lupa olhando neurônios coloridos, nas cores azul e vermelho

Estudo, divulgado na revista Nature Neuroscience, revelou que a dor crônica está relacionada a variações elétricas no córtex orbitofrontal, região envolvida na regulação emocional, autoavaliação e tomada de decisões

Gerd Altmann/Pixabay
Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram registrar os padrões de atividade cerebral associados à dor crônica, o que pode levar ao desenvolvimento de dispositivos implantáveis capazes de prever e até mesmo bloquear sinais de dor no futuro. Por meio da utilização de um dispositivo similar a um marca-passo, implantado cirurgicamente no cérebro, os cientistas analisaram quatro pacientes que sofriam de dores contínuas nos nervos por mais de um ano. Os dispositivos registraram informações várias vezes ao dia durante seis meses, fornecendo indícios sobre a localização da dor crônica no cérebro.

O estudo, divulgado na revista Nature Neuroscience na segunda-feira (22), revelou que a dor estava relacionada a variações elétricas no córtex orbitofrontal, região envolvida na regulação emocional, autoavaliação e tomada de decisões. A pesquisa indica que esses padrões de atividade cerebral podem ser usados como biomarcadores para direcionar o diagnóstico e tratamento de milhões de pessoas que sofrem de dores agudas ou crônicas associadas a danos no sistema nervoso.
Neste estudo, Prasad Shirvalkar, neurologista da Universidade da Califórnia em San Francisco, e sua equipe utilizaram eletrodos para medir a atividade coletiva de milhares de neurônios próximos aos eletrodos implantados. Os dispositivos foram cirurgicamente implantados em quatro indivíduos que vivenciavam dor há mais de um ano e não conseguiam alívio com medicamentos. Para três dos pacientes, a dor teve início após um acidente vascular cerebral (AVC), enquanto o quarto paciente sofria de dor do membro fantasma após a amputação de uma perna.
 
Os pacientes atribuíam uma pontuação à dor que sentiam pelo menos três vezes ao dia, e em seguida, acionavam seus implantes para registrar os sinais cerebrais durante 30 segundos. Os pesquisadores inseriram eletrodos em duas áreas do cérebro: o córtex orbitofrontal, pouco estudado na pesquisa da dor, e o córtex cingulado anterior, área envolvida no processamento de sinais emocionais. Os cientistas alimentaram os dados das pontuações de dor dos pacientes e os respectivos sinais elétricos em modelos de aprendizado de máquina, que conseguiram prever estados de dor crônica alta e baixa com base apenas nos sinais cerebrais.

Os pesquisadores descobriram que determinadas variações de frequência no córtex orbitofrontal eram os melhores indicadores de dor crônica. Embora essa assinatura cerebral seja comum entre os pacientes, Shirvalkar ressaltou que cada um deles também apresentava atividade cerebral única. 'Cada paciente realmente tinha uma impressão digital diferente para sua dor', afirmou.