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Estado de Minas MERCADO DE TRABALHO

Una e Fiemg assinam parceria inédita para garantir emprego a jovens formados

Aliança estratégica pode ocupar gap de mão de obra; acordo também tem objetivo de ampliar competitividade industrial


postado em 17/02/2020 04:00 / atualizado em 17/02/2020 09:49

(foto: Wikipedia / Una.br)
(foto: Wikipedia / Una.br)

Há anos o mercado de trabalho brasileiro lida com dois sérios problemas de defasagem na área de formação profissional. O primeiro é o abismo entre a demanda e a oferta de trabalhadores qualificados em vários setores da economia, sobretudo em tecnologia, fundamental para o desenvolvimento das atividades da indústria, comércio e serviços. O segundo é a distância entre a academia e a orientação técnica e teórica, levando-se em consideração as necessidades do mercado para apresentar os resultados esperados.
 
Ciente disso, o Centro Universitário Una, da Ânima Educação, e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) firmaram parceria inédita para ampliar a empregabilidade, a competitividade e a inovação em Minas. A meta é ajudar empresas, educadores e jovens a sanar o gap entre a formação educacional e as necessidades do mercado.
 
Rafael Ciccarini, reitor do Centro Universitário Una, diz que uma das chaves para aumentar a produtividade no Brasil é a aproximação entre a academia e o setor produtivo. “Ouvimos dos industriais e do mercado que há posições abertas que necessitam de profissionais para resolver questões contemporâneas. E também que os alunos vindos de universidades não trazem competências tanto de soft skills (habilidades comportamentais) quanto de hard skills (habilidades técnicas) para lidar com a complexidade do mercado atual”.
 
Nascido dessa demanda, o Programa Indústria Jovem se volta para novas soluções para produtos e serviços, oferecendo estágio avançado em todos os segmentos industriais, formação de mão de obra especializada e maior aproveitamento das estruturas de educacionais das entidades envolvidas. O acordo foi anunciado durante simpósio dos professores da Ânima, em Belo Horizonte. O objetivo da parceria é ampliar a empregabilidade, a competitividade e a inovação em Minas.
 
O foco da parceria está na experiência profissional sob o enfoque da prática. Entre as novidades estão a criação de hub de soluções para a indústria, programa de trainee visando aproximar os melhores alunos de grandes indústrias, estágios avançados em todas as áreas de atuação da Fiemg e espaço para docentes da Una em câmaras e conselhos de áreas técnicas, como os setores jurídico, econômico e trabalhista.
 
O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, ressalta que a indústria necessita de profissionais conectados com os desafios do setor. “Falta ao Brasil a junção do conhecimento com aqueles que produzem. O primeiro objetivo da parceria é fazer com que isso se torne mais palpável, tornar o profissional mais qualificado para trabalhar nas empresas”.
 
Estudantes do Centro Universitário Una terão acesso a laboratórios da rede Sesi e Senai de ensino, e também a empresas parceiras da Fiemg, alinhando o saber teórico à prática de mercado. Isso permitirá formar profissionais mais capacitados para atender às demandas da indústria.
“Um dos espaços que os alunos poderão utilizar é o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT Senai Fiemg), moderno complexo de laboratórios que tem em seu quadro mestres e doutores prontos para solucionar problemas do setor produtivo”, destaca Flávio Roscoe.

Aprendizagem


O reitor Rafael Ciccarini aponta a desarticulação entre conteúdos ministrados nas salas de aula e os problemas reais vividos pelas empresas. “Muitas vezes, a indústria traz um aluno com a teoria, porém na prática tem de treiná-lo de novo. A Una, dentro do nosso posicionamento estratégico, é a marca que mais deseja estar mais perto do mercado de trabalho. Nosso estudante quer qualidade e condições de transformação para o país e para a vida dele. É um aluno que trabalha de dia e estuda à noite. Inquieto, não se conforma com o status quo dele e das coisas. Tudo o que deseja é, de fato, a proximidade com quem pode empregá-lo”, explica o reitor.
 
O presidente da Ânima Educação, Marcelo Battistella Bueno, comemora a parceria, destacando que o país precisa desta aproximação para voltar a crescer. “Essa história de que o jovem se forma primeiro para aprender a trabalhar depois é um absurdo, nos dias de hoje. Devemos oferecer essa aprendizagem ao longo da formação. Nosso currículo é o que há de mais moderno no mundo no que se refere a competências voltadas para o trabalho. Nossa missão vai ao encontro da missão da própria Fiemg”, assinala.
 
Rafael Ciccarini, reitor da Una, diz que o Brasil precisa da parceria entre a universidade e o setor produtivo(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Rafael Ciccarini, reitor da Una, diz que o Brasil precisa da parceria entre a universidade e o setor produtivo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Entrevista/Rafael Ciccarini - Reitor da Una

"Interação é fundamental"

A aliança da academia com as empresas é fundamental para o aumento da produtividade no Brasil, defende o reitor do Centro Universitário Una e diretor de operações MG/GO da Ânima Educação. De acordo com ele, chegou a hora de pôr fim ao hiato entre o pensamento da escola formal e a produção industrial

Quais são as ações mais urgentes para reduzir o fosso entre a academia e o mercado?
O Brasil precisa da aproximação entre a indústria e a universidade. O país, que já conta com o custo Brasil alto – aquele decorrente da deficiência em áreas estratégicas e condições desvantajosas em relação a outras nações –, também tem um produto defasado e mais caro por falta de mão de obra especializada e bem preparada. As universidades vieram para o centro das cidades, falta adentrar a indústria. Iniciaremos o relacionamento com mais de 50 escolas do Sesi e do Senai. É interessante porque nosso Plano Nacional de Educação (PNE) não articula devidamente as dimensões do ensino médio, técnico e superior. Essa é uma das razões pelas quais existe o gap entre o mercado e a academia. Temos técnicos que suprem determinada característica de necessidade do mercado. Mas existe um campo entre o técnico e o bacharel, ou seja, há bacharéis demasiadamente teóricos e essa cultura, que chamamos de bacharelismo, é muito teórica, há muito conteúdo desarticulado.

