece petiscos, como biscoitos naturais de diversos sabores (R$ 15,90); pratos de carne de boi ou frango, com batata-doce, cenoura e ervilha (R$ 29,90; cerveja (R$ 18,90) e vinho próprios para pets, com sabor carne, (R$ 24,90) e picolés de frutas, carne ou iogurte (R$ 6,90), como sobremesa.“Compramos os alimentos de fornecedores, já que não podemos manuseá-los aqui, mas prezo muito pelos insumos mais naturais possível”, explica a sócia.

Isso é uma prioridade para Priscila pois, na casa de seus pais, a alimentação natural para os cachorros sempre foi uma realidade. “Lá nenhum cachorro come ração, só alimentos naturais e eu acredito que esse seja o melhor caminho para os animais”.

Apesar de servirem esse menu especial, Priscila conta que eles já receberam animais inusitados, e que não comem esse tipo de alimento. “Uma vez um cliente chegou com uma cobra no pescoço. Claro, perguntamos se ela era dócil, e ele disse que sim. Ela, assim como os outros bichos, foi bem vinda e bem tratada”, relembra a sócia, que diz ter tomado um susto no primeiro momento.

Apresentado pelo pet

O picolé para pets é um dos itens favoritos de Ayla e Liz no cardápio do Gennaro. Na foto, o tutor Lucas Barbosa acompanha as cadelas

Marcos Vieira/EM/D.A Press

Ayla, uma cadela da raça Husky Siberiano de cinco anos, foi quem levou seu tutor, Lucas Barbosa, ao Gennaro pela primeira vez. “Adotei a Ayla no período da pandemia. Me lembro que, assim que a vida foi voltando ao normal, vi uma publicação do Gennaro no Instagram falando que eram pet friendly. Foi o primeiro restaurante que levei ela e, desde então, frequento a casa”, diz.

Lucas ressalta ainda que a possibilidade de levar Ayla e Liz, sua outra cadela da mesma raça, que tem três anos, é um grande diferencial. “Sempre fomos muito bem recebidos com elas no Gennaro e, na minha opinião, isso faz toda a diferença na hora de escolher onde almoçar, principalmente aos fins de semana, quando procuro passar mais tempo com as duas”.

Enquanto o picolé é o alimento favorito das cadelas no Gennaro, Lucas destaca que o pão de queijo frito recheado com muçarela de búfala acompanhado de ragú em seu próprio molho (R$ 36,90) tem um espaço especial em seu coração, assim como o risoto de frutos do mar, que leva camarões, lulas e tentáculos de polvo (R$ 60).


Inspiração australiana

Luiza Pimentel e seu marido passaram três anos morando na Austrália. Lá, ela se formou em gastronomia e se apaixonou pela cozinha. Depois de cerca de um ano da volta deles ao Brasil, em 2019, inauguraram o Uluru Café. A casa, que conta com duas unidades, uma no Bairro Funcionários e outra na Savassi (ambas na Região Centro-Sul), aliás, recebe esse nome em homenagem a um monolito localizado no Parque Nacional Uluru-Kata Tjuta, na Austrália.

Além de inspirar todo o conceito do café e o cardápio servido, o país da Oceania também inspirou Luiza a desenvolver um empreendimento que fosse pet friendly. “Todos os cafés e restaurantes lá são pet friendly. Desde que abrimos, recebemos pets em todo o salão, não apenas na varanda. O nosso público entende isso, até porque são, em sua maioria, famílias com crianças e animais de estimação”, explica a fundadora.

A opção de alimento para os pets, no entanto, chegou ao Uluru há cerca de três anos, quando Luiza começou a ver outros lugares fazendo isso e quis implementar em seu restaurante. “Procurei uma opção de alimento mais natural para servir lá”

A refeição que leva vegetais como batata-doce e cenoura, arroz e carnes de boi e porco (R$ 19) também vem de um fornecedor e é um sucesso no Uluru. “As pessoas acabam postando muitas fotos dos pets comendo essa comidinha, então se tornou até um marketing orgânico”, destaca Luiza.


Hospitalidade

Amora, de quatro anos, é muito bem-recebida no Uluru Café

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Amora, uma cadela da raça Lulu da Pomerânia de quatro anos, é cliente do Uluru. Ela e sua tutora, Bárbara Bagni, frequentam a casa pois, além do cardápio que as agrada, são muito bem tratadas por lá. “É um lugar que a gente se sente confortável, que sei que ela (Amora) é bem tratada e bem vinda, isso faz muita diferença quando você tem um cachorro”, conta Bárbara.

