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Estado de Minas SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

Bacalhau perde espaço no almoço da Paixão, mas tradição de peixe é mantida

Na primeira Semana Santa do novo normal, depois de dois anos de pandemia, consumidores querem comemorar, mas buscam alternativas diante dos altos preços


14/04/2022 18:05 - atualizado 14/04/2022 20:34

O empresário Cristiano Machado olha o peixe Namorado na mão do vendedor
O empresário Cristiano Machado escolheu um Namorado para preparar uma moqueca na Sexta-Feira da Paixão (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA PRESS)

Depois de dois anos de isolamento social devido à pandemia de COVID-19, que limitou as celebrações da Semana Santa, as famílias e amigos, enfim, vão se encontrar para o almoço da Sexta-Feira da Paixão, e não vão abrir mão do peixe no cardápio. Para quem é católico e para quem não é, a tradição diz que não é dia de comer carne. O bacalhau, o pescado preferido da época, perdeu o reinado, mas não a majestade.

Mesmo com os preços altos, os comerciantes do Mercado Central afirmam que houve procura dos clientes. Uma pesquisa do Mercado Mineiro mostrou que a iguaria pode custar até R$ 230 o quilo em em Belo Horizonte. No entanto, fila mesmo só nas peixarias que ofereciam pescados menos "salgados". Em uma das peixarias, foi necessário colocar até mesmo uma fita de isolamento para organizar a fila tamanha a procura dos clientes.

Foi lá que a contadora Sandra Maria dos Santos, de 70 anos, buscou o ingrediente principal do cardápio de sexta. Pelos preços, ela avaliou que o mais em conta era levar a sardinha que estava R$ 15 o quilo, mas, diante do trabalho que teria para limpar, optou pelo cação, a R$ 32. Assim conseguiu um valor bem mais barato que o bacalhau e ainda que tem o preparo mais fácil que a sardinha.

Sandra Maria mostra o embrulho com o peixe cação
A contadora Sandra Maria optou pelo cação para manter a tradição de peixe no almoço da sexta (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA PRESS)

De religião evangélica, em que não há restrição a comer carne na Sexta-Feira da Paixão, mas convivendo com pessoas da família que são católicas, ela segue a tradição. "Nasci numa família católica e o pessoal mais velho só come peixe na Sexta-Feira da Paixão", diz. No entanto, há um bom tempo, ela revela que o bacalhau passe longe do cardápio da data. "Não só este ano, nesses anos todos para trás, o preço do bacalhau está muito alto. A cada ano fica pior", argumenta.

Outro que recorreu à peixaria foi o empresário Cristiano Machado para comprar dois peixes Namorados inteiros para preparar a moqueca de amanhã. No caso dele, não foi a questão do preço do bacalhau que o fez escolher outra opção. Os dois peixes ficaram quase no mesmo valor do bacalhau, cerca de R$ 300.

No entanto, apesar da alta nos preços, ele não abre mão do almoço especial na Sexta-feira da Paixão. E é ele mesmo que vai para cozinha preparar a moqueca ao modo baiano. "Não sou baiano, mas morei lá e faço daquele jeito, com dendê", revela.

Rafiza e o marido Fábio observam os peixes na balança
Rafiza e o marido Fábio vão preparar um ensopado com a corvina (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA PRESS)

A auxiliar de serviços gerais Rafiza de Sá, de 32, e o marido Fábio Dias, de 42, deram uma olhada na banca do bacalhau, mas preferiram buscar algo mais em conta e tão gostoso quanto para o almoço de sexta. Foram à peixaria para comprar uma corvina. "Vou preparar ensopada. Com leite de coco fica uma delícia", antecipa o prato que servirá para o marido, o pai, o irmão e o cunhado.

E Rafiza não teve como não recorrer ao trocadilho em relação para falar do aumento no preço do bacalhau. "stá muito salgado. Não vai ter jeito de comprar esse ano. Viemos comprar uma corvina para não passar em branco o dia de amanhã", diz.

Ela é evangélica, então, não é por questão religiosa que não come carne no dia em que se relembra a paixão de Jesus Cristo. Mas a data é dedicada aos pescados, embora, ela ressalte que o preço do peixe, que já foi considerado mais barato, já está pareado com o da carne.

Sem perder a majestade

Márcio Roberto recebe o bacalhau da mão do vendedor
Márcio Roberto de Jesus da Cruz não abre mão do bacalhau (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA PRESS)

O sacerdote de matriz africana e cozinheiro Márcio Roberto de Jesus Cruz, de 48 anos, vai manter a tradição do bacalhau no almoço da Sexta-Feira da Paixão. Ele comprou dois quilos do tipo saithe desfiado, cerca de R$ 300 e um quilo de filé de merluza, R$ 50. E garante que, embora tenha comprado na véspera, vai dar tempo de dessalgar para o preparo do prato delicioso.

Ele não abre mão de fazer um cardápio especial para o filho Henrique e o genro João Vitor, que vão almoçar com ele na data santa. No entanto, as contas estão na ponta do lápis. "Gastei um dia meu de serviço nesta brincadeira." Márcio faz consultas espirituais e para conseguir esse valor tem que realizar três delas.

O balconista Ramon Lopes, que atendeu Márcio, afirmou que a procura pelo bacalhau estava boa, como em anos anteriores. Segundo ele, o preço não afugentou a clientela. E o que Ramon diz se confirma no movimento nos corredores do Mercado Central e nos clientes que se aproximam da banca.

A proprietária da Império dos Pescados, Deuzânia Oliveira, tem uma explicação para a grande procura dos clientes apesar de os preços estarem altos. "Depois de dois anos de pandemia, as pessoas querem um pouco de liberdade. As pessoas não estão bem financeiramente, mas querem dar um basta a tantas restrições", diz.

Nesta Quinta-Feira Santa, ela não parou nem um minuto diante da fila de clientes que chegavam a todo instante. Deuzânia acredita que as pessoas substituíram o bacalhau por outros peixes. Os campeões de venda foram o surubim, piratinga e a sardinha. "O bacalhau ficou em quinto lugar, mas muita gente não deixa de comprar", afirma.


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