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Estado de Minas CHECAMOS

Dados de casos e mortes globais de covid-19 não indicam ineficácia das vacinas, dizem especialistas

Publicação em redes sociais diz em tom irônico que vacinas não estariam reduzindo número de casos e mortes, mas isso é enganoso


02/12/2021 20:55 - atualizado 03/12/2021 09:01

Circula nas redes sociais desde o dia 26 de novembro de 2021, com mais de 1.800 interações, uma publicação dizendo em tom irônico que as vacinas não estariam reduzindo o número de casos e de mortes por covid-19 ao redor do mundo.

Mas isso é enganoso. De acordo com especialistas consultados pela AFP, essa análise global para avaliar a eficácia dos imunizantes contra o SARS-CoV-2 é equivocada, por desconsiderar as especificidades de cada país. E afirmam também que as vacinas funcionam, sim, para evitar o avanço do vírus.

“‘Vacinas reduziram o número de casos e mortes por Covid19’. Çerto”, diz uma publicação compartilhada no Twitter que acompanha capturas de tela de dois gráficos com dados sobre o número de novos casos e mortes por covid-19 no mundo.

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Captura de tela feita em 29 de novembro de 2021 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 29 de novembro de 2021 de uma publicação no Twitter ( . / )

As publicações viralizadas indicam que as cifras foram retiradas da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford. O primeiro gráfico mostra o número de novos casos de covid-19 no mundo e o segundo, o número de mortes, desde o início da pandemia até novembro de 2021. Ambos incluem a média dos últimos 7 dias.

Análise global

Especialistas consultados pelo AFP Checamos afirmaram não ser possível avaliar a eficácia da vacinação contra a covid-19 a partir da observação do número global de casos e de mortes pelo vírus.

Segundo os pesquisadores ouvidos, tal análise em escala global é equivocada, pois há diversos fatores que influenciam os processos de contaminação e óbitos que devem ser levados em conta. Entre eles, as diferenças na cobertura e no ritmo vacinal entre os países e a adoção de medidas que restringem a circulação de pessoas, as diferenças nos ritmos de transmissão do vírus em cada localidade, bem como a idade e as comorbidades dos pacientes.

Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19 do Brasil, explicou ao Checamos que a conclusão feita a partir da observação dos dois gráficos virais tem como principal problema o mau uso do paradoxo de Simpson, segundo o qual as tendências de dados específicos não se refletem na tendência global.

“Esse paradoxo, em estatística, acontece quando pegamos um agrupamento de várias coisas (no caso dele, o mundo inteiro) e somamos várias situações boas e ruins, sendo que nenhuma representa o todo. O que eu quero dizer com isso é que ele está pegando locais com aumentos fortes de mortes e cobertura vacinal baixa e somando com locais com pouquíssimas mortes e cobertura vacinal alta, e querendo dizer que é tudo uma coisa só”, disse o pesquisador sobre a publicação viralizada.

Schrarstzhaupt sustenta que não é possível generalizar a situação de uma epidemia em um país continental como o Brasil, tampouco de uma pandemia no mundo todo: “A situação global é uma mistura de muitas situações distintas, com comportamentos distintos, transmissão distinta, medidas distintas, campanhas de vacinação distintas…”, completou.
Uma pessoa recebe uma dose da vacina AstraZeneca/Oxford contra a covid-19 na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro
Uma pessoa recebe uma dose da vacina AstraZeneca/Oxford contra a covid-19 na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, em 20 de junho de 2021 ( AFP / Andre Borges)

Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e professor visitante da Universidade da Califórnia em San Diego, concorda que é equivocada a associação feita na publicação viralizada. Segundo ele, é necessário “levar em consideração os dados desagregados. Porque a vacinação pode estar aumentando no Brasil, estagnada nos EUA e iniciando na África”.

No mesmo sentido, Aluísio Barros, epidemiologista e professor da UFPel, diz que a variação da porcentagem de vacinados entre os países “é enorme” e que “não faz sentido olhar números globais”. Para Barros, o principal problema da análise viralizada “é não levar em conta as características de cada país, ou mesmo região dentro de [cada] país. Os movimentos de casos e mortes são muito diferentes”. Ele ainda afirma que “é muito difícil ver uma tendência clara” ao analisar todos os dados juntos.

Jones Albuquerque, cientista do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto para Redução de Riscos e Desastres da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), destaca:

“Só se poderia comparar mundialmente mortes com vacinas se todos os países tivessem pelo menos a mesma cobertura vacinal, o que não é o caso”.

