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Estado de Minas ESPECIAL BELéM DO PARá

Amazônia paraense: sustentabilidade é o mantra de resistência dos povos da floresta

Em tempos de descaso com a natureza, ribeirinhos da Ilha do Combu - produtores de cacau e do açaí - dão aula de como preservar e cuidar do meio ambiente


postado em 01/10/2019 04:00 / atualizado em 02/10/2019 14:09

Conhecida como VenezaTropical, a Ilha do Combu atrai turistas interessados em viver a essência da alma da Amazônia(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Conhecida como VenezaTropical, a Ilha do Combu atrai turistas interessados em viver a essência da alma da Amazônia (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)


Saindo do porto fluvial de Belém, a lancha rápida atravessa, em 15 minutos,  as águas turvas, com correnteza forte, do Rio Guamá até chegar à Ilha do Combu. Durante o Círio de Nazaré, essa ilha conhecida como Veneza Tropical, é um dos destinos mais procurados pelos turistas que buscam o contato com a natureza e os poderes invisíveis da selva amazônica. 
 
Neste recanto natural vivem ribeirinhos e empreendedores, que extraem dos rios e das matas os alimentos nativos que ressaltam os sabores da rica culinária paraense. É o caso de Izete Costa, Dona Nena, que desde 2006 comanda uma produção de chocolate e cacau amazônico 100% orgânico
 
Internacionalmente conhecidos, os chocolates da Dona Nena são 100% orgânicos(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Internacionalmente conhecidos, os chocolates da Dona Nena são 100% orgânicos (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)

A história dela é consonante com a de tantas outras mulheres brasileiras. Verdadeiras guerreiras, que assumiram a responsabilidade de sustentar a família em regiões longínquas do Brasil continental. Dona Nena promove na Ilha do Combu um importante resgate da cultura e das tradições ribeirinhas. Uma voz que se destaca nos igarapés e nas matas na busca incessante de uma vida melhor para sua família e toda a comunidade sem agredir o meio ambiente. 
 
O Pará é o maior produtor de cacau do país(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
O Pará é o maior produtor de cacau do país (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
 
 
O trabalho de formiguinha de Dona Nena – Filha do Combu, na verdade começou há tempos. Ela e família produziam o chocolate bruto e orgânico e vendiam o precioso produto paraense para as fábricas em todo o mundo. Só em 2006, a empreendedora passou a vender, por conta própria, seus chocolates de sabor intenso com  textura mais arenosa na casa dela. 

 
Tempos depois, a carreira da chocolatier paraense ganhou status internacional com a parceria firmada com o chef Thiago Castanho, do badalado Restaurante Remanso do Bosque, em Belém. Hoje, com a alta demanda por seus produtos, a produção de dona Nena e sua equipe gira em torno 80kg por mês entre barras 100% cacau, pó de cacau, nibs (sementes de cacau fermentadas, secas, torradas e trituradas), brigadeiro em pote e outros produtos que são vendidos na lojinha no Combu e em alguns lugares em Belém.


Reagindo à samaúma

Turistas aprendem a importância da preservação durante o passeio ecológico no quintal da Dona Nena(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Turistas aprendem a importância da preservação durante o passeio ecológico no quintal da Dona Nena (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)

Após uma degustação dos produtos de Dona Nena, onde experimentamos o chocolate em pó, o bolo de tapioca e a geleia de cupuaçu nos aventuramos a conhecer a mata e a plantação de cacau nos fundos da casa-recanto. Andando poucos metros, nos deparamos com a gigantesca samaúma – a árvore símbolo representante da Amazônia. Com mais de 30 metros de altura, com aproximadamente 250 anos, a suntuosa guardiã gera contentamento naqueles que tocam seu tronco.  Sua base é tão grande que seriam necessárias 25 pessoas para poder abraçá-la por completo.
 
Apaixonada pelo Brasil, a blogueira holandesa Nienke visitou o Pará(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Apaixonada pelo Brasil, a blogueira holandesa Nienke visitou o Pará (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
 
Entre os convidados para viver a experiência da selva estava a youtuber Nienke Helthuis – a carismática jovem holandesa apaixonada pelo Brasil e por nossa cultura. Caminhando por entre a mata, debaixo de um calor de 34oC, a jovem, junto com seus empresários, é levada por guias locais até a majestosa samaúma. Ela se aproxima, toca no tronco da árvore da Amazônia e, em transe, cria-se uma conexão com os guardiães da floresta.

Em seu perfil nicenienke no canal de vídeos, ela se identifica da seguinte forma: “Em 2017, minha vida mudou completamente. Um dos vídeos do meu canal de YouTube ‘tentando falar português’ se tornou um viral! Muitas pessoas conheceram meu canal e em pouco tempo me fizeram uma das maiores influências digitais na Holanda e no Brasil!”. Atualmente, estão no topo de visualizações seus vídeos Reagindo à vai malandra e Meu primeiro vídeo inteiro em português. Ela agradece a popularidade e acrescenta: “Eu tive vídeos com uma música brasileira, experimentando novas comidas, e tendo alguns prazeres. Os fãs brasileiros são tudo isso, eles fazem tudo isso ser possível!”.
 
