"Uma advogada brilhante", comédia com Leandro Hassum, chega aos cinemas
No longa da diretora Ale McHaddo humorista vive advogado que decide se passar por mulher para garantir o emprego em escritório que terá 100% do quadro feminino
Mais lidas
compartilhe
Siga no
A parceria entre o ator Leandro Hassum e a realizadora Ale McHaddo – uma das poucas mulheres trans à frente da direção e produção cinematográfica no país – vem rendendo frutos há mais de 10 anos.
Leia Mais
O mais recente poderá ser saboreado pelo público a partir desta quinta-feira (6/3), com a estreia do longa “Uma advogada brilhante”. Pela chave da comédia, o filme discute questões de gênero.
A trama, escrita por McHaddo ao lado de Luiz Felipe Mazzoni e Cris Wersom, acompanha o advogado Michelle – com a pronúncia em italiano, “Mikele” – interpretado por Hassum. Por determinação da Justiça, ele tem que garantir o sustento da ex-mulher e do filho e tenta cumprir a missão de forma diligente, até o dia em que descobre que será demitido do escritório em que trabalha, pois somente as advogadas mulheres seguirão contratadas.
O que acontece, como de costume, é que seu nome enseja uma confusão e, para manter o emprego e conseguir pagar a pensão devida, ele é obrigado a assumir uma nova identidade: Dra. Michelle.
O elenco conta ainda com Claudia Campolina, Bruno Garcia, Marcelo Mansfield, Paulinho Serra e Olivia Lopes. Nany People e Danilo Gentili fazem participações especiais. McHaddo diz que um caso do qual tomou conhecimento há muito tempo foi o ponto de partida para o roteiro.
Troca de papéis
“É a história de um homem e uma mulher que trabalhavam juntos e tiveram os e-mails trocados. Com isso, o volume de produção dele, confundido com ela, teve um aumento expressivo”, conta.
“Além disso, ele teve que passar a negar convites insistentes para almoçar e expor suas ideias muito mais detalhadamente. Achei curioso e comecei a escrever sobre essa troca de papéis e as implicações disso, o que cabe aos homens e às mulheres em ambientes corporativos e o que é cobrado de cada um.”
Ela destaca que essa discussão acerca de gênero diz respeito a si própria, mas ressalva que o roteiro foi escrito antes de iniciar seu processo de transição, durante a pandemia. “O personagem do Leandro tem que se passar por mulher e sofre com isso. Escrevi essa história bem antes de fazer minha transição, mas posso dizer que, depois de o filme estar pronto, a Ale referendou muito do que o Ale tinha pensado. Voltei para o roteiro e acrescentei algumas coisas”, diz.
Ale observa que, em muitos aspectos, se viu na tela. “Logo após minha transição, passei por absurdos profissionais que nunca imaginei que poderiam existir. Comecei a ser interrompida em reuniões, precisava de mais argumentos para defender minhas ideias e insistir nas minhas escolhas. Tudo ficou mais difícil. Foi como abrir mão de superpoderes que eu nem sabia que tinha”, ressalta. Ela afirma que o humor a ajudou a superar os preconceitos que sofreu por ser uma mulher trans.
Parceria
“Acho que a comédia, que foi o caminho que escolhi, pode ser veículo para se tratar de assuntos sérios. Se o cinema tem o poder de discutir temas inconvenientes, a comédia pode ir além e desmontar preconceitos e conceitos equivocados com uma boa risada”, afirma.
Sobre a parceria com Hassum, a diretora conta que remonta à primeira metade da década passada, quando o convidou para emprestar a voz a um dos personagens da série de animação “Osmar, a primeira fatia do pão de forma”, que estreou em 2013.
A convivência durante a realização da série acabou estreitando os laços de amizade entre o ator e a diretora, que até então atuava apenas como roteirista e produtora. A estreia na direção foi em 2019, com “Amor dá trabalho”, estrelado por Hassum.
“Entre as gravações de um episódio e outro de 'Osmar, a primeira fatia do pão de forma', eu saía para fumar e ficava conversando com a Ale. Ela já tinha o roteiro de 'Amor dá trabalho' e me apresentou. Eu a incentivei a assumir a direção”, conta o ator.
Hassum comenta que, em seguida, fizeram outras duas comédias, “Amor sem medida” e “Meu cunhado é um vampiro”, que, nas semanas de lançamento, estiveram entre os 10 filmes mais assistidos da Netflix no Brasil, onde seguem disponíveis.
“Agora estamos com 'Uma advogada brilhante' e seguimos com o 'Osmar'. Somos amigos de longa data, então fica fácil trabalhar juntos”, diz. “É uma parceria gostosa e isso vai para o set de filmagens”, acrescenta Ale.
“UMA ADVOGADA BRILHANTE”
(Brasil, 2025, 96 min.) Direção: Ale McHaddo. Com Leandro Hassum, Paulinho Serra e Bruno Garcia. Estreia nesta quinta-feira (6/3), em salas dos complexos Cineart, Cinemark, Cinesercla e Cinépolis.
COMPOSIÇÃO DO PERSONAGEM
Humorista versátil, Leandro Hassum diz que não teve problemas para criar o advogado que, para se livrar de uma situação crítica, tem que se passar por mulher. Ele ressalta que o mais complicado foi a “parte estrutural” da composição da personagem Michelle.
“Todo mundo acha que o salto alto é o mais difícil, mas isso eu tirei de letra. O problema é o espartilho, que aperta tanto que parece que os órgãos vão mudar de lugar, o rim trocar com o estômago, o estômago trocar com o fígado. Outra questão é que filmamos num período muito quente, em São Paulo, então, com a maquiagem carregada, muitas roupas, cheguei a passar mal de calor na primeira semana”, recorda.