
Quando o assunto são os aplicativos de transporte, Belo Horizonte assistiu nos últimos cinco anos à massificação da tecnologia na oferta de carros para deslocamentos individuais, nas entregas de produtos com motocicletas e na chegada dos patinetes elétricos para microdeslocamentos. Porém, quando o tema é bicicleta, o período de cinco anos não consolidou a realidade de uso massivo das magrelas. Em 2019, chegou ao fim um contrato entre a Prefeitura de BH e o Grupo Serttel que mantinha 40 estações de bicicletas compartilhadas na cidade, liberadas por meio do app Bike BH. Na consulta pública destinada a manter e expandir o serviço, houve uma perda de 200 bicicletas, diminuindo de 40 para 14 estações, e restringindo todas à Região da Pampulha. Para tentar reverter essa situação, a BHTrans tenta trazer mais bicicletas a partir do modelo trazido pela Yellow, de bikes compartilhadas sem estações. Enquanto isso, a chegada das bikes de entrega evidencia o gargalo das ciclovias e ciclofaixas da cidade, que somam 89 quilômetros atualmente e não tiveram nenhum quilômetro a mais incrementado em 2018 por falta de recursos, depois de oito anos seguidos de implantações.

Enquanto a malha ainda fica restrita a pequenas rotas, a cidade assiste à proliferação das bikes a serviço dos aplicativos de entrega. Cristopher Alexandre Gomes, de 18 anos, pedala cerca de 60 quilômetros por dia, a maioria deles nas ruas. “O risco à noite é maior, pela velocidade dos carros nas avenidas. Isso nos obriga a ficar mais atentos”, diz ele. Altino Soares, de 37, diz que o clima nas ruas não é favorável às bikes. “Tem pessoas que acham que você não pode transitar e jogam carros e motos em cima da gente”, afirma. Mitiko Cavalcante acrescenta que a segmentação das rotas dificulta a entrada de mais ciclistas. “São pedacinhos muito pequenos que têm (rotas), então não dá para ir para todo lugar. Mas quando tem ciclovia, ajuda bastante”, diz ela.
BIKES COMPARTILHADAS A Serttel deixou de operar 40 estações dentro do sistema Bike BH e agora vai manter apenas 14, todas na Região da Pampulha. “A bicicleta compartilhada é uma operação privada e você não pode obrigar o operador privado a prover o serviço. Segundo eles, o uso era pequeno. Aqui na cidade (BH) tem muito vandalismo e isso fazia uma operação onerosa”, diz o presidente da BHTrans. Em contrapartida, já está funcionando desde janeiro o serviço da Yellow, restrito à Região Centro-Sul, e focado apenas em bikes sem estações.
“Eu considero o modelo sem estação fixa talvez para a área central até melhor do que só com estação, porque você pode retirar a bicicleta de mais pontos”, acrescenta Célio Freitas. O mandatário da empresa que cuida dos transportes de Belo Horizonte reconhece que o ideal seria que várias empresas ofertassem o serviço, mas pontua que a política está colocada para a iniciativa privada e destaca que um chamamento público está aberto para atrair mais operadores.
Alguns pontos para entender o uso de bikes em BH:
» Belo Horizonte conta hoje com 89 quilômetros de ciclovias e 852 paraciclos, locais destinados ao estacionamento de bicicletas.
» Belo Horizonte conta hoje com 89 quilômetros de ciclovias e 852 paraciclos, locais destinados ao estacionamento de bicicletas.
» Um chamamento público foi aberto à iniciativa privada prevendo a instalação de 140 estações com cinco bicicletas espalhadas pelas nove regiões da cidade. A única interessada foi a Serttel. A empresa vai operar apenas 14 estações, todas na Região da Pampulha.
» Outro chamamento público ainda está aberto. Ele se refere às bikes sem estações. O edital prevê atendimento a todas as nove regiões, sem número predeterminado de magrelas.
» Já está homologada a licitação que escolheu uma empresa para revisão e elaboração de projeto executivo de infraestrutura cicloviária integrada à rede de transporte público de BH
» Está em andamento um edital para escolher empresa que vai elaborar projeto executivo de infraestrutura cicloviária da orla da Lagoa da Pampulha. A licitação teve recurso impetrado contra a empresa classificada em 1º lugar
Série de reportagens
Desde domingo o Estado de Minas publica a série "Para onde vamos", que discute o impacto da tecnologia dos aplicativos de transporte para a mobilidade de Belo Horizonte e quais são as perspectivas da cidade para o futuro. No primeiro dia, a série contextualizou impactos positivos e negativos das mudanças e trouxe o desafio dos patinetes elétricos. Na segunda-feira, o assunto foi a consolidação do transporte de passageiros por meio dos apps e também os desafios relacionados à segurança trazidos pelas novas ferramentas nos celulares. Na terça-feira, a reportagem abordou a popularização das motocicletas a serviço de entregas por aplicativos e o que esse cenário gerou para a segurança do trânsito. Na quarta-feira, foi publicada uma discussão sobre as relações de trabalho trazidas pelos aplicativos e as repercussões para a economia. Ontem, a reportagem do EM mostrou que os apps já ameaçam o transporte público por ônibus. A série termina amanhã, com as mudanças dos últimos cinco anos para os taxistas.