Quantidade não é garantia de qualidade. Essa é uma análise válida para a infraestrutura urbana no país. A presença de equipamentos e acessórios nem sempre atende bem a população. Pesquisa inédita divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo 2010, mostra a realidade da infraestrutura em torno das casas nos municípios brasileiros, de acordo com a percepção dos pesquisadores. Entre as 15 cidades com mais de um milhão de habitantes, Belo Horizonte se destaca em pavimentação e calçadas, ficando em segundo lugar nos quesitos iluminação e meio-fio. No item acessibilidade, a capital mineira está em quinto lugar e deixa a desejar no atendimento à população. O censo mostra também a realidade de todos os municípios mineiros, e o Norte do estado vive situação singular, onde estão os municípios mais pobres e consequentemente com menos estrutura no entorno das casas.
As árvores estão em volta de 83% das casas da cidade, deixando BH na terceira colocação, um benefício constatado pelas amigas Marisa Chaves, de 51 anos, e Maria da Penha de Oliveira, de 48. Vindas de Vitória (ES), elas afirmam que por onde passaram na capital mineira puderam comprovar que BH é uma cidade que preserva o verde. “O canteiro central das avenidas é repleto de árvores, que podem ser vistas por várias partes, até onde a vista alcança”, conta Maria da Penha, enquanto admirava o Parque Municipal, no Centro, ao lado da amiga.
Quanto ao esgoto a céu aberto e acúmulo de lixo, BH enfrenta problemas também, ficando em 13º lugar em ambos os itens. A situação no Bairro Tupi, na Região Norte, ilustra bem o censo. Na Rua Desembargador Cândido Martins de Oliveira, moradores reclamam não só da falta de pavimentação, mas também do mau cheiro, dos insetos e do lixo que surgem com o esgoto que corre na porta das casas. “A gente tem muita vontade de morar em um lugar mais organizado. Queria que o asfalto passasse na frente de casa e que o esgoto fosse canalizado”, diz a pedreira Rita de Cássia Alves de Souza, de 51, moradora da rua.
No que diz respeito aos bueiros e bocas de lobo, responsáveis por evitar alagamentos com chuva, problema constante na capital mineira, apenas 45,3% dos domicílios pesquisados têm esse tipo de equipamento no seu entorno. No Brasil, a média é de 41,5%.
Coordenadora estadual do setor de Disseminação da Informação do IBGE, a demógrafa Luciene Longo diz que Belo Horizonte tem bons resultados, mas lembra que a pesquisa só determina se há ou não intervenção urbana. “A análise deve ser feita com cautela, porque a qualidade dos equipamentos não foi objeto do estudo. BH aparece em primeiro em algumas categorias e outras cidades com mais de um milhão de habitantes estão abaixo, mas isso não significa que a capital mineira tenha a melhor infraestrutura. Trata apenas da existência ou não”, explica.
Para Luciene, a cidade apresenta resultados que precisam de investimento. “A cidade está acima da média brasileira quanto a rampas de acessibilidade, mas menos de 10% dos domicílios estão localizados onde existe essa infraestrutura. É menos do que se espera e do que se precisa. Porto Alegre, por exemplo, está mais avançada nessa discussão, com 23%”, cita ela. “Já os bueiros, com impacto direto no período de chuvas, estão em torno de menos da metade das casas. Isso é preocupante, mas não significa que ter já é suficiente. Eles precisam estar em condições de uso, sem entupimento, e receber manutenção.”