Como surge esse gap?
O que cria o gap que está justamente entre o técnico e, digamos, aquele que terá o papel de pensar a sociedade, o intelectual. Essa figura é importante e merece destaque, porque a academia segue tendo o papel e a função de pensar o mundo. A universidade não serve apenas para resolver questões do mercado. Porém, fomos muito para esse lado, por uma questão de tradição europeia, tradição mapeada desde a Grécia Antiga. Fomos mais para o lado da universidade como centro de pensamento de excelência do que para uma tentativa pragmática de estabelecer os locais de cada grau de formação de acordo com a realidade efetiva. Na área de tecnologia, por exemplo, há muitas vagas para necessidades que surgem rapidamente no mercado e em áreas que não são de nível médio ou técnico. Elas são de nível superior, mas o profissional de nível superior não consegue, não tem a velocidade, a adaptabilidade e as habilidades de relacionamento necessárias. Ele não consegue, por exemplo, atender a uma das lógicas das empresas de hoje, que é trabalhar em squads. Você precisa saber trabalhar em conjunto. Os profissionais saem sabedores de hard skills, com competências como, por exemplo, fazer um cálculo da engenharia, mas não conseguem interagir com profissionais de outras áreas. Essa interação é fundamental para trabalhar numa squad e numa obra. Então, os gaps nascem do problema estrutural da falta de um plano amplo da educação brasileira.

Como deve se dar essa interação?
É fundamental negritar que se trata de uma relação dialética. O mercado oferece insumos à academia e a academia oferece de volta insumos para o mercado. O que não pode haver é separação. Por isso, não há subordinação de um ao outro. Estamos numa sociedade, as separações são abstratas. Todos vivem em uma pólis com a mesma realidade e problemas. O Brasil tem problema de produtividade e precisamos dar emprego para as pessoas. Há muitos bacharéis descolados deste mundo, com conteúdos importantes, mas que não têm a capacidade de articulá-los em soluções reais.

Atualizar a grade curricular é um dos maiores desafios. Como agir?
Perpetua-se, mesmo com toda a história do desenvolvimento moderno das universidades, o hiato entre o pensamento da escola formal e a produção industrial. Não faz sentido ensinar ao aluno conceitos, fórmulas e conhecimentos que não se traduzem em competências e habilidades que não serão demandadas no mundo real. Não se trata de descartar o conhecimento teórico, necessário ao pensamento crítico, mas de promover o encontro paradigmático de projetos que têm como missão a transformação e a conexão entre a educação e a produtividade. Conteúdos ministrados nas salas de aula são desarticulados dos desafios e problemas que o mercado enfrenta. Assim, o industriário acaba tendo que “reformar” o profissional já formado, em suas fábricas. Isso não é subordinar a academia ao mercado, mas entender que Minas Gerais e o Brasil precisam aumentar a produtividade e voltar a crescer de forma perene. Produtividade está intimamente ligada a questões estruturais, às reformas, ao ambiente econômico, jurídico e regulatório eficaz e à capacidade de inovação.

Quais serão as primeiras medidas da parceira entre Una e a Fiemg para sintonizar mercado e profissionais?
O mais importante é que teremos um hub nas indústrias. Vamos entregar soluções para os problemas da indústria e do mercado. Eles apresentam um problema e nós vamos, com nossos alunos, professores e agentes acadêmicos, enfrentá-lo na realidade. É a nossa tentativa de cortar caminho entre os problemas reais enfrentados pelo mundo da produção e do mercado e o mundo do conhecimento. Haverá estágios dentro da Fiemg e dos parceiros da Federação das Indústrias. Teremos uma troca de experiência. Vamos aprender com o que a indústria está fazendo hoje nas áreas da engenharia e tecnologia para renovar nossos cursos e laboratórios, atualizar nossas matrizes curriculares. De volta, devolveremos ao mercado o que pensamos para o dia a dia que a produção não contempla.

Como se dará essa troca?
É importante ressaltar a troca de espaços. Os nossos laboratórios e os laboratórios reais. Nós temos laboratórios que simulam a realidade, mas na própria estrutura das empresas temos a realidade de per si. Então, o intercâmbio de espaços é importante também. Esse hub de soluções e a promoção de pontes de diversas maneiras são um caminho. Claro, a parceria não vai resolver o problema do dia para a noite, pois ele, como já disse, é estrutural. Mas ela é paradigmática. Esperamos que não só a Una seja conhecida como vanguarda por este passo, mas também que seja o primeiro passo para que tal relação se estabeleça em todos os níveis de maneira mais prática, complexa, efetiva e mais construtiva para que consigamos caminhar enquanto projeto nacional e para o Brasil. Enquanto visão de futuro mais promissora para todos.


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