Efeitos da vacinação

De acordo com uma publicação do Our World in Data, “para entender como a pandemia está evoluindo, é crucial saber como as taxas de mortalidade de covid-19 são afetadas pelo estado de vacinação”. Segundo o projeto, a taxa de mortalidade é “uma métrica-chave” que pode evidenciar “com precisão” o quanto as vacinas são eficazes contra as formas graves da doença.

O site afirma que tais dados podem variar quando houver alterações devido a fatores como “diminuição da imunidade, novas cepas do vírus e o uso de reforços”.

Segundo alguns dos dados exibidos na página, nos Estados Unidos, em 2 de outubro de 2021, a taxa de mortalidade era de 7,29 para os não vacinados contra 0,55 dos vacinados. No Reino Unido, a cifra foi de 5,40 para não vacinados e 1,1 para vacinados em 24 de setembro de 2021. Já no Chile, o número registrado em 20 de novembro foi de 2,48 para não vacinados ou sem o esquema vacinal completo contra 0,53 dos imunizados e 0,02 dos vacinados que tomaram a dose de reforço.

Schrarstzhaupt sustentou que “todos os estudos clínicos de eficácia e também os estudos de efetividade (eficácia no mundo real) [têm] dados robustíssimos que mostram a redução forte de agravamentos e óbitos” pela covid-19. “Além disso, basta ver o status vacinal de quem está internado gravemente ou faleceu, e temos sempre muito mais não vacinados do que vacinados”, concluiu.
Militares, bombeiros e membros da Defesa Civil desinfetam contra a covid-19 uma rodoviária em Belo Horizonte, em 9 de abril de 2020
Militares, bombeiros e membros da Defesa Civil desinfetam contra a covid-19 uma rodoviária em Belo Horizonte, em 9 de abril de 2020 ( AFP / Douglas Magno)

Um estudo do Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde para a Europa e do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) publicado em 25 de novembro de 2021 no jornal científico Eurosurveillance estima que 470 mil vidas foram salvas entre pessoas com 60 anos ou mais desde o início da implementação da vacinação contra a covid-19 em 33 dos 53 países inseridos na divisão europeia da OMS.

“As consequências das baixas taxas de vacinação em alguns países estão se refletindo atualmente em sistemas de saúde sobrecarregados e altas taxas de mortalidade”, disse Andrea Ammon, diretora do ECDC.

E completou: “Mesmo em países que alcançaram uma boa cobertura geral de vacinação, ainda existem subpopulações e grupos de idade em que a cobertura permanece abaixo do desejado. A vacinação de grupos de idade mais avançada deve continuar a ser uma prioridade urgente para salvar o maior número de vidas nas próximas semanas e meses”.

A publicação ainda alerta para a importância da adoção de medidas adicionais para conter o avanço do vírus além da vacinação, como uso de máscaras e distanciamento social.

Em novembro de 2021, Schrarstzhaupt reafirmou ao Checamos que “a vacina é super eficaz contra óbitos e hospitalizações, e também eficaz contra casos leves”.

Na mesma oportunidade, Christovam Barcellos %u23BC pesquisador titular do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Lis/Icict) da Fiocruz %u23BC completou: “A vacina tem duas tarefas. Salvar a vida de algumas pessoas e evitar casos graves, e a segunda tarefa é evitar transmissão”.

Nesse sentido, a Comissão Europeia informou que “os dados mostram que quanto maior a taxa de vacinação, menor a taxa de mortes”, em um tuíte, em 23 de novembro, acompanhado de um gráfico com cifras do ECDC.

Data shows us that the higher the vaccination rate, the lower the death rate. #COVID19#VaccinesWorkpic.twitter.com/mORrrQOPsj
— European Commission (@EU_Commission) November 23, 2021

Cobertura vacinal

Ao longo da pandemia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem expressado sua preocupação com o acesso desigual às vacinas contra a covid-19 entre os países. Em 10 de agosto, a OMS pediu a líderes mundiais que agissem para mudar a "vergonhosa" situação de desigualdade em relação aos imunizantes.

Segundo o Painel Global para Equidade de Vacinas, uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), OMS e Universidade de Oxford, em países de alta renda 63,87% da população em média foi vacinada com, pelo menos, uma dose até 23 de novembro de 2021. Já nos países de baixa renda, a taxa foi de 7,46%.

Até o último 1º de dezembro, 54,62% da população mundial estava vacinada com pelo menos uma dose de vacina contra a covid-19 e 43,77% estava completamente imunizada:

Também em 1º de dezembro de 2021, segundo os dados oficiais coletados pela AFP e os disponibilizados pelo Our World in Data, o número diário de novos casos ultrapassou os 680 mil e o de mortes superou a marca de 8.500.

*Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.

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