psicóloga Renata Borja

A psicóloga Renata Borja diz que a paciência é uma habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida

Jair Amaral/EM/D.A Press


A psicóloga Renata Borja, especialista em terapia cognitivo-comportamental (TCC) e mestre em relações interculturais, explica que o segredo da paciência envolve capacidades como: reconhecer os limites da situação e das outras pessoas; ter flexibilidade e habilidade para modificar pensamentos negativos e transformá-los em pensamentos mais otimistas; ter capacidade de reconhecer as próprias emoções e saber utilizá-las de forma construtiva a seu favor; focar nas ações e decisões que estão sob o seu controle, abrindo mão de querer controlar o incontrolável (o futuro, as pessoas, as situações, os comportamentos, pensamentos alheios etc.); focar no momento presente e nos recursos possíveis e disponíveis, abrindo mão da preocupação, que somente nos tira a energia e disposição e nos faz sentir mal.

Ter autocuidado, cuidar da alimentação, um sono de qualidade, fazer atividade física, dedicar tempo à família e amigos, cuidar dos relacionamentos afetivos e amizades e praticar gratidão, generosidade, compaixão e autocompaixão, segundo a psicóloga, fazem parte de quem busca a paciência. “Exercitar a espiritualidade, fazer meditação, praticar atividades prazerosas ou ter um hobby, trabalhar de forma equilibrada e fazer algo que traga sentido e realização (pode ser em casa, no trabalho ou como voluntário) vão ajudar a pessoa a ser mais paciente.”

Ansiedade e raiva 

Renata Borja explica que a paciência é uma habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida. Para isso é necessário, em primeiro lugar, que a pessoa aprenda a observar as situações-gatilho que costumam deixá-lo impaciente. “A impaciência tem relação com duas emoções principais: ansiedade e raiva. Na ansiedade, ela está relacionada com o risco de perder um prazo, com a pressa e o desejo de ter respostas com rapidez. Já a raiva está relacionada com impedimentos e regras violadas por si mesmo ou outras pessoas.”

A psicóloga destaca que ansiedade e raiva são emoções naturais que podem ajudar dependendo da forma como são utilizadas. “As situações-gatilho costumam se repetir e, quando identificadas, podem preparar a pessoa para lidar melhor numa próxima oportunidade. Entretanto, para fazer isso, não é necessário remoer, nem se preocupar. Ficar questionando o porquê, o como, o quê e o que ocorrerá não ajuda. Só torna a pessoa mais ansiosa e raivosa. O ideal é aceitar ou compreender que situações desconfortáveis e frustrantes vão nos ocorrer e que isso faz parte”.



Renata Borja lembra que a vida é difícil mesmo e ninguém tem o controle de tudo que gostaria: “Podemos ter expectativas sim, mas expectativas otimistas e realistas. Expectativas com chances de cumprir. É preciso focar nos recursos internos e externos diante de cada situação. Um exercício poderoso é distinguir o que tem controle e o que não tem e focar no que há controle, usando dedicação, esforço e empenho no que depende de você. É importante lembrar que não temos o controle das situações, dos resultados, do futuro, das pessoas e dos comportamentos e pensamentos alheios. Nem mesmo dos nossos pensamentos automáticos e das emoções que sentimos. Entretanto, temos um certo controle do que faremos com o que pensamos e do que faremos com o que sentimos”.

Cobrança e frustração 

mulher mostrando relógio

Na ansiedade, a impaciência está relacionada ao risco de perder um prazo, além do desejo de ter respostas com rapidez

Khamkhor/Pixabay
A psicóloga enfatiza que se cobrar para ser mais paciente não o fará mais paciente: “A cobrança interna gera mais frustração e reforça o comportamento impaciente. Por isso, muitas pessoas acabam se frustrando quando tentam uma mudança de comportamento. Nesses casos, recomendo que a pessoa se desculpe com outras pessoas, se for o caso, e tenha autocompaixão quando esses eventos frustrantes ocorrerem. Uma boa dica é exercitar mais a gratidão, generosidade, perdão e outros comportamentos que promovam o crescimento, autocuidado e desenvolvimento e amadurecimento”.

No mundo atual, paciência é um ativo do mais alto valor: “Sim. Principalmente no que se refere ao comportamento no ambiente de trabalho, na vida pessoal e frente as redes sociais. A falta de paciência pode acarretar em conflitos no ambiente de trabalho com erros, atrasos e dificuldades alheias, o que consequentemente pode gerar demissões dos impacientes ou alta rotatividade de funcionários de gestores. Na vida pessoal, a redes sociais podem gerar conflitos nos relacionamentos afetivos e inimizades. Pessoas impacientes também incorrem no risco de más decisões em razão da impulsividade e falta de tolerância”.

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Renata Borja enfatiza que pessoas mais pacientes costumam ser mais serenas e afáveis e têm melhores relacionamentos. “De acordo com uma pesquisa longitudinal de Harvard, o que leva uma vida boa são os bons relacionamentos e, portanto, pessoas mais pacientes provavelmente terão maior habilidade de manter relacionamentos. Além disso, as mais pacientes sofrem menos com os empecilhos e imprevistos, além de terem uma maior habilidade de gestão emocional e consequentemente de boas decisões.”

Sem falar que a impaciência geralmente é uma reação à raiva e à ansiedade que acompanhada de comportamentos disfuncionais como brigar, discutir, cobrar, julgar, ameaçar, culpar, agir por impulso, ruminar, preocupar e precipitar-se: “Pessoas impacientes são exigentes e querem respostas rápidas desconsiderando as condições reais das situações. Por isso, acabam se frustrando mais e sofrendo mais. A grande maioria dos pacientes com transtornos psicológicos apresentam intolerância à frustração e, consequentemente, comportamento impaciente. Exercitar a paciência, portanto, contribui para o bem-estar e pode ser um grande recurso para o tratamento dos mais diversos transtornos”.