crianças não binárias de vista superior brincando com um jogo colorido

O estudo identificou que, em média, 75,6% das crianças foram envolvidas pelos cuidadores em ao menos quatro atividades de estímulo para o desenvolvimento, tais como ler livros, contar histórias, brincar, passear, cantar ou desenhar

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Nas capitais brasileiras, quase uma em cada quatro crianças tem atraso no desenvolvimento até os cinco anos de idade, mostra pesquisa do Ministério da Saúde. São crianças que não desenvolveram as habilidades ou não apresentaram os comportamentos esperados para a faixa etária. A incidência de atraso é ainda maior entre aquelas que estão em vulnerabilidade social e situação de pobreza e onde há registro de insegurança alimentar.

Os resultados mostram que 10,1% das crianças tinham atraso no desenvolvimento esperados até os três anos. Outras 12,8% tinham atraso entre três e cinco anos de idade. As duas faixas etárias somam 22,9% de crianças com atrasos no período que as pesquisas apontam como a "principal janela" de oportunidades para o aprendizado global. Nesses primeiros anos de vida, o cérebro se desenvolve mais rapidamente e está mais sensível aos cuidados e estímulos ambientais.

Os dados estão em uma pesquisa do projeto Primeira Infância para Adultos Saudáveis (Pipa), desenvolvido pelo ministério, e divulgados na manhã desta quarta-feira (25/10), no Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, em Brasília (DF). As informações foram coletadas em 2022 em 13 capitais do país. O estudo avaliou as condições de desenvolvimento de 13.435 crianças de zero a cinco anos.

 

O desenvolvimento infantil envolve quatro domínios relacionados a habilidades motoras, cognitivas, de linguagem e socioemocionais. Diversos estudos apontam que crianças com desenvolvimento saudável e em boas condições têm maior facilidade de adquirir conhecimento, o que contribui para que posteriormente obtenham um bom desempenho escolar, alcancem realização pessoal, vocacional e econômica e se tornem cidadãos responsáveis.

A pesquisa do Ministério da Saúde também revela como as desigualdades sociais afetam o desenvolvimento infantil. A incidência de atraso é maior entre as crianças cujas famílias mencionaram participar de programas sociais como o Bolsa Família, o que indica maior vulnerabilidade social.

Das crianças de famílias beneficiárias, na média geral, 15% tiveram atraso no desenvolvimento infantil esperado até os cinco anos. Entre as que não participavam de nenhum programa social a incidência de atraso foi de 9%. No grupo com condição socioeconômica mais vulnerável, a frequência de atraso é ainda maior, afetando 17% das crianças de até cinco anos com famílias beneficiárias.

"As desigualdades sociais podem criar barreiras significativas para os cuidadores em situação socioeconômica desfavorável, dificultando a oferta de atividades de estímulo adequadas às suas crianças, como ler ou olhar figuras de livros, contar histórias, cantar, passear, jogar ou brincar, nomear, contar ou desenhar", diz o relatório da pesquisa.

Entre as habilidades consideradas adequadas para cada faixa etária estão, por exemplo, que bebês de até seis meses sorriam e reajam a estímulos físicos ou consigam levantar a cabeça sozinhos. A pesquisa coletou ainda uma série de informações sobre a saúde, alimentação, cuidados e estímulos ofertados às crianças.

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O estudo mostra que 57,8% das crianças avaliadas seguiram com o aleitamento materno exclusivo até os seis primeiros meses de idade - ou seja, mais de 40% não tiveram a oportunidade de ser alimentadas no início da vida da forma como é recomendado por médicos e evidências científicas.

Também aponta que apenas 59,2% das crianças de até cinco anos tem garantida uma diversidade mínima na dieta, ou seja, que consomem ao menos seis grupos alimentares por dia (grãos, raízes, leguminosas, leite não materno e derivados, carnes e ovos, hortaliças e frutas).


Sobre os cuidado, a pesquisa também coletou de forma inédita dados sobre o uso de disciplinas punitivas para crianças nos primeiros cinco anos de vida. Os resultados identificaram que 35% dos cuidadores revelaram dar palmadas como medida educativa e 33% admitiram gritar com as crianças.


Também identificou que, em média, 75,6% das crianças foram envolvidas pelos cuidadores em ao menos quatro atividades de estímulo para o desenvolvimento, tais como ler livros, contar histórias, brincar, passear, cantar ou desenhar.