Voluntários receberam o muvalaplin ao longo de 14 dias e não apresentaram efeitos adversos significativos: equipe prepara novos ensaios
Um medicamento descoberto por pesquisadores da Universidade Monash, na Austrália, poderá oferecer um tratamento inovador para quem tem altos índices de lipoproteína(a), uma forma de colesterol que aumenta o risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral. Conforme o ensaio, detalhado, nesta segunda-feira (28/08), na revista Jama e apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, o muvalaplin é o primeiro remédio oral desenvolvido para atingir a Lp(a), reduzindo em até 65% os níveis da substância no organismo.
O líder do estudo, Stephen Nicholls, explica que, nos últimos 10 anos, os institutos de pesquisa têm trabalhado para encontrar uma solução direcionada para tratar a Lp(a). No entanto, os avanços alcançados, até agora, têm sido difíceis de serem administrados, como terapias no formato de injeções, ainda não disponíveis.
"Nossos médicos não têm ferramentas eficazes para agir. Essa droga é uma virada de jogo em mais de um aspecto. Não só temos a opção de reduzir uma forma indescritível de colesterol, mas poder administrá-la em um comprimido oral significa que será mais acessível aos pacientes", enfatiza, em nota, também cardiologista e diretor do Victorian Heart Institute da Universidade Monash.
Motivação genética
O estudo mostra que medicamentos que são normalmente utilizados para reduzir o LDL não têm o mesmo efeito sobre a Lp(a). O desequilíbrio nesse tipo de colesterol tem grande motivação genética. Além disso, a lipoproteína(a) é difícil de controlar através de uma dieta balanceada, exercício e outras mudanças no estilo de vida.
Thiago Germano Siqueira, cardiologista do Hospital Anchieta, em Brasília, narra que o risco cardiovascular associado à lipoproteína(a) se dá devido a sua ação lesiva às células endoteliais, que revestem internamente os vasos sanguíneos e linfáticos. "Altos níveis de Lp(a) podem levar ao aumento da formação de aterosclerose e também a alguns casos de estenose aórtica, que é o estreitamento anormal da válvula aórtica, no coração".
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Para avaliar a capacidade da droga experimental, os cientistas incluíram um total de 114 participantes. Desses, 89 receberam muvalaplin e 25, um placebo. Entre os voluntários, uma parte recebeu uma única dose do composto, enquanto outras várias doses ao longo do período do estudo. Os resultados obtidos indicam que a droga foi bem aceita e tolerada, também não foi registrada ocorrência de eventos adversos graves relacionados ao tratamento.
Além disso, observou-se que a ação do medicamento se deu de maneira previsível e proporcional à dose administrada. A redução nos níveis de Lp(a) variou conforme a quantidade de remédio ingerida pelos participantes, alcançando uma redução de até 65% da substância após a administração diária durante 14 dias.
Complementar
Lorena Balestra, nutróloga e endocrinologia, acredita que a redução de Lp(a) poderá ser uma abordagem complementar às terapias existentes para a redução do risco cardiovascular, assim como acontece com o controle da pressão arterial e a promoção de um estilo de vida saudável: "Se o muvalaplin for eficaz e sua segurança, comprovada, isso poderá ser benéfico para a população em geral, especialmente para aqueles com risco de doenças que afetam o coração e o sistema circulatório", avalia. "Mas, como sempre, é importante ponderar: a decisão de prescrever essa medicação dependerá de uma avaliação individualizada de risco, considerando fatores como histórico médico, idade, sexo e outros fatores."
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Siqueira reforça a importância da terapêutica: "Essa nova medicação atua diretamente na inibição da produção da lipoproteína(a), e isso muda o jogo para os pacientes. Antigamente, a gente não tinha como tratar mesmo sabendo do risco adicional cardiovascular relacionado à lipoproteína. E, agora, com essa nova droga, será possível tratar esses indivíduos que apresentam essa condição genética de aumento da Lp(a)."
Apesar dos resultados positivos obtidos, os pesquisadores pontuam que é necessário novos testes, e que ainda não é possível saber se a redução de colesterol provocada pelo novo remédio vai diminuir o risco cardiovascular. Isso porque o ensaio envolveu um número limitado de participantes e foi de curta duração.
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