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Estado de Minas XADREZ POLÍTICO

Eleição interna da Câmara de BH expõe divisão entre vereadores; entenda

Vereador do PSD, partido de Fuad, deu voto de minerva que garantiu vitória da chapa opositora à PBH; agora, discurso de ambos os lados é pacificar ambiente


12/12/2022 15:31 - atualizado 12/12/2022 18:54

Gabriel Azevedo é erguido por colegas no plenário da Câmara de BH
Gabriel Azevedo foi eleito presidente da Câmara de BH por um voto de diferença (foto: Jair Amaral /EM/D.A Press - 12/12/22)
A vitória por um voto do vereador Gabriel Azevedo (sem partido) na disputa pela presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), nesta segunda-feira (12/12), expôs a divisão vista no Parlamento da capital mineira desde o início do ano passado.

Eleito com o apoio dos colegas que compõem o grupo ligado ao deputado federal Marcelo Aro (PP), Gabriel teve 21 votos - contra 20 de Claudiney Dulim (Avante), apoiado pelo prefeito Fuad Noman (PSD). O voto decisivo foi dado por Ramon Bibiano da Casa de Apoio, do mesmo partido de Fuad, que, para surpresa da prefeitura, quis seguir com Gabriel - a decisão foi interpretada por aliados do prefeito como um movimento fruto de coação.

Passada a disputa, interlocutores de lado a lado admitem a necessidade de buscar formas de pacificar o ambiente na Câmara Municipal. A eleição desta segunda, vale lembrar, ocorreu em meio ao debate sobre um pedido de impeachment contra Fuad Noman. A peça acusa o prefeito de cometer "nepotismo cruzado" por cogitar nomear, na estrutura do Poder Executivo municipal, pessoas ligadas a vereadores.

Gabriel, que já se reuniu com o prefeito após a vitória, chamou o processo de afastamento de "baboseira" e afirmou que não vai dar andamento ao tema. (Leia, ao fim deste texto, um miniperfil do eleito)

Embora admita as turbulências, o novo presidente, que toma posse em janeiro, disse vislumbrar águas mais calmas a partir de agora. "A eleição ficou para trás. A partir da semana que vem, vou convidar os 40 vereadores para dizerem o que esperam de mim, como posso ajudá-los e quais problemas da cidade vamos resolver", garantiu, após o triunfo.

"Vou trabalhar com o prefeito para resolver os problemas da cidade. "Há um subsídio de ônibus que vence em duas semanas. Temos de tomar juízo com ele. Precisamos resolver (questões sobre) pobreza e saúde", pontuou.



Nas contas de Wanderley Porto (Patriota), vice-líder do governo de Fuad Noman na Câmara, a prefeitura trabalha para ter o apoio formal de cerca de 30 dos 41 vereadores. Claudiney Dulim, o candidato derrotado, reconhece que a prefeitura pode ter mais dificuldades na busca pela aprovação de projetos, mas aponta o diálogo como caminho para superar os entraves.

"(Vamos) trabalhar no sentido de reunificar a Casa, que está dividida. É fato. Nosso trabalho, agora, orientado pelo prefeito, é fazer com que a Casa possa convergir e seguir um caminho de harmonia e tranquilidade", prometeu. "Temos a Reforma da Previdência dos Servidores e a Reforma Administrativa da Prefeitura. Para o ano que vem, temos de começar a rediscutir o subsídio às empresas de ônibus. São discussões seríssimas, que travam a cidade - ou fazem com que ela possa andar", emendou.

Xadrez político muda na reta final das conversas

Gabriel Azevedo chegou a admitir publicamente que conversava com os dois lados da disputa sobre sua candidatura. No fim das contas, uma articulação o levou para o lado de Marcelo Aro, a quem agradeceu após a vitória. O movimento fez com que Juliano Lopes (Agir), inicialmente apontado como concorrente inicial do grupo, ficasse com a vaga de vice na chapa de Gabriel. Segundo Juliano, um acordo já costurado fará com que ele substitua Gabriel na presidência em 2024.

