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Estado de Minas CORRIDA CONTRA A COVID-19

Como médicos e enfermeiros enfrentam o colapso nos hospitais

Profissionais ouvidos pelo EM contam detalhes da rotina diante da falta de leitos que agrava o drama de pacientes e familiares e alertam a população sobre


18/03/2021 06:00 - atualizado 18/03/2021 13:55


O som de monitores cardíacos, ventiladores mecânicos e dos passos acelerados dos profissionais da saúde que trabalham na linha de frente do combate à COVID-19 se propagam das alas de tratamento para os corredores dos hospitais, denunciando a rotina mais pesada de trabalho.

Minas Gerais, assim como o Brasil, vive a fase mais difícil da luta contra o coronavírus, agora agravada pelo colapso no sistema hospitalar, que leva desespero a pacientes e familiares à espera de leitos e testa a energia das equipes.

Lidando diariamente com a crise sem precedentes nos hospitais, médicos e enfermeiros contaram ao Estado de Minas o drama encarado no dia a dia, diante de pessoas que muitas vezes depositam toda a esperança nas mãos deles. Em diversas municípios de norte a sul do estado, não há leitos para atender os infectados, a exempo de Curvelo, Ibirité, Montes Claros, Ribeirão das Neves, Sete Lagoas e Uberlândia. O estado registrou, ontem, 991.732 casos de contaminação pelo vírus e 21.029 mortes.

“Tentamos acalmar o coração deles”

(foto: Hudson Brazil/Divulgação)
(foto: Hudson Brazil/Divulgação)

Brendow Alencar, médico - MONTES CLAROS

“O momento mais difícil do paciente com COVID-19 grave é o da entubação, uma decisão  difícil. Mas, chega o momento em que a gente não pode postergar mais. É um momento de muita dor para a gente também, como profissional de saúde, vivenciar essa dor e essa angústia do paciente e essa incerteza, porque realmente a mortalidade dos pacientes que vão para a ventilação mecânica é ainda muito alta. Mas, (a gente) temos de tentar dar a eles o máximo de força e esperança; lembrar exemplos que deram certo e a gente tem que se apegar a isso e confiar, principalmente em Deus. A gente tenta conversar com eles, explicar a situação, para que eles possam  se acalmar e entender o que é necessário ser feito. O paciente pergunta quais são as chances de ele 'retornar',  fica muito choroso, ansioso, preocupadíssimo, lembra-se dos familiares. A gente já fez até videochamadas como uma certa despedida porque eles vão ficar um certo tempo em 'coma induzido'. A videochamada dá um alívio, uma tranquilidade para o paciente e a família. Tentamos acalmar, de alguma forma, o coração deles.”

“São poucos plantões com 1 ou 2 perdas”

(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Álvaro Parrela Pires, enfermeiro - MONTES CLAROS

“Eu me lembro de vários pacientes, mas de uma senhora, em especial, tenho a recordação quando ela chegou e não compreendeu que aquele universo talvez seja o mais inóspito para receber alguém. Na simplicidade dela, ela  se sentia acolhida e segura, porque ali receberia todo o cuidado necessário, mas não entendia o cenário real que estava vivenciando. Ela não está mais entre nós. Hoje, existe um universo novo que estamos enfrentando, que é um cenário catastrófico. Por mais que a gente se prepare durante toda a carreira, são situações que fogem do nosso controle, principalmente emocional. Não estou habituado – espero que eu nunca me habitue  a isso –, e não estou acostumado a ver pessoas indo embora, morrendo com tanta intensidade. Nas últimas semanas, foram pouquíssimos plantões em que a gente não teve, no mínimo, uma ou duas perdas. Conviver com isso é algo muito difícil. Ao longo do tempo em que estou trabalhando no hospital, na unidade de terapia intensiva COVID-19, a gente vem vivenciando uma série de situações extremamente delicadas.”

“Chegamos à exaustão nos atendimentos”

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

Renata do Vale, enfermeira - RIBEIRÃO DAS NEVES

“Nossa maior dificuldade mesmo, em atendimento, é a questão dos leitos, e da educação da população quanto à prevenção contra a doença. Vejo que os profissionais de saúde chegaram à exaustão, sobrepondo até as suas necessidades humanas devido à quantidade de atendimentos e à vontade de fazer um pouco mais por esses pacientes. O que posso deixar para alertar a população em geral é que a gente tem que tomar as medidas de precaução, usar máscara, higienizar as mãos e evitar aglomerações. Com isso,  vamos ver se a gente consegue diminuir a quantidade de pessoas infectadas neste momento. Receio que a cidade vire um caos como temos ouvido falar em outros países. Peço que façam as medidas de precaução. Cuidem-se, porque COVID-19 não ataca só idosos, mas também jovens e crianças. Em Ribeirão das Neves, temos 100% de leitos/COVID ocupados e isso gera muito ansiedade. Temos visto crescimento rápido da contaminação.”

