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Estado de Minas

Abastecimento na Ceasa pode demorar 10 dias para voltar ao normal a partir do fim da greve

Produtores afirmam que o mercado de hortifrútis está zerado. Os reflexos podem ser vistos nas prateleiras dos supermercados e mercado


postado em 26/05/2018 06:00 / atualizado em 26/05/2018 07:55

Espaço dos produtores de hortifrútis na Ceasa com movimento bem abaixo do normal...(foto: Fotos: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
Espaço dos produtores de hortifrútis na Ceasa com movimento bem abaixo do normal... (foto: Fotos: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)

A batata frita pode desaparecer do prato dos brasileiros nos próximos dias. A falta do produto resulta da crise de abastecimento de hortifrútis, causada pela greve dos caminhoneiros iniciada na segunda, que impede a chegada até os entrepostos de comercialização. O Estado de Minas esteve na Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas) para ouvir os produtores. Eles acreditam que a situação de desabastecimento levará, pelo menos, 10 dias para ser normalizada. Na manhã de ontem, comerciantes afirmaram que o movimento foi de 20% do fluxo normal.

“O mercado de hortifrútis está zerado. Ninguém está conseguindo chegar do interior até aqui na Ceasa. Mesmo se a greve tivesse acabado, levaria 10 dias para normalizar. Se liberar hoje (ontem), na segunda ainda não dá para abastecer”, afirma o produtor Gilberto Lourenço, de 35 anos, que comercializava a saca de 50 quilos de batata-inglesa a R$ 250. Diariamente, ele e o sócio Luiz Renato de Carvalho desembarcam a carga de 600 sacas, mas por causa da greve reduziu a entrega. Se os corredores da Ceasa estão vazios, os reflexos podem ser vistos nas prateleiras dos supermercados e mercados, que estão sem produtos ou, quando têm, são vendidos a preços acima da média.


Na quinta-feira, o governo federal anunciou acordo com nove entidades representativas dos caminhoneiros, no entanto, na sexta muitos dos grevistas continuaram parados, chegando a fazer 66 pontos de bloqueios em Minas. Entre as medidas para conter a greve, o governo federal anunciou zerar a Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) sobre o diesel.

A batata-inglesa foi o produto com maior variação de preço, com altas de até 700% na saca de 50 quilos. Antes da greve, a saca era negociada em média a R$ 70. No quinto dia da greve, na manhã de ontem, os preços giravam em torno de R$ 250. No entanto, alguns produtores chegaram a oferecer a saca a R$ 500, conforme relatou o proprietário de sacolão do Centro de Belo Horizonte Leandro Tadeu da Silva, de 35 anos.

Devido à alta dos preços, ele comprou muito menos produto para seu comércio: das habituais cinco sacas, levou apenas uma. “Não achamos mercadoria para comprar. O preço está surreal. Quando repassamos para o cliente, ele acha que estamos roubando. Prefiro deixar minhas bancas vazias”, diz Leandro. No entreposto da Ceasa, costumam chegar de 20 a 30 caminhões carregados de batatas, mas, ontem, chegou apenas um carregamento, dos produtores Gilberto Lourenço e Luiz Renato de Carvalho. A maior parte do produto negociado foi a sobra dos carregamentos que chegaram na quinta.

 

Caminhonetes 


A variação do preço atingiu outros produtos, como o tomate e o limão. Painel eletrônico com o fluxo de produtos informava que, na sexta-feira, dia 18, a Ceasa recebeu 28,5 mil caixas de tomate. Uma semana depois, chegaram apenas 3,5 mil, uma diferença de 25 mil caixas. A oferta pequena fez com que o preço da caixa do hortifrútis aumentasse de R$ 35 para R$ 70.

“Se não tiver mais entrada, o tomate pode chegar a R$ 100 a caixa amanhã (hoje)”, afirma o produtor de São João de Manhuaçu, Lucas Marques Álves Dutra, de 29, que conseguiu trazer 60 caixas em duas caminhonetes. Parte da colheita da semana estava prestes a se perder. O caminhão com o carregamento estava parado havia quase 24 horas na BR-262 em Realeza, com 400 caixas. “Com caminhão parado na pista, em dois dias perco toda mercadoria”, explicou. Para conseguir trazer o mínimo de tomates, ele improvisou com caminhonetes que não estavam sendo impedidas de seguir nos bloqueios.

