MÚSICA

Chico Lobo desafia inteligência artificial a simular o som da viola

Músico mineiro aprendeu a lidar com as redes sociais e aposta no alcance das plataformas, mas avisa: tecnologia não substitui o coração do violeiro

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Aos 60 anos, o compositor e violeiro Chico Lobo completa quatro décadas de dedicação à música. Dedicado à cultura popular de Minas, ele ganhou o apelido de “Trovador dos Sonhos”. Lançou 34 discos – o penúltimo, “Chico Lobo 60 anos”, trouxe parcerias com Maria Bethânia, MPB4 e Zeca Baleiro. Convidado especial do programa “EM Minas”, produção da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal Uai, ele falou sobre a trajetória musical e a relação do público jovem com a música caipira. Leia trechos da entrevista:

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Chico, 40 anos de carreira é tempo demais. Como foi o começo de sua carreira?

Papai me deu a primeira viola quando eu tinha 12 pra 13 anos. Vendo as folias de reis, fiquei muito impressionado com o som desse instrumento e decidi tocá-lo. Mas os anos de carreira começo a contar a partir do meu primeiro registro em show. Foi em 1981, no Teatro Municipal de São João del-Rei, minha cidade natal, com o grupo Mutirão. A gente cantava nossas primeiras composições e as músicas brasileiras de que a gente gostava. Éramos aquela meninada jovem que acreditava na música brasileira, a gente se encontrava diariamente para ouvir discos da Banda de Pau e Corda, do Quinteto Violado, os primeiros trabalhos do Fagner, do Zé Ramalho. Tenho ido a São João ultimamente e reencontrei a turma. Temos feito alguns ensaios e queremos fazer o mesmo show de 1981.

Em 2023, você lançou o disco “Chico Lobo 60 anos”, com vários convidados famosos. Qual foi o resultado dele?

Foi um disco muito bem recebido pela crítica do Brasil. Todos os convidados são ídolos que se tornaram meus amigos. Então, a gente tem o MPB4, grupo icônico que na ditadura cantou a liberdade no Brasil. Tem também Renato Teixeira, Zeca Baleiro e a nossa querida Maria Bethânia, que está cantando comigo pela segunda vez em um disco. Com ela foi especial, porque este disco é todo autoral, mas eu queria homenagear meus pais, Aldo e Nieta, os dois já estão no céu. Na infância, cantavam muito para mim a música “Meu primeiro amor”. Por isso convidei Maria Bethânia. Contei essa história para ela, que imediatamente aceitou. Ficou lindo a voz dela ao som da minha viola, muito singelo.

Você se dá bem com o streaming, as novas plataformas de lançamento de música?

Cheguei à conclusão de que a gente precisa se conectar com a atualidade, com o jovem, com as novas gerações, com as gerações dos meus filhos. Quero que eles escutem esta música, então fui aprendendo e hoje sou muito ativo nas redes sociais. No Instagram, respondo todo mundo, faço questão de eu mesmo administrar as respostas. Às vezes, minha filha Luiza, que está se formando agora em publicidade e propaganda, ajuda para que eu melhore as postagens, para que dê mais engajamento. Mas faço questão de estar ali. O grande segredo é levar meu público a me ouvir na plataforma. Hoje, pouca gente tem CD. A gente ainda faz, porque tenho público que gosta de consumir e ainda escuta, mas preciso que aquele que não escuta mais CD, em vez de só ouvir o que as plataformas colocam, pesquise lá Chico Lobo. Se ele vai no meu show e gosta de mim, tem de me ouvir na plataforma também.

Streaming dá mais dinheiro do que show?

Não. O show continua sendo a principal fonte de renda. Streaming, na verdade, nos projeta mais. Se antigamente eu vendia 3 mil CDs, hoje são 200 mil pessoas que me escutam, então dá essa amplitude. Mas o show, a estrada, é meu ganha-pão, é como crio meus filhos. Tudo o que conquistei é no braço da viola nos shows. 


Agora se produz e compõe música com inteligência artificial, a “IA”. Como você vê isso?

Até agora, não vi a inteligência artificial simular o som da viola. Isso é uma alegria muito grande. Ela já simulou piano, violoncelo, violino… Mas este som ela ainda não simulou. Penso que nenhuma inteligência artificial vai pegar o coração da gente. Quando componho música que fala do sertão, que utiliza metáfora para falar dos meus desejos, dos meus sentimentos, das minhas dores e alegrias, é o meu coração. A inteligência artificial não faz isso. Ela pega a música da moda, pega as palavras principais, vai fazendo um ajuntamento e sai uma música que se presta para ser de consumo rápido. Tenho certeza de que a música que eu faço vai ficar eternamente aí para que alguém possa ouvir.

Como é o seu relacionamento com a juventude? Seu trabalho não se enquadra na música de massa que está aí.

É um relacionamento muito bonito, de um respeito muito grande. A gente tem percebido que o público jovem tem aumentado. Talvez por causa da minha presença forte nas redes sociais, ele tem vindo. Muitos shows que a gente tem feito por aí tem sempre a presença de jovens. Ano passado, fiz um show muito interessante, no Tranquilo BH (projeto de sucesso da cena autoral independente). Cantei uma música que fiz para os meus filhos na época da pandemia, “O tempo é seu irmão”. Terminei a apresentação com aquela multidão de jovens cantando o refrão. Eles se identificaram. É uma viola que se conecta com a contemporaneidade.

Qual é o projeto com o qual você sempre sonhou e ainda não conseguiu fazer?

Quero fazer um disco infantil. Sempre tive um sonho de fazer o “Sertãozinho”, trazer essa linguagem para a geração menor. É um desejo que cresceu ainda mais agora que me tornei avô. 

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