“O vírus devasta famílias inteiras”

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

Viviane Cristina Alberto Alves Meira, médica - RIBEIRÃO DAS NEVES

“Trabalho no enfrentamento à COVID-19 desde o início da epidemia e tenho visto histórias muito tristes de pacientes evoluindo rápido para a forma grave da doença. O vírus está devastando famílias inteiras: pai, mãe, filhos, situação muito desesperadora. A recomendação que a gente dá à população é para manter o distanciamento social. Não é hora de aglomerar. Agora não é hora de fazer festa, de fazer churrasco. Evite sair de casa. Quem puder, fique em casa, para que a gente tente conter o avanço da doença. Higienizem as mãos e usem máscara. São recomendações superimportantes e para quem estiver dentro do grupo (de risco) seja vacinado.”

“Equipes estão cansadas e desgastadas”

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

Homero Campos Reis, médico infectologista - CURVELO

“As equipes estão extremamente desgastadas, muito cansadas, algumas já manifestando sinais claros de ansiedade. Percebe-se também, com certa clareza, o aumento do consumo de bebidas alcoólicas como forma de minimizar todo o desgaste físico e psíquico que essas pessoas estão vivendo. Saio de casa pela manhã e chego à noite, durmo e acordo cansado. Recebo mensagens o tempo todo, por  chamadas, WhatsApp, áudio, textos, artigos, documentos oficiais. É uma série de coisas, uma demanda que sinceramente não sei como a gente consegue fazer as coisas. Está bastante difícil. O alerta que eu deixo para a população é que evite aglomerações, só saia de casa se necessário e higienize as mãos. Peço que as pessoas evitem ao máximo riscos desnecessários e que possam levar à infecção pelo vírus. A ocupação de leitos está em 90%, e, às vezes, chegando a 100%.”

“Vamos continuar determinados”

(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)

Thúlio Marquez Cunha, médico pneumologista - UBERLÂNDIA

“As maiores dificuldades que estamos enfrentando são a sobrecarga de pacientes, sobrecarga emocional de ter que atender muita gente em pouco espaço de tempo, sem todos os leitos que a gente gostaria que estivessem disponíveis, sem todos os recursos que a gente gostaria de ter. Mas estamos bastante motivados para tentar conter essa devastação que estamos vivendo. Nosso papel é atender os pacientes e acolher os familiares da melhor forma possível em todos os cenários. Todos estão exaustos, com certeza, mas vão continuar trabalhando determinadamente, até que a gente consiga conter essa infecção e a gente consiga liberar os pacientes o mais rápido possível. Essa vontade, esse dever de trabalhar, supera de longe o cansaço. Então, a gente sempre continua pra frente. Importante também lembrar que se aprendermos a nos comportar, conseguimos esperar essa vacina de uma maneira mais tranquila.”
 
 

Entre choros e lamentos, os cuidados

“Filho, a mãe tá de alta, mas o pai não conseguiu.” A frase foi ouvida por uma médica residente de hospital de Porto Alegre (RS). Quem conta o caso é a jornalista Larissa Roso, que, durante a pandemia, começou a coletar e publicar em sua conta no Twitter (@larissaroso) as histórias de pacientes, médicos e enfermeiros que lutam contra a COVID-19.  Os profissionais de saúde ouvem os choros e lamentos como drama adicional ao fato de viver o ambiente hospitalar lotado de pacientes que carregam uma doença devastadora.

Jornalista graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)  e com passagem pelo jornal The Washington Post, dos Estados Unidos, Larissa atualmente trabalha como repórter do Zero Hora, em Porto Alegre, e com contribuições ainda na Rádio Gaúcha e portal GZH Digital. Seu enfoque, como ela explica em sua biografia no LinkedIn, são “reportagens e grandes reportagens nas áreas de saúde, comportamento, direitos humanos e educação, com enfoque em histórias de vida”.

A ideia de divulgação das experiências de quem está na linha de frente é conscientizar a população da gravidade do novo coronavírus. “Tragédia, desastre, calamidade, desgraça, catástrofe. Não tem uma palavra única que seja capaz de descrever o tamanho desse buraco. Usem máscara corretamente. Fiquem em casa se puderem”, implorou a jornalista em sua conta no Twitter, entre vários outros apelos contundentes.



24 de fevereiro de 2021 – 11h52

MÃE E RECÉM-NASCIDO NÃO RESISTEM! 
Profissional de saúde de UTI COVID-19 de hospital da Grande Porto Alegre: 

“Foi o pior plantão que já fiz em toda a pandemia. Uma gestante foi entubada e tiveram que fazer uma cesárea ali na UTI mesmo”

4 de março de 2021 – 10h01

“NOS 40MIN DE REANIMAÇÃO, EU PENSAVA: NÃO FAZ ISSO COMIGO” 
Médica emergencista de Porto Alegre:

“Precisei entubar um paciente que estava com medo, dizia que não queria. Ele apertava minha mão com cara de desespero enquanto eu explicava que não havia outro jeito”

11 de março de 2021 – 8h46

“ME DESESPERO COM OS NEGACIONISTAS. DIGO O QUE VEJO E SINTO HÁ UM ANO. POR QUE NÃO ACREDITAM EM MIM?” | 
Enfermeira de área COVID-19 de hospital de Porto Alegre: 

“Meu filho positivou segunda. Perdeu o olfato e está com um pouco de tosse”

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:

 


 


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