![Homens fantasiados de mulheres durante o carnaval geram debate(foto: Luciola Vilela/Riotur) Homem caracterizado de Gal Costa. Ele usa um body vermelho e uma peruca preta de cabelos lisos. Ele é branco e segura um violão com o nome 'Gal' gravado em tinta vermelha](https://i.em.com.br/57ID2pud0G6m7ZaaWwanv9X7TKU=/332x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2023/02/25/1461818/homem-caracterizado-de-gal-costa-ele-usa-um-body-vermelho-e-uma-peruca-preta-de-cabelos-lisos-ele-e-branco-e-segura-um-violao-com-o-nome-gal-gravado-em-tinta-vermelha_1_66328.jpg)
Nas últimas semanas de folia, a mensagem "Travesti não é fantasia de Carnaval" invadiu milhares de perfis espalhados pelas redes sociais mais utilizadas do país, uma crítica ao uso acrítico da alegoria.
Poucas pessoas, a maioria cisgênero, defendem o uso por motivos culturais.
O verbo travestir, que deu origem ao termo apropriado para definir o grupo identitário, significa vestir (alguém ou a si próprio) de modo a aparentar ser do outro sexo, condição ou idade.
"Existem inúmeros problemas em um homem se vestir de mulher, de travesti, fazer a caricatura de quem somos e ir desfilar nas ruas esbanjando falsa feminilidade e trejeitos engraçados. Travesti é uma identidade de gênero, é uma constante de lutar por direitos e pela vida", diz a artista Bianca Manicongo, 21, conhecida como Bixarte. A jovem é travesti.
Ela afirma ser considerado cômico fazer a caricatura durante as festas carnavalescas. Mas, fora do período, "ridicularizam, não empregam, sexualizam, marginalizam e nos negam o acesso a direitos básicos, como o ir e vir. Curtem o que é, na verdade, é dor".
Bianca faz parte de uma geração que busca dar ao termo travesti um novo significado. Para esse grupo, a palavra carrega injustamente uma perspectiva negativa imposta historicamente pela sociedade brasileira.
A violência contra pessoas LGBTQIAP+, especialmente transexuais e travestis, é crônica no Brasil. No último ano, 131 indivíduos foram mortos no país, segundo levantamento da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
As críticas à vestimenta vêm em uma toada de revisionismos de fardas carnavalescas. Antes bem difundidas, personificações de indígenas, por exemplo, hoje não são bem-vistas.
O levante contra os homens travestidos também tem a participação de instituições de apoio à comunidade LGBT+.
"A proibição de nossa presença no Carnaval foi usada durante anos de forma institucional e direta. E, nos últimos tempos, mais sofisticada e indireta. Os locais de grandes bailes e blocos, em geral, não são seguros para nossos corpos", declarou a associação.
Bruna Benevides, coordenadora política da Antra, diz não ser o escárnio dos corpos trans e travestis exclusividade de populares em farra pelas ruas.
"Escolas de samba têm uma dívida histórica com as travestis. O posto de rainha de bateria foi criado por Joãozinho Trinta [famoso carnavalesco brasileiro] para a travesti Eloína dos Leopardos, nos anos 70. Se olharmos hoje, além de sermos poucas e sem qualquer destaque, o ambiente das escolas, seja nos desfiles ou quadras, são altamente inseguros para nossos corpos", afirma ela.
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