No entanto, sem conseguir abastecer os veículos, Lucas temia não conseguir retornar para fazer outros carregamentos. “Nosso prejuízo vai muito além do lucro que as pessoas pensam que temos com esse aumento dos preços. A gente não consegue trazer os produtos, que se estragam na estrada. Todo mundo perde”, afirmou Lucas. A comerciante Cleusa Melo da Silva, de 55, comercializava a saca de 20 quilos de limão a R$ 80, quase o triplo do preço praticado antes do início da greve (R$ 30 a saca). Como o produto vem de Lagoa Santa, com os bloqueios das estradas, não foi possível manter a oferta regular. Os comerciantes avaliavam que, se o abastecimento não se normalizasse, o preço poderia chegar a R$ 130.

O comerciante Luiz Carlos Fernandes Damião, que voltou para Esmeralda com a caminhonete praticamente vazia(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
O comerciante Luiz Carlos Fernandes Damião, que voltou para Esmeralda com a caminhonete praticamente vazia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Muitos comerciantes foram em busca de produtos, mas não encontraram. O comerciante Luiz Carlos Fernandes Damião, de 29, foi de Esmeralda até a Ceasa, mas voltou com a caminhonete praticamente vazia. “A cenoura acabou. O pimentão está R$ 50 a caixa, normalmente é R$ 15. A batata está a R$ 250 a saca. A beterraba que, normalmente, é R$ 20 a saca está a R$ 150. Morango também está muito caro”, afirmou.

A assessoria de comunicação da Ceasa disse que a instituição não está se pronunciando sobre os efeitos da greve no abastecimento de produtos.

Retratos do comércio de BH, ontem: supermercado com gôndola vazia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Retratos do comércio de BH, ontem: supermercado com gôndola vazia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)

Gôndolas vazias em supermercados

A manifestação dos caminhoneiros tem feito muitos consumidores correrem aos supermercados para abastecer a geladeira e as prateleiras de casa. Em alguns estabelecimentos, com o grande número de clientes e a falta de mercadorias para reposição, gôndolas ficaram vazias no final da tarde de ontem.


Teve gente que preferiu se precaver e comprar mais do que está acostumado. Caso da aposentada Raimunda Delfina dos Reis, de 77 anos. “Somos apenas duas pessoas em casa, mas como não sabemos se vão liberar os caminhões, é preciso garantir. Os impostos estão tão altos, temos direito de ter uma vida melhor, porque está muito difícil desse jeito”, reclamou.

Gerente de um supermercado na Região Central de BH, Robert Pacheco da Cruz diz que ainda não faltam produtos porque existe uma central de redistribuição que tem estoque para abastecer as lojas da rede, mas as mercadorias que vêm de terceiros, que precisam de transportadora, estão nos trechos, todos parados aguardando liberação de pista”, complementa.

Açougue sem carne de porco(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Açougue sem carne de porco (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)

Além dos supermercados, os açougues também têm sido afetados pelo desabastecimento. Segundo Wanderson Edson Pereira da Silva, gerente do açougue Xavier Carnes, no Bairro Santa Efigênia, alguns produtos estão em falta, como a carne de porco. “O que está com estoque zerado é a carne de porco e a linguiça”, afirma. Segundo ele, outros tipos de carne devem durar por poucos dias”, complementa o gerente.

Somos apenas duas pessoas em casa, mas como não sabemos se vão liberar os caminhões, é preciso garantir”

Raimunda Delfina, 
Aposentada


Análise da notícia

 

Quem paga o pato?

Marta Vieira

Qualquer solução para pôr fim à greve dos caminhoneiros ficou mais difícil e levará tempo que não se esperava, depois do anúncio inócuo do governo de um acordo para suspender o movimento e da evidente participação, agora clara, das empresas na greve, com base em relatos da própria categoria. Se o governo não foi capaz o suficiente de convencer os caminhoneiros a voltar ao trabalho, percebe-se que precisará de força além do poder de polícia para lidar com a estratégia ilegal das transportadoras de, por meio do locaute, forçar elevação de preços ou tarifas de bens e serviços, além de retirada de impostos. A população tem razão de sentir, no quinto dia da paralisação dos caminhões, que já está pagando esse pato e vai continuar a arcar com o desgaste e o prejuízo provocados pela greve.


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