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Estado de Minas

Construtoras descumprem Código de Posturas e invadem calçadas para pedestres


29/12/2011 06:57 - atualizado 29/12/2011 09:07

Problemas na Rua Santa Rita Durão com Rua Rio Grande do Norte, na Zona Sul de BH
Problemas na Rua Santa Rita Durão com Rua Rio Grande do Norte, na Zona Sul de BH (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Em meio à correria diária nas ruas de Belo Horizonte, o pedestre busca seu espaço. Se a disputa com os carros é desigual e é difícil encontrar motoristas que dão preferência a quem está caminhando, o jeito é buscar a segurança nas calçadas. Porém, nem os passeios públicos dão condições de uma caminhada segura aos pedestres. A reportagem do EM percorreu três regiões da cidade e constatou que obras da construção civil em andamento na capital prejudicam a vida de quem anda a pé. As empreiteiras cometem abusos e invadem a área destinada aos pedestres, descumprindo as normas fixadas pela prefeitura no Código de Posturas. O desrespeito mais comum é a instalação de tapumes que avançam sobre o passeio e deixam uma área reduzida para o pedestre, menor do que a determinada pela legislação municipal.

De acordo com o Código de Posturas, a área destinada ao pedestre no passeio deve ser de no mínimo 1,5 metro. Quando a largura total da calçada for inferior a dois metros, 75% devem ser destinados à circulação, enquanto os 25% restantes ficam para o mobiliário urbano, como placas, bancas de revistas, telefones públicos, entre outros. No caso das obras, a lei diz que não é necessário licenciar o tapume quando ele estiver posicionado no alinhamento do lote. Porém, se a estrutura invadir o passeio, deve ser licenciada e ocupar no máximo metade do passeio, desde que a outra metade destinada aos pedestres tenha no mínimo 1,2 metro.

Não é o que ocorre na Rua Piauí, esquina com Rua Bernardo Guimarães, Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH, onde uma obra complica o caminho dos pedestres que passam pela Bernardo Guimarães. O tapume avança sobre o passeio, deixando apenas 1 metro para a circulação das pessoas. Como os motoristas que param os carros no estacionamento rotativo ainda invadem um pedaço da calçada, a largura fica mais reduzida e o pedestre mais espremido.

Quando os caminhantes se aproximam da esquina, há uma árvore na Bernardo Guimarães bem próxima ao tapume, reduzindo o espaço para uma largura de 70 centímetros. Nesse caso, não cabem duas pessoas lado a lado. A Construtora Ágata, responsável pelo empreendimento, reconheceu que o tapume na Rua Bernardo Guimarães invade a área dos pedestres, mas informou que o problema foi causado por um deslizamento de terras na área interna da construção. Segundo a empresa, o transtorno chegou próximo ao alinhamento do passeio e por isso foi necessário empurrar o tapume para não por em risco a segurança das pessoas. A contenção do local já foi feita e a construtora disse que hoje o tapume estará na distância correta.

Ainda no Bairro Funcionários, na esquina das ruas Santa Rita Durão e Rio Grande do Norte, a obra de um prédio bloqueia a passagem de pedestres pela calçada da Santa Rita Durão. Como há duas caçambas ao lado do passeio interditado, o jeito é arriscar e andar pela rua, se espremendo entre carros e caçambas. Crianças que estudam em um colégio perto passam pelo local e precisam andar pela rua sem segurança, já que não foi criada nenhuma passagem com telas e cones para os pedestres. Nesse caso, a construtora deve fazer uma passagem com segurança pela rua, com aval da BHTrans.

Falta de segurança

O empresário Leo Araújo, de 57 anos, mora perto da obra e diz que há dois anos os pedestres convivem com desrespeitos no local. “Quem passa por aqui sente uma completa falta de segurança. Às vezes eles liberam o passeio e em outras ocasiões fecham de novo. Fica sempre variando e o pedestre tem que se virar”, diz o empresário. A Somattos Engenharia, executora da obra, informou que o engenheiro está de recesso, mas que a situação do passeio é momentânea e já está sendo resolvida.

No Bairro Sagrada Família, Leste da capital, a situação se repete. O enfermeiro Renato Mendes, de 37, anda pela Rua São Joaquim três vezes ao dia e já se acostumou a caminhar na pista destinada aos veículos. “É muito comum as construtoras reduzirem o passeio para ganhar espaço na área interna da construção”, diz ele. Em frente ao número 138, onde há uma obra, o tapume deixou livre apenas 90 centímetros de passeio, que está completamente esburacado. No fim da calçada há uma placa de carga e descarga, deixando 40 centímetros de cada lado para circulação. Não há outra opção que não seja caminhar pela rua.

“Com a chuva o problema é ainda pior. Na calçada não tem espaço e nas ruas a enxurrada desce com força. Basta colocar os pés no asfalto para ficar tudo molhado”, completa Renato. A Anglo Engenharia, que toca a obra, informou que se constatar a irregularidade vai consultar a PBH e resolver o problema na semana que vem. A empresa apresentou alvará do tapume, mas com a notificação de deixar área de 1,2 metro livre.

A PBH informou que a fiscalização é feita de acordo com as reclamações recebidas no 156, BH Resolve, Sac Web e também pelas visitas rotineiras. A ação contempla os tapumes, telas de proteção, barracão de obras e andaimes. Neste ano, até 31 de outubro, foram 746 visitas, que geraram 98 notificações, 49 autos de infração e três embargos de obra. Em 2010 foram 737 visitas, resultando em 130 notificações, 37 autos de infração e dois embargos.


Palavra de especialista

Cláudia Pires – arquiteta e urbanista
conselheira superior do Instituto dos Arquitetos do Brasil/MG

Direitos devem ser garantidos

Os direitos de cada um precisam ser respeitados. As construtoras podem usar o passeio, desde que reservem uma área de no mínimo 1,2 metro, conforme prevê a lei. Quando isso não acontece os pedestres são prejudicados, mas quem sai perdendo ainda mais são as pessoas que têm mobilidade reduzida, como cadeirantes e deficientes visuais. Para que essas pessoas não sejam lesadas, a fiscalização da prefeitura tem que ser feita com rigor. O grande problema é que em muitas situações o desrespeito acontece em obras do próprio poder público, o que compromete a fiscalização adequada. Outra questão importante é a imagem da cidade. Belo Horizonte está se preparando para um evento de grande porte como a Copa do Mundo e não é bom receber um turista com passeios impedidos ou restritos à circulação de pedestres.


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