Imagem de um cérebro

Imagem de um cérebro

Pixabay

Pesquisadores da Penn State College of Medicine identificaram um biomarcador que pode ser usado em exames de sangue para diagnosticar o glioblastoma (GBM), o tipo de câncer cerebral mais comum e mortal, e rastrear sua progressão para orientar o tratamento.

Para tal, eles recrutaram pessoas portadoras do GBM e indivíduos saudáveis, separando-os em dois grupos. Em até 75% desses tumores, há expressão em quantidade aumentada do receptor chamado variante alfa-2 da interleucina 13 no tecido tumoral. Sabendo disso, os investigadores avaliaram se, de alguma forma, era possível medir de uma maneira menos invasiva esse marcador para realizar o diagnóstico e o seguimento da doença.

O resultado do estudo demonstrou que pessoas portadoras de GBM têm níveis elevados desse receptor na corrente sanguínea em comparação a indivíduos saudáveis. E, além disso, os níveis plasmáticos elevados apresentaram uma associação com melhor expectativa de vida, cerca de seis meses e meio a mais do que aqueles com baixos níveis.

Os autores pontuam que pode ser realizada uma "biópsia líquida" para dosar esse marcador, trazendo informações sobre a gravidade da doença e talvez, no futuro, uma possibilidade de auxílio também no diagnóstico.


Segundo Felipe Mendes, neurocirurgião e membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia,  existem vários tipos de tumores que podem afetar o sistema nervoso central.  Entre os tumores primários - aqueles cujas células são derivadas do próprio sistema nervoso - o glioblastoma multiforme, conhecido pela sigla GBM, é o mais comum e, infelizmente, o mais agressivo. 

"A taxa de sobrevivência em 5 anos é de menos de 5%. Sua forma de apresentação e a expectativa de vida dependem de alguns fatores como o tamanho da lesão, a localização dentro do sistema nervoso, tempo de início do tratamento, idade ao diagnóstico e as condições de saúde prévias.

Atualmente, de acordo com o especialista, o tratamento padrão envolve a ressecção (retirada) cirúrgica associada à radioterapia e à quimioterapia - sendo a temozolamida o medicamento mais utilizado. "Nos últimos anos, outros agentes quimioterápicos foram acrescentados ao tratamento e, ainda mais recente, surgiu a possibilidade do uso do TTF - sigla em inglês para Tumor Treating Fields - um dispositivo em formato de capacete que cria campos magnéticos interferindo na capacidade de divisão das células tumorais", comenta.

De acordo com o Felipe Mendes, até o momento, a abordagem inicial quando há uma suspeita de um tumor cerebral é realizar exames de imagem como tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Esses exames têm importância no diagnóstico, auxiliando também na programação cirúrgica, além de serem utilizados para avaliar se a doença está sob controle ou apresenta alguma evolução.

Contudo, em alguns casos, como explica o neurocirurgião, pode haver alterações nos exames de imagem em decorrência da radioterapia ou do tratamento quimioterápico, o que pode, de certa maneira, confundir a equipe médica assistente, causando dificuldade para avaliar se houve uma progressão da doença com necessidade de nova cirurgia ou mudança da programação de medicamentos ou se é apenas um efeito secundário ao tratamento.

Felipe Mendes acredita que tal descoberta como a dos pesquisadores de Penn State College of Medicine podem trazer ganhos, tais como a possibilidade de realizar um teste de forma mais cômoda e menos invasiva, já que muitas pessoas se sentem desconfortáveis ao realizar um exame de ressonância magnética, por exemplo. 

Além disso, ele pontua que isso permite incluir uma ferramenta a mais para auxiliar na condução da doença, ajudando a diferenciar, nos casos em que as imagens são duvidosas, se houve progressão do tumor ou foi um efeito do tratamento.

"Outro ponto positivo é a possibilidade de dar mais informações sobre o prognóstico, ou seja, ajudar a diferenciar se será um tumor mais ou menos agressivo. E, por fim, abre caminho para começar a estudar formas de desenvolver novas terapias específicas focadas nesse receptor."
 
É importante ressaltar que esse novo possível teste não pretende substituir os exames de imagem, mas sim atuar de forma complementar para trazer maiores ganhos de eficiência, conforto e segurança para todas as pessoas que sofrem desse grave problema.