A possibilidade já considerada pela indústria mineira de encerrar 2018 com queda da produção ganhou força diante dos resultados do primeiro semestre mais fracos do que o esperado pelo setor e da expectativa frustrada de redução da taxa básica de juros, a Selic, que tornaria os custos mais baixos e estimularia o consumo. A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) chegou à metade do ano trabalhando com retração de 1,5%, em média, nas fábricas, em 2018, e agora parte para a terceira revisão dos seus principais indicadores num cenário mais provável para balanço no vermelho.
Pouco antes do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a manutenção da Selic em 6,5% ao ano, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, afirmava que uma redução da taxa de juros seria fator essencial para resultado melhor de julho a dezembro. “O que a gente vê é a lenta recuperação da economia, com inflexão do emprego em junho, ainda sob os impactos da paralisação das estradas em maio”, afirmou.
De janeiro a junho, dos seis indicadores de desempenho da indústria mineira, dois mostraram avanço em relação ao primeiro semestre do ano passado – o faturamento cresceu 2,8% e o uso da capacidade produtiva das empresas ficou em 78,9%, quando no acumulado de 2017 marcava 77,1%. Ainda assim, segundo Flávio Roscoe, o desempenho da receita se deu sobre base muito baixa de comparação, o ano passado, período em que o Brasil passou por uma das maiores crises de sua história.
O uso da capacidade produtiva, no entanto, embora tenha reagido, está abaixo da média histórica da atividade no estado, de 83,1%. Os outros quatro indicadores ficaram negativos, em maior grau nas horas trabalhadas na produção, que caíram 1,7% no primeiro semestre de 2018, seguidas do encolhimento de 0,4% da massa salarial; de 0,3% do rendimento médio real (descontada a inflação) e de 0,1% do emprego.
Os números representaram uma espécie de ducha de água fria, para a indústria de Minas. “O primeiro semestre poderia ter sido 30% melhor não fossem os impactos da greve dos caminhoneiros em maio e a incerteza provocada pelo processo eleitoral”, disse o presidente da Fiemg. O cenário melhor desenhado para o segundo semestre, contudo, não significa que será possível compensar perdas ocorridas em 10 dias de paralisação das fábricas, a qual afetou o fluxo de caixa das indústrias, além de derrubar a dinâmica das vendas, que vinham em recuperação.
Como esperado, junho trouxe resultado excepcional, com expansão de 26,8% do faturamento das empresas depois da profunda queda de 16,2% de maio. As horas trabalhadas também subiram (1,1%) na análise mensal, acompanhando o movimento da indústria brasileira. O emprego em Minas se manteve negativo de um mês para outro, em -0,2%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também divulgou seus números ontem, mostrando receita 26,4% maior em junho, frente ao mês anterior. Foi o primeiro crescimento semestral em quatro anos.
Próximos meses
Na avaliação do presidente da Fiemg, partem melhor posicionadas para este segundo semestre as indústrias que são grandes exportadoras, tendo em vista a receita mais alta em reais, devido à desvalorização cambial, e os fabricantes de bens duráveis, como automóveis e eletroeletrônicos, que vêm se beneficiando do crédito tomado pelo consumidor a juros mais baixos.
Apostar em novas previsões, no entanto é precipitado até que os economistas da entidade refaçam os cenários para os indicadores do setor. Até o momento, a Fiemg vem projetando crescimento de 1,6% da economia brasileira em 2018, depois de ter trabalhado com 3%, e decidiu rebaixar a previsão para Minas Gerais, de aumento de 2,5% para 1,2%. “No caso do Brasil, reduzimos a projeção em 1,4 ponto percentual. É uma tragédia, lembrando que o mundo está crescendo 3,8% em média”, destacou Flávio Roscoe.
A performance da indústria e do estado deverão ser afetados também neste semestre, se mantida a paralisação das atividades das mineradoras Anglo American, em Conceição do Mato Dentro, e Samarco, em Mariana, ambas as cidades na Região Central de Minas. A Samarco está paralisada desde novembro de 2015, em razão do maior desastre ambiental vivido no país; e a Anglo American suspendeu suas operações devido a dois vazamentos de minério de ferro ocorridos em março na porção mineira de seu mineroduto.
Enquanto isso...
….Em defesa de ferrovia
O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, comemorou ontem o anúncio da Associação Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de que vai rever a decisão de reservar à construção de uma ferrovia no Centro-Oeste os recursos de R$ 4 bilhões acertados com a mineradora Vale, dona da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), como contrapartida pela renovação de sua concessão ferroviária. A Fiemg se mobilizou contra a medida, defendendo que o dinheiro seja aplicado na EFVM, que corta Minas Gerais em direção ao litoral do Espírito Santo. Segundo Roscoe, o orçamento da companhia para investimentos é ainda maior, tendo em vista que a Vale informou à entidade a intenção de aplicar R$ 1,5 bilhão ao longo da Vitória a Minas.
POUCO ALENTO
Evolução dos principais
indicadores da indústria
de Minas de janeiro a junho
Faturamento 2,8%
Horas trabalhadas na produção -1,7%
Emprego -0,1%
Massa salarial -0,4%
Rendimento médio real -0,3%
Utilização da capacidade instalada 78,9%
Fonte: Fiemg