Seca nos rios do Amazonas

Seca nos rios do Amazonas prejudica o transporte, o que pode pressionar os preços de mercadorias, como o ar-condicionado

MICHAEL DANTAS/AFP

 
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado ontem pelo IBGE mostra que os preços do ar-condicionado subiram 6,09% no Brasil em outubro. É a maior inflação do produto em três anos, desde outubro de 2020 (10,54%). Os preços haviam avançado 1,43% em setembro de 2023. De acordo com o IBGE, esse aumento pode ser associado a pelo menos dois fatores: a recente onda de calor que atingiu regiões como o Sudeste e a seca histórica no Amazonas. Na teoria, as altas temperaturas tendem a elevar a procura pelo aparelho. Com a demanda maior, há uma pressão sobre os preços. Já a seca no Amazonas tem prejudicado o transporte de mercadorias pelos rios do estado.
 
Os reflexos da estiagem foram sentidos por indústrias que produzem eletrodomésticos e outros equipamentos na Zona Franca de Manaus. "Temperaturas mais quentes podem acabar influenciando os preços do ar-condicionado. Além disso, tem a questão da seca do Amazonas, que está dificultando a produção de diversas indústrias", disse André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA.
A inflação do ar-condicionado é calculada para 14 capitais e regiões metropolitanas. Em outubro, os preços do aparelho subiram em todos os locais. São Paulo registrou a maior alta: 10,69%. Campo Grande (9,63%) e Brasília (9,32%) vieram em seguida. Fortaleza teve a menor inflação do produto no mês passado (1,80%).
 
O calor que vem sendo registrado no país provoca impactos em diversas atividades da economia, que começam a colocar em prática medidas de contingência já existentes e planejam novas adaptações para um cenário de aquecimento prolongado. O aumento brusco da temperatura altera o rendimento de motores de aviões, eleva os custos com ar-condicionado em escritórios, prejudica setores agrícolas e represa vendas de parte do varejo.


Leve desaceleração

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, registrou leve desaceleração, chegando a 0,24% em outubro, após avanço de 0,26% em setembro. O novo dado (0,24%), divulgado pelo IBGE, ficou abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro. Analistas projetavam variação de 0,29% para outubro. Com o novo resultado, o IPCA ficou abaixo de 5% no acumulado de 12 meses. Até outubro, a alta desacelerou a 4,82%, apontou o IBGE. Nesse recorte, a variação era de 5,19% até setembro.
 
Os preços de oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram avanço em outubro. Transportes (0,35%) e alimentação e bebidas (0,31%) contribuíram com 0,07 ponto percentual cada para o índice geral. Comunicação (-0,19% e -0,01 ponto percentual) foi o único segmento em queda. Em alimentação e bebidas, a alimentação no domicílio subiu 0,27% em outubro, após quatro quedas consecutivas. Destacam-se as altas da batata-inglesa (11,23%), da cebola (8,46%), das frutas (3,06%), do arroz (2,99%) e das carnes (0,53%). Do lado das quedas, o IBGE ressaltou o comportamento dos preços do leite longa vida (-5,48%) e do ovo de galinha (-2,85%).
 
Ainda em alimentação e bebidas, o subgrupo alimentação fora do domicílio (0,42%) acelerou o ritmo de avanço em relação ao mês anterior (0,12%). As altas da refeição (0,48%) e do lanche (0,19%) foram mais intensas do que em setembro (0,13% e 0,09%, respectivamente). No grupo de transportes, o resultado foi influenciado pelo aumento de 23,7% dos preços da passagem aérea (23,7%). Esse foi o subitem com a maior contribuição individual para o IPCA de outubro (0,14 ponto percentual). Nos combustíveis (-1,39%), que também integram transportes, somente o óleo diesel (0,33%) apresentou alta. A gasolina (-1,53%), o gás veicular (-1,23%) e o etanol (-0,96%) caíram de preço.
 
O IPCA serve como referência para o regime de metas de inflação do Banco Central. Em 2023, o centro da medida perseguida pela autoridade monetária é de 3,25% para o acumulado em 12 meses até dezembro.A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo até o final do ano. Analistas do mercado financeiro projetam inflação de 4,63% no acumulado até dezembro de 2023, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira. Isso significa que a estimativa está abaixo do teto da meta (4,75%). 
 
Preços em BH

Pesquisa divulgada ontem pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), mostra que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Belo Horizonte apresentou um aumento de 0,42% durante a primeira quadrissemana de novembro (período de 08 de outubro a 07 de novembro de 2023), desacelerando em relação ao mês de outubro. No levantamento anterior (quarta quadrissemana de outubro), o IPCA havia apresentado alta de 0,46%. No decorrer deste ano, o IPCA de Belo Horizonte registra um aumento acumulado de 6,38%, enquanto nos últimos doze meses a alta é de 6,97%