Como parte da identidade da cozinha mineira, o tropeiro sempre tem lugar de destaque -  (crédito: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Como parte da identidade da cozinha mineira, o tropeiro sempre tem lugar de destaque

crédito: Ramon Lisboa/EM/D.A Press

A Praça da Liberdade é sempre convidativa. Um lugar para mineiros de todos os lugares e para turistas que visitam a capital. Programa certo para quem quer conhecer um pouco da alma do povo das Gerais. Neste fim de ano, ela se tornou ainda mais disputada, não só pela tradicional decoração de Natal, que nesta edição tem como tema "Natal da Mineiridade", mas por ter reservado um de seus cantos para o projeto "Gastronomia de Natal" que, bem ao estilo mineiro, oferece os quitutes da terrinha que são famosos pelo Brasil afora, mas recebe de braços e paladar abertos pratos de outras regiões do país e do mundo.

Então, quem for fazer uma "boquinha" na Praça, certamente terá o apetite aguçado pelo gasto de energia depois de passear pelas alamedas e canteiros se encantando com as luzes, passagens e toda a decoração preparada para a festa natalina. As guloseimas estão à espera da clientela todos os dias da semana.

Agora, não será fácil decidir qual prato, petisco ou salgado irá aplacar sua fome. O cardápio é variado, vai do tropeiro ao baião de dois, de empanada argentina ao acarajé baiano, churros, doces, sanduíches, mexido, crepe italiana, pastéis fritos na hora, sucos naturais e muito mais. E não poderia faltar alguma invenção ao estilo mineiro, como o pastelburguer. Ficou curioso? No lugar do pão, entra a massa de pastel, mais espessa, no formato do pão, mais arredondada, e o recheio é o autêntico hambúrguer, com o diferencial de ser hambúrguer artesanal. Vale descobrir o que é.

Pastel hambúrguer

O hambúrguer de pastel é uma proposta divertida e que vale degustar

Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Mauro Santos, gestor de comunicação e marketing da Comunicação Annaká, uma das empresas organizadoras do projeto, explica que o "Gastronomia de Natal" na Praça seguirá até o dia 6 de janeiro de 2024. São 24 barracas, que ficam abertas todos os dias, de domingo a domingo, das 18h à meia-noite.  

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"Este era um projeto pensado e idealizado há três anos que, agora, conseguimos colocar em prática, já que todos os interesses se alinharam e deu certo. É uma experiência, que será longa, quase 35 dias, mas já percebemos que conquistou os moradores de BH, turistas e as famílias que se reúnem para as festas de fim de ano. O espaço do "Gastronomia de Natal" é um lugar onde podem descansar um pouco da caminhada na praça, relaxar, comer coisas gostosas e diferentes. O diferencial é que apostamos em uma mistura culinária, não só a comida mineira. Tem desde o tropeiro até o pastel de jiló, produtos da nossa raiz, como o queijo Canastra, mel, pão de queijo, pastelburguer, mas também o acarajé baiano. Para todos os  gostos e paladares", destaca Mauro Santos.

O rei tropeiro

O chef Dindo conta que representa a culinária brasileira. Na Praça, sua barraca entrega pratos para lá de representativos da cozinha do país: "Temos o nosso rei, o tropeiro, que deveria ser tombado como patrimônio culinário de Minas; o baião de dois, prato nordestino, e o arroz de carreteiro, que é gaúcho".

Chef Dindo também preparou o porco espalmado à pururuca: "Ele é assado no processo da costela, do osso para a carne, e por 12 horas. A carne fica branquinha, úmida, bem suculenta".

Praça da Liberdade

A entrada da feira de comida 'Gastronomia de Natal' fica ao lado do Palácio da Liberdade

Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Mineiro de Carandaí, ele fez a vida profissional em São Paulo, onde, confessa, "sempre me senti um peixe fora d'água": "Acho que brasileiro conhece pouco da nossa culinária e esta oportunidade é um resgate da mineiridade, da essência, da raiz e é prazeroso ver as pessoas se emocionarem comendo um dos pratos. Um projeto especial, que deve permanecer e, claro, como toda novidade, ter ajustes, é natural. Ele beneficia a todos, quem trabalha, os moradores, turistas, a cidade. Complementa o encantamento das luzes da Praça da Liberdade. Financeiramente, movimenta a cidade. Só eu contratei quatro pessoas e sei que o açougue que me fornece teve de contratar mais dois funcionários para me atender. É uma cadeia", chama a atenção o chef Dindo.  

