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Estado de Minas CORONAVÍRUS EM MINAS

ALMG faz reunião especial sobre a atuação de entidades no combate ao coronavírus

Sessão contou com representantes da UFMG, Fiocruz, Instituto Federal do Sul de Minas e Fiemg, que apresentaram uma perspectiva da doença no país, além de seu impacto econômico em Minas Gerais


postado em 20/05/2020 20:02 / atualizado em 20/05/2020 23:22

Professor Unaí Tupinambás valorizou esforço da população de Belo Horizonte no cumprimento do isolamento social(foto: Carol Morena/Faculdade de Medicina)
Professor Unaí Tupinambás valorizou esforço da população de Belo Horizonte no cumprimento do isolamento social (foto: Carol Morena/Faculdade de Medicina)
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promoveu nesta quarta-feira uma reunião especial com professores de universidades e institutos de pesquisa, além de uma representante da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), para conhecer como esses órgãos estão atuando no combate ao coronavírus. Além dos convidados, 75 deputados participaram do evento, a maioria de forma remota.

O professor Unaí Tupinambás, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que também atua no Comitê de Enfrentamento à Epidemia da COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, começou comparando a taxa de transmissibilidade (denominada R0) da capital em relação ao restante do país.

“Esta taxa se refere ao número de pessoas que são contaminadas a partir de um caso confirmado da doença. Se esta taxa for acima de 1, temos um problema. Se for acima de 2, temos um grande problema, já que nesse cenário uma pessoa com a COVID-19 vai contaminar outras duas. Essas duas vão contaminar quatro, e por aí vai. No Brasil, que é um país heterogêneo, essa taxa varia entre 2 e 3. Hoje, em Belo Horizonte, este número está em torno de 1, o que mostra que medidas como o distanciamento social e o uso de máscaras estão sendo praticados pela maioria”, explicou.

Belo Horizonte em destaque

Ele afirmou que Belo Horizonte apresenta uma clara tendência de controle da epidemia, sinal de que a cidade adotou o isolamento social no momento certo, e também destacou a boa adesão ao uso de máscara. “Como fomos o último continente a ser impactado pela doença, pudemos contar com os erros e acertos de outros países, tivemos um tempo valioso para nos equipar e aprender mais sobre o manejo dos pacientes mais críticos”, avaliou o professor. Unaí informou que a cidade tem 31,4% dos leitos de UTI ocupados e que a cidade está preparada para quase dobrar essa capacidade em uma semana.

A respeito do Brasil, o professor disse que não sabe se já atingimos o pico, que seria um período com estabilidade de casos para uma posterior queda, mas avaliou que estamos a caminho da pior tragédia sanitária de todos os tempos no país.

Minas Gerais faz parte desse cenário, principalmente fora da capital. O estado tem feito poucos testes em sua população, um problema que também afeta todo o Brasil. Minas é o terceiro estado que menos faz testes, temos que ampliar. Hoje, menos de 10% dos suspeitos notificados são testados”, criticou. Unaí explica que a testagem é importante porque a COVID-19 pode ser transmitida antes do portador apresentar sintomas. “Se dermos atenção apenas aos casos mais graves, estamos perdendo tempo de atuaçao”, afirmou.

'Novo normal'

Rômulo Paes de Souza, pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), falou sobre a transição para o que vem sendo chamado de “novo normal”. Ele falou sobre a possibilidade de termos novos períodos de isolamento em função de novas ondas da doença, sendo de origem interna ou externa do país, até que tenhamos uma vacina. “Será preciso adotar um novo protocolo de interação e higiene, uma nova forma de se relacionar. Se praticar isolamento social é difícil, é mais facil estar na trincheira do que em campo aberto. Imagina como será a saída desse isolamento, se não for de forma organizada? Aí teremos um repique rápido e teremos que voltar ao isolamento. E com mais óbitos”.

O pesquisador citou exemplos de países que já começaram processo de flexibilização da quarentena, como a Austrália e os Estados Unidos, que adotaram fases distintas de retorno para cada atividade econômica, uma discriminação clara sobre o que cabe aos empregadores para dar segurança aos trabalhadores e os cuidados específicos sobre os focos de contágio no cotidiano das pessoas.

 “A partir desses exemplos, concluímos a necessidade de estruturar, organizar e coordenar a nova vida depois que tivermos uma flexibilização do confinamento, até que tenhamos meios mais eficazes de combater a doença”, resumiu.

Rômulo destacou a importância do país ter uma forma mais coordenada para o combate ao coronavírus e cobrou a adoção de medidas sociais e econômicas consistentes.

Distribuição geográfica da COVID-19

Sergio Henrique de Oliveira Teixeira, coordenador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IF Sul de Minas), trouxe a ideia de interpretar a distribuição geográfica da COVID-19 para se ter ideia da difusão da doença no estado. O pesquisador identificou as rodovias que chegam ao Sul de Minas a partir dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro como portas de entrada do coronavírus na região.

A partir desse mapeamento, Sérgio Henrique propõe que seja feito um trabalho de contenção da doença nesses eixos de difusão. “É preciso ter uma atenção especial de como a epidemia é disseminada, realizar um trabalho em estabelecimentos que funcionam às margens das rodovias, como restaurantes, hotéis e postos de combustível, onde uma pessoa contaminada pode trasmitir a doença para um funcionário, que vai levá-la para a sua cidade”, explica.

O pesquisador comparou o crescimento de casos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro no período entre 3 e 19 de maio, o que não se refletiu nos números oficiais no Sul de Minas, atribuindo a subnotificação como uma possível causa que estaria mascarando as estatísticas de Minas Gerais. Ele também chama a atenção para o mapa de envelhecimento da região, que revela que o Sul de Minas tem uma maior proporção de idosos, considerados mais susceptíveis ao agravamento da doença.

Impactos econômicos

Daniela de Britto Pereira, gerente de estudos econômicos da Fiemg, apresentou uma estimativa dos impactos econômicos do coronavírus em Minas Gerais. Para 2020, a previsão é que o Produto interno Bruto (PIB) do Brasil seja de -5,7%, sendo que o de Minas Gerais deve apresentar uma queda ainda maior, -7%. Para 2021, a gerente da Fiemg espera uma recuperação de 4,9% para o Brasil e de 3,3% para Minas.

De acordo com o estudo, em 2020, no estado, o setor agropecuário deve fechar no azul, com 3,2% de crescimento, apoiado principalmente no café e na soja. O setor de serviços, que requer maior interação social, será o mais afetado, com queda de 9 %. A construção, onde era esperada uma recuperação, terá queda de 4,7% em função do adiamento dos investimentos. A indústria de transformação sentirá a queda da demanda interna e externa, devendo registrar queda de 8,5%. Na indústria extrativa, a manutenção da demanda pela China deve levar a um crescimento de 1,3% do setor.

A retomada da economia mineira é esperada para o fim de 2021 ou até mesmo início de 2022. “Após uma queda abrupta, a recuperação será mais lenta”, explica Daniela, após apresentar um cenário atual bastante desfavorável: queda de confiança de empresário e consumidores, aumento da incerteza, queda no preço das commodities, disparada do câmbio, piora da situação financeira das pessoas, endividamento, redução do fluxo de pessoas, piora do mercado de trabalho e aumento do risco país. A gerente de estudos econômicos da Fiemg ainda citou estudo da Bloomberg Economics, que conclui que um isolamento de 10% produz 4% de queda na atividade econômica.


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