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Estado de Minas

Buracos nas ruas de Belo Horizonte atrapalham a vida de pedestres

Calçadas esburacadas, com canaletas de drenagem abertas ou galerias mal tampadas fazem de simples caminhada pelo Centro uma aventura que pode acabar no hospital. Em 11 meses, a prefeitura recebeu 2,6 mil queixas, mas número de fiscais é pequeno e multas, brandas


postado em 09/12/2011 07:10 / atualizado em 09/12/2011 08:11

Altair Ferreira se revolta com situação que considera absurda e arriscada, em passeio da avenida Getúlio vargas(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Altair Ferreira se revolta com situação que considera absurda e arriscada, em passeio da avenida Getúlio vargas (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Andar a pé por certas calçadas de Belo Horizonte tornou-se uma espécie de aventura em campo minado. Quem usa o passeio, que deveria ser um caminho seguro para pedestres, está sujeito a despencar em uma armadilha com prejuízos que vão desde um simples susto a torções e fraturas que custam dias de afastamento do trabalho e das atividades diárias. A dimensão do problema, que está longe de se restringir a bairros de periferia, pode ser medida pelo número de vezes que o telefone da central telefônica BH Resolve, da prefeitura, tocou este ano acionado por cidadãos revoltados com as condições das vias em que caminham. Apenas até novembro, foram 2.636 queixas, pedidos de reconstrução ou construção, média diária de quase oito. O número já é maior que o registrado em todo o ano de 2009, quando foram 2.537 chamados, e também em 2010, com 2.616. Um desafio para apenas 120 fiscais e uma legislação com multas brandas para quem deixa obstáculos no caminho do cidadão.

O tema é tão importante que a maior capital do país, São Paulo, formou um grupo de trabalho específico para tratá-lo, estabeleceu punição pesada para infrações e só no primeiro semestre disparou 2,4 mil multas contra donos de imóveis. Mas em Belo Horizonte basta dar uma volta pela cidade para perceber o descaso com as calçadas: buracos, caixas de telefonia abertas, grades de canaletas d’água retiradas e tábuas que escondem estragos da construção civil podem ser encontrados em alguns dos pontos mais movimentados e nobres da cidade. Ao proprietário do imóvel cabe a responsabilidade de construir e manter o passeio em bom estado de conservação. Porém, muita gente tem fechado os olhos para essa regra. Foi o que comprovou da pior maneira possível a manicure Tânia Demaria Passos, de 50 anos, que caiu em um buraco coberto por uma camada de cimento fresco, sem isolamento, em plena Rua Espírito Santo, no Centro de BH. O acidente aconteceu na terça-feira, quando Tânia se encaminhava para uma consulta ao ortopedista, já que se recuperava de uma cirurgia no joelho.

No dia em que a manicure anunciava a intenção de processar a prefeitura e a firma responsável pela armadilha, que ainda não foi nem identificada pelo município, a reportagem do Estado de Minas foi às ruas da capital conferir a condição dos passeios. E os flagrantes de descuido e de perigo foram muitos. Cenas como as que são testemunhadas diariamente pela dona de banca de revistas Maria Lúcia Alves Batista, de 56 anos, na Rua Goiás, esquina de Avenida Álvares Cabral. Trabalhando a um quarteirão da sede da Prefeitura de Belo Horizonte, a comerciante precisa todos os dias ajudar pessoas a se levantar, após tombos provocados pela falta de uma grade em uma canaleta de água no passeio. “Todo dia alguém cai ou tropeça aqui. É tanta gente que às vezes estou ocupada e nem dá para vir ajudar. Um dia, a vítima foi um desembargador (do Tribunal de Justiça, também na Rua Goiás). Tem idoso, criança, gente adulta que passa correndo. E isso está assim há cerca de seis anos”, denuncia.

A diarista Maria José Magalhães, de 61, constata o que está à vista de todos os que usam as calçadas do Centro: falta fiscalização. “A prefeitura precisa tomar conta disso. Tem que fiscalizar, porque passeio malconservado é um sinal de desrespeito com as pessoas”, cobra, enquanto tenta desviar de um buraco na Avenida Francisco Sales, altura do número 1.663, no Bairro Santa Efigênia.

Mudam as áreas da cidade, mas o descaso se repete. Em 15 minutos na mesma Rua Espírito Santo em que a manicure Tânia se acidentou, mas na esquina com a Avenida Amazonas, pelo menos três pessoas se desequilibraram ao passar pela calçada malconservada. O que à primeira vista nem parece um grande buraco torna-se um enorme percalço para pedestres. “Esse é um lugar por onde muita gente passa e nem assim resolvem o problema. Todos os dias, mais de 10 pessoas tropeçam aqui. Só hoje foram seis. Algumas apenas se desequilibram, mas outras só param no chão”, conta o pipoqueiro Cláudio Pereira, que mantém o carrinho bem em frente à armadilha no passeio.

Entre as pessoas surpreendidas pelo buraco está a operadora de caixa Rosalice Saraiva de Almeida Silva, de 30 anos. “Passei olhando para os lados, porque aqui é muito movimentado. Nem percebi o buraco. Quando vi, já estava caindo em cima de uma mulher. Ainda bem que ela me amparou, porque eu poderia ter me machucado”, disse. Minutos depois foi a vez de a operadora de telemarketing Taciane Adão, de 23, quase ir parar no chão. “Passeio é coisa séria. Tem que estar em bom estado, porque a gente pode se ferir com tanto buraco. Foi por um triz que não caí.” Delaine Lourenço, de 22, que trabalha como atendente de telemarketing em um prédio próximo, reclama: “Os passeios em Belo Horizonte são de péssima qualidade. Os problemas estão por toda parte. No Centro a gente percebe mais, mas nos bairros é a mesma coisa”.

CAIXA ABERTA Armadilha perigosa também deixou quem passava pela Avenida Getúlio Vargas, na Savassi, indignado. No cruzamento com Rua Santa Rita Durão, uma caixa aberta de uma operadora de telefonia expunha pedestres ao risco de desabar em um buraco de aproximadamente um metro e meio. Relatos de quem passou pelo local dão conta de que a situação ocorria desde a segunda-feira. Providência? Apenas a sinalização precária com pedaços de isopor, feita por funcionários de uma loja em frente . “O pessoal do estoque colocou o isopor, com o objetivo de sinalizar para quem passa, pois o movimento de pessoas aqui é grande e tem quem ande distraído, falando ao celular ou correndo”, contou o vendedor Leandro de Souza, de 27 anos. O porteiro Altair Mateus Ferreira, de 54, se impressiona com o perigo. “Essa situação é absurda. Um desrespeito com o cidadão. Quem cair aqui pode bater a cabeça e ter um traumatismo sério”, constatou.


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