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Aline Silva, da Sabores da Lora, tem sua identidade marcada pelo estilo comida de boteco: "Como o tema do Natal é mineiridade, nada como levar para a Praça os sabores mineiros, o nosso paladar. Meu carro-chefe é o fígado com jiló marinado na cachaça". Ela também serve torresmo pururuca, com a pele desidratada, com a casquinha bem crocante, filé com fritas e batatas com vários molhos, como barbecue, cheddar, ketchup e "outros molhos especiais, segredo da casa", esconde Aline.

Quiabada no acarajé

Para Aline, o projeto veio para ficar: "Estou no ramo de rua há 10 anos, fazendo evento e este Natal está incrível. Uma oportunidade de visão empreendedora e para marcar nossa identidade, nome com produtos sofisticados nas barracas e não só a referência da maioria, que é o food truck. Financeiramente é ótimo, lugar especial para as pessoas comerem, confraternizarem. E muitas barracas dando toques especiais ao pratos, como a moça do acarajé que, em homenagem a Minas, colocou quiabo, fez uma quiabada, sensacional".

Aline se emociona ao falar do seu ofício: "Trago nos Sabores da Lora o amor que tenho por Minas. Cozinhar, principalmente, no arado me conecta com as origens que tenho como referência. Crescemos em volta dos fogões de lenha, vendo aqueles arados gigantes de trator, com as mais variadas comidas. E eu precisava dividir isso. Esse prazer que tenho de comer, de fazer. Hoje, consigo levar o mesmo sabor e amor da minha infância, da minha vó, da minha mãe para dentro de cada arado, de cada chapa que acendo. E ver a satisfação estampada no rosto dos meus clientes, ou ouvir qual o segredo do seu fígado é incrível". 

 

fígado com jiló

O fígado com jiló é o carro-chefe de Aline Silva, da Sabores da Lora, que empreende no ramo de comida de boteco há mais de 10 anos

Arquivo Pessoal


O acarajé não ia ficar de fora da comilança. Iguaria gastronômica das culinárias africana e afro-brasileira, o bolinho feito de massa de feijão-fradinho, cebola e sal, frito em azeite de dendê, é marcante na identidade da Bahia e os mineiros adoram. Em BH, Thais Fernanda Fernanda Oliveira Lima leva o "Acarajé da Tata" para degustação na Praça: "Fui selecionada pelos organizadores do evento a expor meus produtos e fiquei muito feliz por ser convidada. Era um sonho participar da luzes de Natal da Praça da Liberdade. Os clientes estão gostando do festival e demonstram satisfação com o evento por agregar muitas novidades gastronômicas".

Espetinho com água de coco

Na barraca da Tata, a clientela fiel e a nova encontram o acarajé tradicional e, com carinho e cuidado especial, "o de frango com quiabo, para agradar aos mineiros, e os alérgicos a camarão", destaca Tata, que também vende espeto de camarão, bolinho de feijão e água de coco.

Tata lembra que "minha mãe foi umas das primeiras a trazer acarajé para Minas, há mais de 30 anos. Já é a terceira geração nossa carregando essa cultura e cada vez mais os mineiros estão amando acarajé". 

Empanadas

A empanada, presente na cozinha Argentina, caiu no paladar dos mineiros e pode ser considerado um 'pastel de forno', recheado seja com carnes, vegetais, queijos ou frutas, assadas ou fritas e tem formato de meia lua e seu fechamento tem um enrolado característico chamado de ‘repulgue’, só possível fazer a mão

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
  
E quem gosta de novidade, algo diferente, Rodrigo da Silva Menezes, é um dos donos da empresa Vila das Frutas e está presente em uma das barracas no projeto. Ele trabalha com frutas exóticas e garante que o público gosta de encontrar e conhecer um produto diferenciado: "As mais exóticas são pitaia colombiana, ela é 10 vezes mais doce do que a nossa. A tâmara de Israel é a fruta com mais durabilidade do mundo, dura dois anos na geladeira. Temos maçã com morango, que é uma maçã vermelha por dentro. E a melancia com abacaxi, que é amarela por dentro, semente indiana".

Rodrigo revela que "estamos vendendo bem, mas temos custos extras, como aluguel da casa para eu e os meninos que trabalham comigo. As frutas que já são caras, ficam mais caras, mas a maioria do público compra e gosta muito".