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Estado de Minas INFLAÇÃO

Guerra, COVID e clima causa disparada de preços e sufocam orçamento

Especialista aponta os motivos diversos que fazem a inflação disparar e leva consumidores a economizar


30/04/2022 04:00 - atualizado 30/04/2022 10:10

Maria das Dores Ribeiro de Lima, aposentada
''Estamos passando apertado, tem que sair comprando o que está mais em conta. Hoje, fiz macarrão com salsicha porque não dá pra comprar carne. Arroz, feijão, açúcar e café foram os que mais subiram'' - Maria das Dores Ribeiro de Lima, aposentada (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.APRESS)

Basta uma ida ao supermercado para perceber que alimentos básicos consumidos pela população tiveram aumento expressivo de preço nos últimos 12 meses. O café teve variação de 43,12%, o óleo de soja de 25,98%, o leite de 11,58% e o pão francês de 5,75%, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país.

Tomate e cenoura apresentaram altas ainda maiores, de 159,78% e 224,85%, respectivamente. O feijão acumula queda de 4,27% nos últimos 12 meses, porém de janeiro para fevereiro deste ano teve alta de 9,07%. Outro item que também pesa no orçamento das famílias é o botijão de gás, que apresentou variação de 30,77%.

O economista-chefe do Denarius e professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Samuel Durso, explica que são vários os fatores responsáveis por esse aumento.

“Estamos passando por um momento em que vários fatores têm levado ao aumento dos preços. Isso acaba contaminando todo o processo da cadeia produtiva. É um fenômeno único de aumento de preços, mas para cada um dos componentes teríamos fatores específicos.”

O botijão de gás está vinculado ao preço dos combustíveis em geral e do petróleo no mercado internacional. “Desde o mês passado, ele teve um aumento expressivo, entre outras coisas, pela redução da oferta de petróleo no mercado internacional e aumento de preço da commodity. Tem também a questão da desvalorização do real e a guerra na Ucrânia, que gerou uma redução de oferta.”

O pão também é outro item que está relacionado com o conflito do Leste europeu, já que o trigo é um dos principais componentes do produto. “Na cadeia produtiva, principalmente as padarias já tinham segurado alguns aumentos e anunciaram que no início do mês ia ter reajuste. O trigo também é cotado no mercado internacional e o Brasil é um dos grandes compradores do insumo; como tivemos uma redução do dólar, o trigo estava sendo cotado no mercado interno a preços cada vez mais baratos, em real. Dependendo do que acontecer na guerra, pode ser que esse aumento se reverta nos próximos meses”, analisa Durso.

Já a produção de alimentos como cenoura e tomate foi afetada pelas condições climáticas. “Fez mais calor do que deveria ou choveu mais em determinadas regiões. São questões de safra mais momentâneas e em períodos subsequentes isso será ajustado. Não é um fator preocupante, como, por exemplo, dos produtos que estão relacionados ao petróleo, já que não tem uma perspectiva de que isso se altere no curto prazo”, ressalta o economista.

CLIMA 


O aumento do preço do café e do leite também está relacionado ao clima. “No caso do café, como é um produto que tem uma safra mais longa para colher, acaba demorando para que ele tenha uma oferta maior e o preço volte a normalizar um pouco. Já o leite, pode ser que tenha chovido menos em algumas regiões e o gado tem uma produção menor nesse período, pois não há outro fator externo que tenha gerado uma pressão maior.”

A alta no preço da soja, além de problemas com a safra, pode ser explicada pela possibilidade de transformação em outros produtos, causando defasagem no processo produtivo. “A soja pode ser usada desde alimento para gado até produção de óleo, carne, leite e combustível. Se uma área está com baixa, os produtores direcionam para uma que vai dar mais remuneração no período e falta soja para a fabricação desses outros produtos.”

Inflação alta é fenômeno após a pandemia

O economista-chefe do Denarius, Samuel Durso, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), explica que a inflação tem sido um problema não só no Brasil, mas em outros países. “É um contexto internacional pós-COVID. Tem um pouco de demanda reprimida, já que as pessoas estão consumindo mais, reajustes que foram segurados em função das limitações e restrições que estavam sendo impostas. Tudo começa a acontecer no mesmo momento e gera uma pressão geral na economia.”

Eduardo Moraes, supervisor operacional
''Não compro nada além do básico, mas os preços estão absurdos. Leite, material de limpeza e óleo de soja subiram demais. Como compramos todo mês, a gente percebe que o valor praticamente duplicou [de março para abril]'' - Eduardo Moraes, supervisor operacional

Mas a alta nos preços deste tipo de produto tem um impacto maior para as famílias de baixa renda. “As famílias brasileiras com menor renda acabam sofrendo um pouco mais. Ter uma inflação de 10% para quem ganha muito, vai sobrar menos para essa pessoa, mas ela vai conseguir comprar. Agora, quem já não consegue comprar tudo o que precisa, começa a ter que fazer um malabarismo para conseguir chegar ao final do mês”, diz Durso.

É o caso da aposentada Maria das Dores Ribeiro de Lima, de 65 anos. Ela mora no Bairro Paraíso, Região Leste de BH, com o marido, também aposentado, uma filha e uma neta. A família vive com dois salários mínimos mensais. Maria conta que costuma fazer compras todo mês e os produtos estão cada vez mais caros.

“Estamos passando apertado, tem que sair comprando o que está mais em conta. Hoje, fiz macarrão com salsicha porque não dá pra comprar carne. Arroz, feijão, açúcar e café foram os que mais subiram.” Apesar dos preços salgados, a aposentada diz que não vive sem o café, então para continuar consumindo o produto teve que trocar por uma marca mais barata. “Tem que levar o que está mais em conta. Compro só o básico. Tomate, por exemplo, tem tempo que eu não compro porque encareceu muito. Tem vez que não dá nem pra comprar pão.”

Para tentar economizar, ela fica atenta às promoções e pesquisa preços antes de ir ao supermercado. Mas, segundo ela, está cada dia mais difícil fechar as contas no fim do mês. “Ainda tem água, luz, aluguel, gás. Este mês eu paguei a água e a luz do mês passado, e ficou a desse mês. Quando chegar a outra vai ficar encostada, está sendo assim.”

COMPRA À VISTA

Outro que precisa se desdobrar para fazer as compras mensais é o supervisor operacional Eduardo Morais, de 46, morador do Bairro Saudade, Região Leste de BH. Ele conta que já não consegue comprar todos os produtos com o mesmo valor separado, no orçamento, para esse gasto. “Não compro nada além do básico, mas os preços estão absurdos. Leite, material de limpeza e óleo de soja subiram demais. Como compramos todo mês, a gente percebe que o valor praticamente duplicou (do mês passado para este).”

Mesmo com altos preços, Eduardo afirma que não tem como deixar de comprar esses produtos porque são considerados essenciais. “A gente precisa mesmo, não tem como ficar sem óleo, arroz e açúcar no dia a dia. Já aconteceu de comprar um pacote menor ou diminuir a quantidade de um determinado produto.” Todos os meses, os gastos acabam estourando o orçamento da família. “Não compramos no cartão ou dividimos, é sempre à vista mesmo.” Ele e a esposa dividem as contas. "Às vezes, atrasamos uma conta, deixamos para pagar uma conta de água ou de luz depois, e vamos empurrando com a barriga”, explica.







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