
Márcio Sampaio e o desafio à história da arte
Exposição do artista mineiro em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas mostra como ele lança mão de táticas que desafiam a perspectiva eurocêntrica
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Siga noComo alguns artistas questionaram a rigidez sistêmica de certas instituições culturais? Como criaram táticas para desafiar a história da arte, de viés eurocêntrico? Estamos familiarizados com os percursos e trajetórias dos artistas que tensionaram as estruturas coloniais?
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O curador Marconi Drummond prestou homenagem ao seu "mestre da vida", o artista, curador, crítico de arte e professor Márcio Sampaio, na exposição “Lavra Márcio Sampaio: Do todo, uma parte”, em cartaz na galeria do Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Trata-se de um percurso de investigação construído a partir de uma relação social de amizade, que transcendeu a dinâmica de professor e aluno. Com o tempo e dedicação, essa relação permitiu a criação de um olhar profundo sobre um arquivo extenso das artes realizadas a partir de Belo Horizonte.
As investigações de Márcio Sampaio envolvem o questionamento dos processos históricos da colonização e a colonialidade do saber no campo das artes. Ao longo de sua trajetória, ele problematizou as nomeações e construções atribuídas à produção artística.
Sua prática é marcada por um trabalho contínuo de montagem e desmontagem, revisitando e reconstruindo diversas referências culturais que fundamentam o pensamento artístico, tanto brasileiro quanto universal. O artista se preocupou em refletir sobre as origens indígenas da modernidade.
Tema central
Sampaio se tornou um investigador da antropofagia como uma fabulação filosófica e uma metodologia de pesquisa artística. A devoração, um tema central de sua obra, simboliza a transformação e a reflexão sobre os processos estruturais da colonialidade que moldam a história da arte.
Ele fez do pensamento indígena uma referência estética na construção da história da arte universal, utilizando falsificações táticas para questionar as imposições dos museus de arte de sua época. Para ele, era essencial remontar nossas narrativas culturais.
Como crítico dos regimes de opressão, Sampaio desenvolveu suas táticas de resistência não apenas em sua pintura, mas também por meio de seu engajamento no movimento do poema-processo, articulando redes de circulação de saberes, artistas e obras de arte.
Ele ocupou espaços culturais em sua cidade, museus e jornais, transformando-os conceitualmente e ampliando as perspectivas de suas coleções. Sua atuação foi crucial para atualizar, valorizar e incluir artistas contemporâneos tanto nos acervos quanto nas fortunas críticas dos cadernos de cultura e suplementos literários.
Pensamentos e caminhos
Inquieto com a construção da democracia, Sampaio criou projetos para a cidade, promovendo a circulação de ideias e possibilidades de apropriação da terra como natureza, floresta, lugar de memórias e saberes fundamentais para orientar a vida no planeta.
É um artista que desenhou pensamentos e abriu caminhos, sonhando com possibilidades para uma vida democrática. Após 40 anos da campanha Diretas-Já, é urgente ler, ouvir, ver e refletir junto aos artistas que trazem novas formas de viver o mundo em suas pesquisas artísticas. Que mundo democrático foi tecido por Márcio Sampaio?
A fabulação poética de Márcio Sampaio, ainda tão atual e necessária, nos ajuda a imaginar nosso tempo. Sua obra nos permite compreender sua trajetória nos mundos das artes, oferecendo alimento para as palavras que queremos escrever juntos sobre a crítica colonial. Em sua obra, há uma crítica à branquitude, à medida que questiona o modelo sistêmico das artes, estruturado no MoMA sobre a arte moderna.
O que é uma exposição? Como ocorre a musealização? Como se monta uma coleção de arte? São questões que permeiam suas pinturas, seus poemas, seus objetos e os mecanismos artísticos de ensino-aprendizagem criados pelo artista. A cada momento, Márcio Sampaio questiona seu público: De onde você me olha? Como a minha obra te vê? Qual será a parte que te teima, que te faz retomar a retomada democrática?
Em sua obra, Sampaio argumenta que a compreensão da experiência artística e da experiência democrática só é possível a partir da retomada indígena, das suas cosmopolíticas, suas cosmopercepções e de suas lutas por direitos e preservação das florestas, por meio das quais é possível circular o mundo.
“LAVRA MÁRCIO SAMPAIO: DO TODO, UMA PARTE”
Exposição em cartaz na Galeria do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Visitação de terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Até 9/3. Entrada franca.
*Doutora em História da Arte pela Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne e professora de Teoria, Crítica e História da Arte da Escola de Belas Artes da UFMG.