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Estado de Minas 100 anos

De estádio a parque esportivo

Ideia fixa da colônia italiana de BH na década de 1920, campo do Barro Preto serviu de "palco" para o Cruzeiro e marcou história da evolução do futebol mineiro


17/09/2023 04:00
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Estádio Juscelino Kubitschek
Novidade para o público mineiro, especialmente o torcedor cruzeirense, Estádio Juscelino Kubitschek recebe grande público em partida da equipe celeste, inclusive com gente na cobertura (foto: Arquivo EM - 25/5/51)

 
Se hoje o Cruzeiro é o único time da capital que não conta com uma arena multiuso, em um passado distante o clube celeste se orgulhou de ter o próprio campo. Há quase 100 anos, no dia 23 de setembro de 1923, era inaugurado o Estádio do Barro Preto, onde hoje está localizado o Parque Esportivo do clube, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
"É una festa alla quale non puó mancare nessuno italiano", que, na tradução livre, quer dizer “É uma festa que nenhum italiano pode perder”, noticiava com entusiasmo o jornal “Aralto”, em 2 de setembro de 1923. Naquela época, era comum encontrar publicações direcionadas à colônia italiana no Brasil.
 
Lance da partida entre Cruzeiro e Villa Nova
Lance da partida entre Cruzeiro e Villa Nova, que terminou empatada por 1 a 1 (foto: Arquivo EM - 25/5/51)
 
 
O Flamengo, então campeão carioca, foi convidado para a partida inaugural. O jogo terminou empatado por 3 a 3. Heitor e Ninão (duas vezes) marcaram os gols para os palestrinos. Outras partidas foram disputadas no estádio antes desse jogo oficial de abertura.
 
O primeiro duelo registrado aconteceu em 1º de julho de 1923, com vitória sobre o Palmeiras-MG por 6 a 2. De acordo com a Enciclopédia do Cruzeiro, o time realizou 478 partidas no estádio, com 285 vitórias, 96 empates e 97 derrotas. Foram 1.370 gols feitos e 718 sofridos.
 
Desde a fundação do Palestra Itália, em 2 de janeiro de 1921, o assunto estádio era uma obsessão na colônia italiana em BH, que via no clube a representação da sua identidade nacional.
Cinco meses após a criação da agremiação, uma reunião em 2 de junho de 1921 montou um grupo especializado formado pelos conselheiros Mario Pace, Alberto Noce e Francesco Gaetani para tratar do assunto estádio com o arquiteto Ottaviano Lapertosa, que ofereceu serviços gratuitos ao Palestra.
 
Para apoiar o projeto, houve uma congregação da colônia italiana em BH, que chegou para trabalhar na fundação da capital mineira e se estabeleceu na cidade.
Assim como ocorreu com outros clubes, o Palestra Itália recebeu doação parcial de terreno no Barro Preto pela Prefeitura. Houve ainda pagamento de um conto de réis, conforme está escrito em ata do clube no dia 3 de agosto.
 
"Eu tive a oportunidade de traduzir as atas italianas dos primeiros anos do Palestra Itália e existem algumas particularidades. Muita gente fala que o terreno do estádio foi doado, mas não foi 100% doado como muitos imaginam. Tinha uma pessoa que usava o terreno como horta, por isso houve indenização", disse o conselheiro do Cruzeiro Anísio Ciscotto, que é diretor da Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira.
 
"O clube fez uma campanha para as pessoas fazerem as doações. Diferentemente de outras equipes de Belo Horizonte, o Palestra nasce da vontade e do desejo dos seus torcedores, que se uniram para construir o clube e o estádio".

artilheiro e pedreiro
 
A história do estádio do Barro Preto passa, entre outros, por João Lazzarotti, conhecido como Nani, um dos construtores do estádio e primeiro artilheiro do Cruzeiro. Antes de vestir a camisa do Palestra, ele havia jogado pelo Yale, outro clube italiano de BH.
 
"O primeiro presidente do Cruzeiro tinha uma alfaiataria e providenciou o tecido para fazer os uniformes. O próprio artilheiro Nani trabalhava com construção. A planta do estádio tem a mão dele ali, muita gente trabalhou na construção do estádio e arrecadou dinheiro", afirma Ciscotto.
Nani foi o autor dos dois primeiros gols da história do Palestra Itália, em amistoso contra o combinado formado por atletas de Villa Nova e Palmeiras, ambos de Nova Lima, que foi vencido pela Raposa por 2 a 0
 
De acordo com o livro Palestrinos, de Jorge Angrisano Santana, "é impossível precisar o número de jogos e de gols feitos por Nani com a camisa do Palestra. Ele foi titular até 1925 jogando como center-forward (centroavante) e meia."

Estádio JK
 
Inicialmente, o estadinho, como era conhecido, tinha capacidade para 5 mil pessoas, mas uma reforma ampliou sua totalidade para 15 mil, entre outra melhorias. As obras começaram em 1945, quando o clube já tinha alterado o nome para Cruzeiro. O Cruzeiro resolveu homenagear o então prefeito de BH, que torcia pelo time, e colocou o nome de Juscelino Kubitschek no estádio.
No jogo de reinauguração, o Cruzeiro convidou o Botafogo para um amistoso no dia 1º de julho de 1945. A partida terminou empatada em 1 a 1. Os gols do jogo foram marcados pelos icônicos Niginho, ídolo celeste, e Heleno, craque do Fogão. 
 
Com a construção do Mineirão, o Estádio do Barro Preto perdeu relevância. A última partida do profissional do Cruzeiro no local foi um amistoso contra o Democrata de Sete Lagoas, em 14 de fevereiro de 1965, vencido pela Raposa por 4 a 0. 
 
Cronologia 
 
Nome: Estádio Juscelino Kubitschek de Oliveira

Apelido: Estadinho do Palestra

Local: Barro Preto, em Belo Horizonte

Público: 5 mil (inicial) - 15 mil (após expansão)

Inauguração: 23 de setembro de 1923

Jogo de inauguração: Palestra Itália 3 x 3 Flamengo, em 23 de setembro de 1923

Primeiro jogo: Palestra Itália 6 x 2 Palmeiras-MG, em 1 de julho de 1923

Jogo de reinauguração: Cruzeiro 1 x 1 Botafogo, em 1 de julho de 1945

Primeira partida internacional: Cruzeiro 2 x 2 Libertad-PAR, 3 de janeiro de 1946

Última partida: Cruzeiro 1 x 1 Vila Nova-MG, em 9 de abril de 1970

Demolição: em 1985 para construção do Clube Campestre

Jogos do Cruzeiro no estádio: 478 partidas (285 vitórias, 96 empates e 97 derrotas)

Gols marcados: 1.370

Gols contra: 718 

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