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Estado de Minas

Sul de Minas no meio do fogo cruzado da história do Estado

Moradores de Ouro Fino, Pouso Alegre e Jacutinga assistiram de perto ao confronto entre paulistas e tropas federais há 80 anos durante a Revolução Constitucionalista


postado em 07/07/2012 06:00 / atualizado em 07/07/2012 07:54

Soldados de batalhões de várias partes do país chegaram a Minas em julho de 1932 para tentar conter a revolução dos paulistas(foto: Fotos: Arquivo Museu Histórico Municipal Tuany Toledo)
Soldados de batalhões de várias partes do país chegaram a Minas em julho de 1932 para tentar conter a revolução dos paulistas (foto: Fotos: Arquivo Museu Histórico Municipal Tuany Toledo)

A calmaria das pequenas cidades do Sul de Minas deu lugar ao vai e vem de tropas militares e o barulho de metralhadoras passou a ser incômodo constante para os moradores que estavam acostumados com o ambiente de paz do interior. Há 80 anos, quando paulistas começaram a se movimentar e tentaram mostrar força ao governo federal por meio do movimento que ficou conhecido como Revolução Constitucionalista de 1932, os mineiros assistiram de perto aos violentos confrontos entre batalhões de várias partes do Brasil. Os municípios de Ouro Fino, Pouso Alegre e Jacutinga ficaram bem no meio de uma disputa que misturou patriotismo e ideais de liberdade entre soldados que saíram de São Paulo para lutar contra a interferência federal no estado e tropas que buscavam encerrar um movimento que poderia dividir o país.

A escolha oficial do governo de Minas, ao se confirmar que o impasse não se resolveria por meio das conversas e seria levado para os campos de batalhas, foi adotar uma postura de neutralidade. No entanto, aqueles que viram as disputas bem perto de suas casas não tiveram como ficar de fora e foram obrigados a participar de um lado ou de outro. Em Ouro Fino, a movimentação de tropas começou com a chegada dos paulistas, que buscavam reforçar pontos estratégicos nas fronteiras para impedir que o exército legalista avançasse no estado. A resposta das tropas federais não demorou e, no fim do mês, soldados de batalhões baianos e pernambucanos que vieram para conter a revolução já estavam acampados na cidade.

“Em 13 de julho, quando os paulistas marcharam por Ouro Fino, a cidade ficou extremamente movimentada e dividida. Aqueles que apoiaram os paulistas passaram a atuar de forma velada, escondendo soldados feridos em suas casas e, quem tinha automóvel ou armas, guardava tudo para que o governo federal não pedisse para usar nos confrontos. No entanto, muitas pessoas também temiam a ação dos soldados paulistas, já que rumores diziam que outras cidades estavam sendo atacadas quando eles chegavam de trem”, explica Maria Romilda Gomes Rodrigues, historiadora e coordenadora do Departamento de Cultura de Ouro Fino.

Canhões e trincheiras
Em Pouso Alegre, cidade do Sul de Minas considerada estratégica para a mobilidade ferroviária, as tropas legalistas que estavam se concentrando na região bateram de frente com os revolucionários paulistas. Os tradicionais bairros do município, Vendinha (hoje Bairro São João), Cruzes e São Geraldo, viraram palco para o enfrentamento. Entrincheirados em pontos estratégicos e com canhões e metralhadoras posicionadas, as tropas de Getúlio Vargas massacraram os paulistas em combate. O resultado de uma noite de conflito em Pouso Alegre foi 12 mortes, sendo apenas uma do lado dos legalistas, e mais de 20 feridos que foram levados presos para Caxambu e depois para o Rio de Janeiro.

Os mortos foram sepultados no dia seguinte na cidade mineira recebendo a bênção do bispo de Pouso Alegre, dom Octávio Chagas de Miranda. Como não se sabiam os nomes dos soldados paulistas, o então prefeito João Beraldo determinou que fossem todos fotografados e numerados para que pudessem ser identificados quando o conflito acabasse. Alguns anos mais tarde, os corpos foram exumados e levados para São Paulo a pedido de familiares. Muitas das armas, canhões e equipamentos usados nas batalhas que aconteceram na região estão expostos no Museu Histórico Municipal de Pouso Alegre.

Tropas federais se posicionam para o combate contra os paulistas(foto: Fotos: Arquivo Museu Histórico Municipal Tuany Toledo)
Tropas federais se posicionam para o combate contra os paulistas (foto: Fotos: Arquivo Museu Histórico Municipal Tuany Toledo)
“Uma das reclamações constantes de antigos moradores da região que aparece nos documentos da época diz respeito ao barulho de metralhadoras. Só com o fim do conflito ficaram sabendo que o ruído vinha de um aparelho chamado matraca, criado pelos paulistas para reproduzir o som das metralhadoras e intimidar as tropas federais. Os municípios da região, por estarem tão próximos dos paulistas e ao mesmo tempo estarem ao lado das forças nacionais, passaram meses de muita apreensão, com a guerra batendo em suas portas”, explica a historiadora.

Isolados economicamente e sem apoio de outros estados, em outubro de 1932 – três meses depois do início das batalhas – os paulistas anunciaram a rendição. Getúlio Vargas nomeia um interventor paulista para o estado e no ano seguinte convoca eleições para a formação da Assembleia Constituinte. Segundo as estimativas oficiais, a Revolução de 1932 terminou com 624 mortes, sendo a grande maioria de soldados paulistas.


LINHA DO TEMPO
– 1930: Getúlio Vargas chega ao poder em movimento que depôs Washington Luís, do Partido Republicano Paulista. Termina a 1º República
– 1931: Partidos paulistas se unem formando a Frente Única Paulista, que passa a reivindicar autonomia administrativa para o estado e articular o movimento contra o governo federal
– 1932: No dia 9 de julho começa a rebelião armada que marca o início da Revolução Constitucionalista. Quatro dias depois de declarada a revolta contra o governo de Vargas, paulistas marcham pelo município mineiro de Ouro Fino
– 1932: Em outubro, sem apoio de outros estados e força para continuar o conflito, os paulistas anunciam a rendição
– 1934: Promulgada a nova Constituição. A mobilização dos constitucionalistas serviu como forma de pressionar Vargas a convocar a Assembleia Constituinte que elaborou a nova Carta Magna do país
– 1937: Anunciando a existência de uma tentativa de golpe comunista, Vargas anula a eleição presidencial e dissolve o poder legislativo. Início do Estado Novo.


SAIBA MAIS
O início do conflito
A insurreição contrária ao novo quadro político que se instalou no Brasil após a Revolução de 1930 começou em São Paulo. Integrantes da elite local que se beneficiavam do sistema político da Primeira República queriam reaver o domínio e passaram a se mobilizar contra o governo de Getúlio Vargas. A demora do governo provisório em convocar a Assembleia Constituinte, grupo de parlamentares que criaria uma nova constituição para o país, gerou muita insatisfação entre os paulistas que passaram a levar as reivindicações para as ruas. Em maio de 1932, durante a realização de um ato político no centro da capital, a polícia reprime duramente o manifestação, ocasionando a morte de quatro jovens. O movimento revoltoso passou a se chamar MMDC – Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo – em homenagem aos jovens que morreram e ganhou apoio de vários setores da sociedade civil paulista. Em julho teve início a rebelião armada dos paulistas contra as tropas do governo federal.

 


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