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Estado de Minas TELEVISÃO

Globo terá protagonista negra em novela pela segunda vez seguida

Depois de Taís Araújo em 'Cara e coragem', Sheron Menezzes será a estrela de 'Vai na fé', próxima trama das 19h da emissora


27/11/2022 04:00 - atualizado 26/11/2022 03:17

Sheron Menezzes como sol, sorri e segura quentinhas no meio da rua em cena da novela vai na fé na globo
Em 'Vai na fé', Sheron Menezzes viverá Sol, mãe, guerreira e vendedora de quentinhas no Centro do Rio (foto: João Miguel Júnior/Globo)

Marcada para estrear em janeiro, a nova novela das 19h da Globo, "Vai na fé", terá pela segunda vez consecutiva uma pessoa negra como protagonista no horário. Depois de Taís Araújo em "Cara e coragem", em 2023 o público poderá ver Sheron Menezzes no papel principal da trama de Rosane Svartman, com direção artística de Paulo Silvestrini.

Sol, personagem de Sheron, levanta todos os dias antes das seis da manhã para trabalhar. Mulher de fé, mãe, guerreira, moradora de Piedade, bairro tradicional da Zona Norte do Rio de Janeiro ,é  vendedora de quentinhas no Centro da cidade. Ela, assim como milhões de brasileiros, sonha, luta e corre atrás. Sua trajetória dá o tom do enredo de “Vai na fé”.

Origem afro

O fato de haver, seguidamente, protagonistas pretas na mesma faixa de horário é inédito na emissora. Isso representa avanço, até onde se recorda Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela USP. "Realmente é totalmente nova essa visão. Felizmente, o Brasil começa a ganhar consciência de sua origem afro", afirma.

Na história das novelas, houve outros momentos em que o negro esteve à frente da dramaturgia, mas foram casos esporádicos. Em 1965, por exemplo, a atriz Iolanda Braga (1941-2021) se destacava pela TV Tupi em "A cor da sua pele" e deu o primeiro beijo inter-racial da televisão brasileira. A cena foi gravada com o ator Leonardo Villar (1923-2020). Vanguarda, Iolanda também foi a primeira mulher preta a fazer propaganda de produtos de beleza.

Em 1969, no folhetim "Vidas em conflito", da TV Excelsior, havia quarteto amoroso do qual fazia parte o personagem vivido pelo ator negro Zózimo Bulbul (1937-2013). Porém, naquela trama, como relembra Alencar, a negritude aparecia em forma de objetivação sexual. "Uma das personagens começava a namorar um negro como vingança para provocar a mãe, que se apaixonava pelo mocinho de Paulo Goulart (1933-2014)."

Depois disso, a Globo cometeu alguns erros em relação a essa temática. Um dos mais crasso foi quando, no mesmo ano de 1969, na novela "A cabana do Pai Tomás", Sérgio Cardoso, tido como maior destaque da dramaturgia naquele tempo, tinha de pintar o rosto de preto para viver o astro da narrativa, por uma imposição de patrocinador. A emissora optou pelo "black face" mesmo tendo nomes como Milton Gonçalves (1933-2022) à disposição.

Taís Araújo como Clarice em cena da novela cara e coragem na globo
Taís Araújo se divide entre a empresária Clarice e massagista Anita em "Cara e coragem" (foto: Fábio Rocha/Globo)

Diversidade

Mais recentemente, em "Segundo sol" (2019), a trama passada na Bahia não contava com negros no elenco, o que gerou protestos. "Cerca de 80% deste estado é composto por pretos e pardos. Como pode um país virar as costas para isso? A Globo aprendeu com o episódio", opina Mauro Alencar.

"Cara e coragem", atual novela das 19h, vai contra esse estigma e possui muitos negros no elenco, em papéis de poder. Um exemplo é Ícaro Silva, que vive o gestor de uma grande empresa ao lado da mãe, interpretada pela atriz Claudia di Moura. E a autora Rosane Svartman vai propor mais diversidade ainda com "Vai na fé", assim como já havia feito em "Bom sucesso" (2019), quando quis que em sua equipe fora de cena houvesse pelo menos um negro e uma mulher em cada setor.

Rosane Borges, ativista da causa, jornalista e pesquisadora da ECA-USP, avalia que tem constatado uma escala crescente de negros no audiovisual. "Vemos hoje novelas com percentuais numéricos mínimos de negros. Mas como antes isso não acontecia, é algo que deve ser celebrado como conquista do movimento mesmo estando longe do ideal", analisa ela ao comparar a atualidade com duas décadas passadas.
 
A pesquisadora completa que "é preciso ter uma reparação histórica para que negros, mulheres e membros da comunidade LGBTQIA+ participem do sistema de representação e possam projetar possibilidades". "Somos capazes enquanto seres humanos", finaliza. (Com redação)


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