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Estado de Minas

Efeito coronavírus? Produtores da Ceasaminas relatam queda brusca nas vendas

Feirantes atribuem mau desempenho do comércio nesta segunda-feira (23) ao fechamento de bares e restaurantes da capital, que passou a valer a partir da última sexta (20), com o decreto do prefeito Alexandre Kalil


23/03/2020 14:05 - atualizado 17/04/2020 07:12

Evaldo Moreira Andrade, produtor de Juatuba, na Região Central de Minas, chora ao falar do desempenho das vendas nesta segunda-feira (22):
Evaldo Moreira Andrade, produtor de Juatuba, na Região Central de Minas, chora ao falar do desempenho das vendas nesta segunda-feira (22): "Dá medo, sabe". (foto: Edésio Ferreira/EM/ D.A Press)

Ao meio-dia desta segunda-feira (23), quando se encerraram as atividades do mercado livre da Ceasaminas - principal centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros de BH e Região Metropolitana -, o produtor Evaldo Moreira Andrade voltou com 70% de sua mercadoria para casa.

O comerciante de 48 anos, que há vinte vende ervilha de vagem, berinjela, gengibre e outros produtos do gênero no local, diz que chegou a baixar os preços em 30%. “Mesmo assim, não vendi muita coisa. Hoje foi muito fraco. Estou pensando se compensa vir aqui na semana que vem. Dá medo, sabe?”. 

“Medo de se expor ao coronavírus ou de levar prejuízo?”, questiona a reportagem. “Das duas coisas”, responde o homem com a voz embargada. 

O receio de Evaldo é compartilhado por grande parte dos feirantes da Ceasaminas, onde o Estado de Minas esteve por volta de 11h30. Os cerealistas abordados pela reportagem foram unânimes afirmar: as vendas sofreram queda brusca. Alguns afirmam ter reduzido os preços em mais de 50%, mesmo fora do horário da xepa. 


Decreto

O principal motivo atribuído ao mau desempenho das vendas é o fechamento de bares e restaurantes na capital mineira à partir da última sexta (20), medida de enfrentamento à pandemia de COVID-19 estabelecida pelo prefeito Alexandre Kalil por meio do Decreto Nº. 17.297. Outro ponto comum aos entrevistados é a observação de que o baque no comércio ocorreu partir desta segunda (22).

Os números oficiais da Ceasaminas ainda não refletem o cenário desenhado pelos produtores. O preço médio dos produtos vendidos no local para esta segunda ficou em R$ 2,43, alta de 4,3% em relação à última segunda (16/3), quando o decreto de Kalil ainda não estava em vigor. 

Na visão dos analistas do setor de informações de mercado da Ceasa, isso se deve ao fato de que outras questões influenciam a variável, como mudanças climáticas e a sazonalidade dos hortifrutigranjeiros
 

Encalhe

“Até sexta-feira, estava tudo normal por aqui. Hoje, é que o movimento caiu. Está vendo aquele caminhão ali? É tudo de batata clone. Uma hora dessas, já estava tudo vendido para dono de restaurante. Eles gostam dela porque é barata e de boa qualidade. Hoje, sobrou isso tudo, eles não vieram”, relata o produtor Claudinei Godoy, apontando para um de seus caminhões. Expositor da Ceasaminas há 11 anos, ele diz que vai terminar a jornada desta segunda com 40% de seu carregamento “encalhado”. 

Claudinei Godoy vende batatas na Ceasaminas, em Contagem, Região Metropolitana de BH. Segundo o produtor, 40% de sua mercadoria ficou
Claudinei Godoy vende batatas na Ceasaminas, em Contagem, Região Metropolitana de BH. Segundo o produtor, 40% de sua mercadoria ficou "encalhada" nesta segunda (22). (foto: Edésio Ferreira/EM/ D.A Press)


Claudinei afirma que os donos de supermercados e sacolões também rarearam esta manhã. A mercadoria, segundo o feirante, tem validade de aproximadamente 15 dias.

"O que eu não vender nesta semana e na outra, vou ter que jogar fora ou doar. Pelo menos aqui tem o Prodal (Programa de reaproveitamento e distribuição de alimentos da Ceasaminas em parceria com instituições diversas). Desperdiçada de tudo, a mercadoria não fica, o negócio é o prejuízo. Vamos ver como fica o movimento aqui na quarentena. Vai ver, melhora com o tempo”, pondera. 

Num dos estandes de tomate, vegetal significativamente mais perecível que as batatas de Claudinei, o produtor se mostrou mais apreensivo. Ele diz que cinquenta por cento de sua clientela não compareceu hoje ao mercado, o que pressionou o corte dos preços pela metade. “Meu valor normal é R$ 80 a caixa. Estou vendendo a R$ 40. E ainda vou voltar com metade das caixas para trás. Em quatro, cinco dias, vai estar tudo perdido. Tenho pouco tempo para correr atrás do prejuízo. Se é que eu vou conseguir. ”, conta Márcio Pereira Gonçalves. 

Prevenção em baixa


Vendedoras de Maracujá, Ketlem Lorraine da Silva teme ser contaminada pelo coronavírus:
Vendedoras de Maracujá, Ketlem Lorraine da Silva teme ser contaminada pelo coronavírus: "Quem dera eu pudesse parar". (foto: Edésio Ferreira/EM/ D.A Press)


Vendedora de maracujá azedo, Ketlem Lorraine da Silva diz que a redução do faturamento assusta, mas as notícias sobre o avanço da pandemia são mais preocupantes. “Na verdade, eu gostaria é de não estar aqui. Estou com medo do tal coronavírus. Quem dera a nossa atividade não fosse essencial e eu pudesse parar”.

Ela é das poucas no local que usam algum tipo de proteção. No caso, luvas. Além desse cuidado, a jovem conta que passou a desinfetar as mãos com álcool em gel com mais frequência.  Claudinei - o produtor de batatas - usa máscara. Evaldo - feirante cujo depoimento abre este texto - , diz que não conseguiu comprar os insumos preventivos. "As máscaras, luvas e álcool em gel sumiram do mercado. Procurei para comprar, mas quem disse que eu achei?". O comerciante ao menos estabeleceu um rodízio entre seus funcionarios, a fim de evitar aglomerações. "Eram cinco, hoje, vieram dois", diz. 

A reportagem notou a presença de idosos trabalhando no local, o que está proibido desde domingo (22), quando a central de abastecimento estabeleceu novas regras de funcionamento, visando a prevenção contra o coronavírus. 

Outras medidas impostas pelo regulamento incluem: proibição da circulação de pedetres; restrição do tráfego de veículos - apenas veículos utilitários, com seus motoristas, operadores e auxiliares podem rodar na unidade - ; e proibição de consumo de alimentos no interior do mercado.  

NÚMEROS DO ABASTECIMENTO

  • 1,9 milhões de toneladas comercializadas por ano
  • 5,54 mil toneladas vendidas entre 1-23 de março
  • R$ 2,52 -  preço médio das mercadorias entre 1-23 de março


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