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Estado de Minas

Ruas do centro de BH têm comércio do popular ao chique

De um lado ao outro da Contorno, passeio pelas ruas da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Avenida Olegário Maciel revela as diferentes realidades do consumo em BH


postado em 27/02/2011 07:57 / atualizado em 27/02/2011 09:42

Na parte alta, a loja de calçados é sofisticada e cara. A gerente Angélica Arantes oferece produtos de até R$ 799. Uma bota de couro custa R$ 399(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Na parte alta, a loja de calçados é sofisticada e cara. A gerente Angélica Arantes oferece produtos de até R$ 799. Uma bota de couro custa R$ 399 (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Quase 114 anos depois de o engenheiro Aarão Reis (1853-1936) projetar Belo Horizonte no formato de um tabuleiro de xadrez, o comércio de ruas e avenidas do perímetro interno da Contorno mostra como a economia do hipercentro da capital é uma espécie de moeda com duas faces bem distintas. Enquanto as lojas dos corredores próximos ao Bulevar Arrudas sobrevivem do público de curta renda, as da outra ponta esbanjam fartura. O Estado de Minas percorreu quatro vias – Avenida Olegário Maciel e ruas Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia – e constatou as estratégias dos comerciantes que atendem públicos tão diferentes e situações pitorescas, como a possibilidade de o consumidor conferir a inflação dos tradicionais pastéis da Rua da Bahia, onde o preço da fritura oscila em 420%, de R$ 0,25 a R$ 1,30.

Já na Olegário Maciel, o tipo de moedas na carteira do consumidor revela a divisão socioeconômica. Enquanto clientes de um restaurante vizinho ao terminal rodoviário contam moedas de metal para pagar um PF de R$ 3, os da área nobre fecham boa parte das compras na moeda de plástico (cartões de crédito e débito). Na Rio de Janeiro, os opostos também são evidentes. Numa ponta, produtos são expostos em lojas apertadas. Na outra, as vitrines são refrescadas pelo ar-condicionado. Na São Paulo, o contraste dá as cores. Na parte baixa, há intensa movimentação de pessoas atrás dos produtos de shoppings populares. Na de cima, grifes famosas, restaurantes badalados e salões de beleza requintados, além de uma das áreas mais disputadas para moradia.

Calçadas marcadas por contrastes

O turista que anda pelas partes alta e baixa da Rua São Paulo acredita ter percorrido duas vias distintas. O mesmo ocorre com o visitante que caminhar por toda extensão da Rio de Janeiro. O comércio das alas Sul e Norte de ambos os corredores são marcados por contrastes. Na São Paulo, grifes como Zak, Lenny, Bobstore e Georgia Casa Comigo, ocupam casarões antigos com fachadas bem cuidadas e atendem os gostos de quem tem muito dinheiro para consumir. Na parte baixa, os frequentadores do Shopping Oiapoque e vizinhança também podem ceder aos impulsos das compras.

A loja Deluxe, na Rua São Paulo com Antônio Aleixo, tem decoração minimalista, os vestidos cuidadosamente pendurados e muito espaço livre, um charme ao estilo clean. Aberta há cinco meses, o ponto foi escolhido a dedo pela empresária Raquel Pena: “É privilegiado. Estamos no burburinho de Lourdes”. Umas das peças mais cobiçadas é um vestido, bordado durante 26 dias, que custa R$ 3,25 mil. Dezesseis quarteirões abaixo, entre Guaicurus e Santos Dumont, está a loja Karuza, com infinidade de produtos que povoam o desejo de consumo, mas o que agrada as mulheres, na opinião da funcionária Gisele Aparecida da Rocha, é o chinelo com lacinho, vendido por R$ 13, com um bom volume de negócios – cerca de 25 pares por dia.

Enquanto Raquel oferece para suas clientes café expresso, água gelada e os serviços do manobrista Eduardo Marioto, que conta já ter estacionado todos os modelos imagináveis de Audi, BMW e Mercedes-Benz, Gisele diz que precisa “ficar de olho”, pois não pode confiar nas pessoas que circulam nos arredores, pois, vira e mexe, tentam surrupiar alguma mercadoria. Ao olhar para a contraesquina, a vendedora vê uma faixa anunciando uma caixa com 144 unidades de preservativos por R$ 32 pendurada na parede rosa de um dos muitos prostíbulos da “baixa São Paulo”. As portas estreitas contam com intenso movimento de rapazes em busca de prazer.

O estúdio Mixon Hair se vale da vaidade das mulheres que frequentam o ponto nobre. “Elas são do bairro, de toda a cidade e até de outros estados”, reforça o proprietário Nixon Luiz. Há sete anos e meio na área nobre, ele sente no bolso o peso da valorização da região e recorda que, nos últimos anos, o aluguel subiu de R$ 8 mil para R$ 13 mil. O corte feminino custa R$ 80 e o masculino, R$ 50. O barbeiro Jair Ribeiro, de 80 anos, nunca se imaginou cobrando esses preços. Há 20 anos num corredor que dá acesso a sobrelojas na São Paulo, entre Caetés e Santos Dumont, seu Jair recebe R$ 10 pelo corte e ainda reclama do fraco movimento.

O vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI), José de Felippo Neto, que também é presidente da Rede Net Imóveis, estima que o preço médio do metro quadrado para os imóveis novos em Lourdes e na Savassi é de R$ 8 mil, Próximo à Praça Sete, porém, o valor da mesma metragem cai para cerca de R$ 2,5 mil, nas mesmas ruas. O corretor Antônio de Carvalho da Mota, que trabalha há três décadas com imóveis comerciais no Centro, explica que, nesses casos, o preço varia de acordo com o fluxo de pedestres.

A situação da Rua Rio de Janeiro, onde lojas do mesmo segmento oferecem mercadorias com qualidade e fama bem diferentes e preços completamente distintos, não é diferente. Na parte baixa da Contorno, seu Antônio Augusto Nogueira, de 60, ganha a vida importando e vendendo, no atacado e varejo, sandálias de Nova Serrana, no Centro-Oeste, Hamburgo (RS) e Franca (SP). O produto mais caro, exposto numa tela de frente a um ponto de ônibus do primeiro quarteirão próximo ao leito do Rio Arrudas, sai a R$ 20.

“Estou aqui há dois anos. Emprego uma pessoa”, diz o microempresário, que pintou a fachada da loja recentemente e torce para que a vizinhança siga seu exemplo. “Os imóveis podem ficar mais limpos. O problema é o vandalismo: já pregaram um cartaz na parede externa da loja.” Na ala Sul da via, há outra loja de calçados, mas com preços e público diferentes. Trata-se da Arezzo, que emprega 11 funcionários. Lá, a rasteirinha mais barata sai a R$ 99,90. Já o produto mais caro, uma bolsa de couro, pode ser adquirida por R$ 799. “É um público exigente, com maior informação sobre o produto que deseja”, diz a gerente do estabelecimento, Angélica Almada Arantes.

Perto dali, a clientela da Objeto com Alma, especializada em artigos e presentes, é formada por um público especializado. É a chamada loja destino, na qual a clientela não entra por acaso no ponto de venda: “Não é uma loja de passagem. A pessoa sai de casa para vir aqui”, explica a proprietária, Maria Tereza Fonseca Bittar. Esta característica permite ao comércio dela e a outros, que atende público idêntico, maior segurança. Há portas que permanecem trancadas e somente são abertas depois de o cliente se identificar. (DC e PHL)

 


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