Ela, que é apaixonada pelo brunch (mistura de almoço com café da manhã) do Uluru, e destaca o cappuccino (R$ 14) e o eggs beny, pão com pasta de avocado, ovos pochê e molho holandês com bacon ou queijo canastra (R$ 36), diz gostar da opção de refeição servida para os animais. “Eu acredito muito nos benefícios da alimentação natural. A Amora chegou a se alimentar exclusivamente dessa dieta. Por conta de ter tido a doença do carrapato, tive que passar a dar uma ração especial, mas não deixei de oferecer alimentos naturais para ela”, destaca a tutora.

Só para os animais

A Pet Saúdavel surgiu há mais de 10 anos, quando pouco se falava sobre alimentação naturais para animais

Pet Saudável/Divulgação

O crescimento do mercado pet no Brasil, que, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos Para Animais de Estimação (Abinpet), faturou R$ 75,4 bilhões em 2024, também é refletido na criação de empresas que olham especialmente para os animais domésticos. A belo-horizontina Pet Saudável é exemplo disso.

A marca de alimentação natural para pets surgiu há mais de dez anos, quando esse tópico era pouco abordado no país. Mariana Fernandes e Jeanine Sacchetto, formadas em direito e biomedicina, respectivamente, se uniram para fundar a empresa por conta de seus cachorros, que tinham muitos problemas de saúde e não se adaptaram à ração tradicional.

Patrícia, cadela de Mariana da raça buldogue francês, apresentava uma gastroenterite crônica e o Ted, o shih tzu da Jeanine, tinha muitos problemas de coceira e otite de repetição. “No caso de cada uma de nós, o veterinário sugeriu a alimentação natural. Os resultados foram incríveis e quando a gente viu a transformação que a dieta natural poderia fazer na vida deles, oferecendo mais energia e diminuindo os problemas de saúde, percebemos que poderíamos mudar a vida de muitos pets e tutores que passam por situações parecidas”, explica Mariana.

Por isso, ambas se uniram nesse propósito, deixando de lado, inclusive, suas respectivas áreas de atuação. Hoje, a pet saudável comercializa alimentos próprios para cachorros e gatos em diferentes formatos, mas todos naturais. É possível encontrar, por exemplo, petiscos de fígado desidratado (R$ 30,90), chips de batata-doce (R$ 22,90) e até mesmo balas de colágeno (R$ 22,90).

As refeições prontas levam nomes de pratos feitos para humanos. “Isso é um jeito carinhoso de mostrar que os pets também merecem o melhor. A gente se inspira em pratos do nosso dia-a-dia e usamos ingredientes próprios e balanceados para eles”, explica Mariana.

Há opções para diferentes necessidades, como específicas para filhotes ou até mesmo para animais com diabetes, alergias, alterações no fígado, etc. A “moquequinha” de peixe (R$ 24,90), que é feita com vegetais e tilápia, é um exemplo de alimento que pode auxiliar pets com alergia. A marca também vende três tipos de “escondidinho”: de carne bovina (R$ 14,70), de frango (R$ 14,70) e de peru (R$ 16,50). Os produtos podem ser comprados pelo site ou loja da marca ou em alguns supermercados e lojas de produtos para pets de Belo Horizonte. 

Dificuldades

Ao longo de mais de uma década de atuação nesse setor, Mariana e Jeanine tiveram que lutar contra interesses de grandes empresas já consolidadas e contra a falta de informações.“Nosso maior desafio é que as pessoas aprenderam que: os animais só deveriam comer rações secas durante toda a vida”, diz a sócia-fundadora.

Ainda hoje, elas precisam defender a ideia de que, assim como os humanos, os animais se beneficiam muito com uma dieta o menos processada possível e, claro, pensada e elaborada exclusivamente para eles. “Há, inclusive, substâncias nas rações convencionais que não são nem permitidas para o consumo humano”, destaca Mariana.

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Serviço

Pet Café (@petcafebh)
Rua Sergipe, 1187, Savassi
(31) 98425-0092
De segunda a sexta, das 8h às 19h
Sábado e domingo, das 9h às 19h

Gennaro (@gennarorestaurante)
(Unidade Belvedere)
Rua Fausto Nunes Viêira, 103, Belvedere
(31) 3140-7400
De terça a quinta, das 18h à 00h
Sexta, das 12h às 16h e das 18h à 00h30
Sábado, das 12h à 00h30
Domingo, das 12h às 17h30

Uluru Café (@uluru.cafe)
(Unidade Funcionários)
Avenida Afonso Pena, 2925, Funcionários
(31) 99690-2908
Todos os dias, das 7h30 às 22h

Pet Saudável (@pet.saudavel)
Rua Belmiro Braga, 374 (Loja 1 e 2), Caiçaras
(31) 98248-5376
De segunda a sexta, das 8h às 18h

*Estagiária sob supervisão do subeditor Carlos Altman

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