Ex-juiz de futebol e presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Mineira de Futebol (FMF), ele disse ter aberto mão de liderar a chapa para preservar a "independência" do poder Legislativo belo-horizontino. "Meu ego não pode ser superior a uma Câmara independente", explicou.

O papel de Marcelo Aro na Câmara Municipal é publicamente reconhecido entre os vereadores de seu grupo. Antigo aliado do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), com quem rompeu no início do ano passado, ele é, agora, um dos principais articuladores do governador Romeu Zema (Novo) — disputou vaga no Senado Federal com o apoio dele, inclusive.

De acordo com Gabriel Azevedo, Aro procurou Fuad em busca de construir tratativas por um nome de consenso na disputa pelo Executivo municipal, mas não houve acordo - isso porque, segundo o presidente eleito, o prefeito teria vetado seu nome.

O Estado de Minas procurou a equipe do prefeito Fuad Noman para saber sobre o suposto veto a Gabriel. Instantes após a queixa pública, o presidente eleito foi à sede da Prefeitura para se reunir com Fuad. Juntos, eles gravaram um vídeo em tom de convergência entre os Poderes.

À reportagem, Fuad mostrou otimismo com o mandato do novo presidente. "Tenho certeza que o vereador Gabriel, eleito presidente da Câmara, vai empenhar ao máximo para construir uma cidade melhor para a população. Os poderes são independentes entre si e respeito o processo e o resultado das eleições. Com certeza, com pessoas que amam Belo Horizonte, vamos fazer uma cidade melhor e mais feliz", assinalou


Vereador do PSD decide eleição para chapa rival

O plano inicial da Prefeitura de BH era ter o líder do governo Fuad, Bruno Miranda (PDT), como candidato à presidência da Câmara. Para ampliar o leque de apoios, contudo, a estratégia mudou e o escolhido foi Claudiney Dulim. No meio do caminho, um percalço: a decisão do pessedista Ramon Bibiano de escolher Gabriel.

O movimento de Bibiano pegou de surpresa os aliados de Fuad. Léo Burguês (União Brasil) chegou a dizer que o colega estava sendo pressionado a votar na chapa apoiada pela atual presidente da Câmara, Nely Aquino (Podemos), que caminhou com Gabriel.

"O vereador não podia conversar. Queríamos entendê-lo. Até ontem, ele tinha declarado apoio ao nosso lado. Era natural, uma vez que ele é do partido do prefeito", lamentou Wanderley Porto.

Segundo os aliados de Nely, não houve coação e Bibiano não foi trancado em uma sala. Eles afirmaram que, na verdade, o grupo estava reunido para uma oração antes da votação. Bibiano votou cercado por diversos colegas. Nely Aquino chegou a pedir a seguranças para protegê-lo.

"Agradeço a Deus por esse momento. Agradeço ao PSD por ter me acolhido nestes dois mandatos, mas meu voto é pela liberdade: chapa dois (a de Gabriel)", falou ele, ao votar. 

Eleito está sem partido há quase dois anos

Vereador em segundo mandato, Gabriel Azevedo foi um dos artífices da primeira campanha de Alexandre Kalil à prefeitura. A relação deles foi marcada por idas e vindas e embates públicos. Em sua primeira eleição, Gabriel era filiado ao extinto PHS; em 2020, estava no Patriota.

Em junho do ano passado, contudo, deixou o partido - ele tinha acordo de independência com a sigla, mas saiu em meio a acusações feitas pela agremiação por críticas reiteradas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que, à época, cogitava ingressar na legenda.

Gabriel tem trajetória política ligada ao PSDB. Ele compôs a "Turma do Chapéu", coletivo de jovens que apoiou os ex-governadores mineiros Aécio Neves e Antonio Anastasia. 


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