Serviço
Para conhecer o chocolate do Combu e experimentar essa delícia amazônica, Dona Nena oferece um passeio que inclui transporte, café da manhã e degustação do famoso chocolate. É preciso agendar com antecedência pelo telefone (91) 99388-8885 ou através do 
e-mail combuorganico@gmail.com.  
Para mais informações: www.facebook.com/donanenacombu 
 

Sintonia verde

 
Restaurante Saldosa Maloca foi um dos primeiros da Ilha do Combu(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Restaurante Saldosa Maloca foi um dos primeiros da Ilha do Combu (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Na porta de entrada do grande canal da Ilha do Combu, uma construção sobre palafitas “flutua” sobre as águas do Rio Guamá. No local, se encontra o Restaurante Saldosa Maloca (escrito com L mesmo), estrategicamente voltado para a Baía do Guajará, de onde se avista a cidade de Belém.
 
Para quem chega desavisado, ele não é um simples boteco suspenso que serve boa comida com temperos da Amazônia. É muito mais! Trata-se de um recanto de sustentabilidade sob o comando da chef paraense Prazeres Quaresma dos Santos, carinhosamente conhecida como Dona Neneca.
 
Tambaqui, um dos peixes servidos no restaurante paraense(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Tambaqui, um dos peixes servidos no restaurante paraense (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
 
Igualmente reconhecida como símbolo da mulher forte do Norte, Prazeres assumiu, há 35 anos, um pequeno bar herdado do pai e tio e transformou o local em um dos destinos mais procurados por turistas do Brasil e do exterior.  Segundo Prazeres, o nome adveio do fanatismo pelas músicas de Adoniran Barbosa e Nelson Gonçalves, ídolos dos fundadores da casa. “Meu pai e meus tios eram fãs desses cantores. Até que um dia, um dos meus tios disse: ‘Ah, por que a gente não coloca Saldosa Maloca? A casa é rústica, indígena e ficaria um nome bem legal’. Então, desde então, ficou conhecida assim”, disse.
 
Desde cedo, a preocupação da empreendedora ribeirinha, filha de caboclos, foi com a natureza ao redor. Numa placa cuidadosamente exposta no restaurante resume o sentimento de preservação com o meio ambiente. Como um mantra ou cântico xamânico as palavras soltam os olhos: reuse, recrie, repense, reveja e reviva.
 
Preocupação constante com a reciclagem em respeito ao meio ambiente(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Preocupação constante com a reciclagem em respeito ao meio ambiente (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)

Há muito tempo que todo o lixo do restaurante passou a ser reciclado. Hoje, as sobras de comida são depositadas em quatro usinas de biogás, onde a compostagem servirá como adubo para os canteiros de ervas, verduras e frutas e, o mais interessante, dali se extrai o gás usado no preparo dos alimentos.
 
Para Dona Neneca, os brasileiros precisavam vir à Região Norte e conhecer como vivem os povos da floresta. Entender a conexão dos ribeirinhos com as águas da Região Amazônica. “Dependemos dos nossos peixes e crustáceos para poder sobreviver. Cultivamos o açaí, o cupuaçu, o cacau e o bacuri da mesma forma artesanal que nossos antepassados. Tudo orgânico e natural. Sem a presença de agrotóxicos.  No nosso solo sagrado sinto uma tristeza da samaúma – a gigantesca árvore de 40 metros e mais de 400 anos, que é a representante dos povos  da Amazônia. Sinto que ela quer nos dizer algo:  que nós precisamos parar de maltratar os rios, as árvores, as matas agora.”

 


Berçário sagrado de aves

 
Vista panorâmica do parque ecológico Mangal das Garças (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Vista panorâmica do parque ecológico Mangal das Garças (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
 
 
Há quem diga que as garças estão de volta a Belém. A resposta é simples: elas reapareceram com a criação do Parque Naturalístico Mangal das Garças pelo governo do Pará, em 2005. Belém já era uma metrópole emoldurada pela floresta, mas algumas regiões estavam em completo abandono. O local logo se tornou um dos pontos turísticos mais elogiados da capital paraense.
 
Trapiche elevado é excelente para apreciar a rica fauna e flora dos manguezais (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Trapiche elevado é excelente para apreciar a rica fauna e flora dos manguezais (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
 
 
Nesse parque, que em algum momento nos faz lembrar o Museu de Inhotim, em Brumadinho, foi feita a revitalização de uma área de cerca de 40 mil metros quadrados às margens do Rio Guamá, nas franjas do Centro Histórico de Belém. O que antes era uma área alagada com extenso aningal transformou-se em um belo recanto na cidade. Ao entrar no berçário de tantas aves da Região Amazônica, o turista se depara com a rica diversidade da fauna e flora do Pará:  sobre a torre espetacular no centro do parque ou caminhando no trapiche elevado que nos leva até o Rio Guaíba, avistam-se matas de terra firme e de várzea. Neste local, em total sintonia com a natureza, contemplam-se lagos artificiais, iguanas, flamingos festivos, garças graciosas, além de aves nativas e borboletas multicoloridas.
 
Balé constantes das garças no paraíso verde paraense(foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
Balé constantes das garças no paraíso verde paraense (foto: Carlos Altman/EM/D.A Press)
 

Mais informações: www.mangaldasgarcas.com.br  
 

 
Veja amanhã o lado profano do Mercado Ver-0-Peso e os sabores da capital paraense


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