
O Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) estimou, no começo da noite, que a adesão dos profissionais ao movimento em Belo Horizonte chegou a 80%. No interior do estado, 90% dos médicos credenciados pelos planos teriam cruzado os braços. Só a Unimed, operadora do maior plano de saúde de BH, tem 7 mil médicos credenciados em Minas. Houve pacientes que não foram alertados a tempo sobre a greve parcial e perderam a viagem à capital mineira.
Em São Paulo – onde houve manifestações na Praça da Sé –, no Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Curitiba, a estimativa é de que 70% dos médicos tenham parado para reivindicar a abertura de negociação para reajustar honorários. Em Belo Horizonte, os usuários sofreram com a suspensão parcial dos atendimentos nos principais hospitais, No Felício Rocho, no Barro Preto, Região Centro-Sul, que oferece cerca de 250 consultas por dia, apenas dois dos 60 médicos que atenderiam consultas pagas pelo plano de saúde bateram ponto.
O Life Center, no Bairro Serra, registrou 60% de queda dos atendimentos custeados pelas operadoras. Já no Vera Cruz, também “houve redução significativa nas consultas”, conforme informou o departamento de marketing da instituição. Idêntica informação foi prestada pelo Vila da Serra, de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. As duas instituições deverão divulgar, hoje, o balanço do dia de paralisação. O número de consultas também diminuiu de forma drástica nos consultórios da capital. A maioria deles, que sobrevive dos planos de saúde, engrossou o movimento, de acordo com as entidades de classe dos médicos e levantamento feito pelo Estado de Minas.
Receio
A paralisação parcial confundiu clientes dos planos de saúde, como a engenheira civil Silvana Hotes, de 33 anos. Ela chegou no começo da tarde ao Hospital Life Center disposta a pagar pela consulta. “Estou com intoxicação alimentar e, como os médicos não estão atendendo (pelas operadoras), estou disposta a pagar pelo serviço, pois estou passando muito mal”, ela avisou. Minutos depois de retirar a senha do atendimento, foi informada de que só os serviços de urgência e emergência não haviam sido afetados pela greve.
Novas paralisações preocupam os usuários dos planos. O aposentado José da Silva Ávila, de 68 anos, precisa de sessões de quimioterapia a cada 15 dias e teme pelo alerta dos médicos. “O principal prejudicado é o doente”, critica o aposentado. Ontem, porém, ele teve sorte: foi atendido na clínica em que faz o tratamento. “Geralmente, fica bem cheia, mas hoje (ontem) estava vazia”.
Dona Maria Madalena de Andrade Silva, de 62, também está preocupada. “Moro em Esmeraldas, na Grande BH, e venho à capital, três vezes na semana, para sessões de hemodiálises. Se não puder ser atendida no dia certo, temo por minha saúde”, diz a aposentada, que ontem deu sorte de ser atendida no Felício Rocho. A instituição informou que os dois médicos que bateram ponto não furaram a greve da categoria – atenderam pacientes que moram em cidades distante da capital.
Novos protestos
A maior parte dos médicos recebe de R$ 25 a R$ 40 por consulta, valor que as entidades de classe querem elevar a pelo menos R$ 60. Lincoln Lopes Ferreira, diretor da Associação Médica de Minas Gerais, afirmou, ontem, que ainda considera modesto o reajuste, ao defender a quantia de R$ 80, valor conquistado pelos médicos credenciados de Brasília.
O presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, Manuel Maurício Gonçalves, argumentou que há operadoras de planos de saúde pagando aos médicos R$ 22 a R$ 23 por consulta, além de só efetuarem o repasse três a seis meses depois de o cliente ter efetuado o pagamento pelo serviço. “Se não houver uma resposta dequada dos planos de saúde, nós vamos partir para demonstrações mais efusivas”, afirmou.
A Unimed, que anunciou na quarta-feira a decisão de reajustar em 11,11% o pagamento aos profissionais relativo às consultas médicas, informou que os seus serviços próprios funcionaram normalmente (ambulatórios e hospital). A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) se manteve à parte do movimento, depois de emitir nota argumentando que não faz parte de suas atribuições a discussão de remuneração a prestadores de serviços. Por sua vez, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), instituição que tem por função regular o setor, também não se envolveu na confronto. Apenas informou em nota estar trabalhando pelo entendimento das partes e o equilíbrio do sistema.
PELO PAÍS
Curitiba
A greve parcial afetou a rotina do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia (IPO), que atende, em média, 700 consultas/dia. Nenhuma foi agendada para ontem. O médico Luciano Prestes, coordenador de emergência, informou que os 50 especialistas que trabalham no local aderiram à paralisação. A instituição atendeu apenas emergências.
Rio de Janeiro
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), que organizou uma manifestação da categoria naquele estado, estima que 70% dos profissionais fluminenses aderiram ao movimento. "Todos os anos, os pacientes pagam reajustes às operadoras, mas estes valores não são repassados aos médicos", criticou Márcia Rosa de Araujo, presidente da entidade.
São Paulo
O maior protesto foi organizado na capital paulista, onde cerca de mil médicos saíram em passeata, pelas ruas do Centro, defendendo o aumento na tabela de honorários pagos pelas operadoras. Vários consultórios fecharam as portas ou só atenderam clientes que pagaram a consulta do próprio bolso.
Brasília
Médicos fizeram um ato simbólico em frente ao Centro Clínico Sul, na Asa Sul. Pelo menos pela manhã, o atendimento ficou prejudicado nas clínicas de Brasília. Já no Instituto de Medicina Especializada (IMED), apenas a emergência funcionou. No Hospital Santa Luzia, emergências e serviços particulares foram atendidos.
Salvador
Também houve adesão ao movimento na capital baiana. No Instituto Cárdio Pulmonar, por exemplo, o coordenador do ambulatório, Marcelo Junqueira, disse que 90% dos profissionais entraram na paralisação. Numa manhã normal, 13 médicos atendem em consultório.
