O livreiro Alencar Perdigão na Quixote

Alencar Perdigão fundou a Quixote em 2003, em sociedade com Claudia Masini; casal procura fazer de sua livraria um ponto de encontro de leitores

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press. Brasil

A união entre a Livraria Quixote e a Relicário Edições é antiga e repleta de boas lembranças. Em 2013, a editora começava os trabalhos na capital mineira e estava em busca de um lugar para seu primeiro lançamento. “O primeiro livro editado pela Relicário foi de uma pessoa que trabalhou na livraria. Com muito orgulho, abrimos nossas portas, e o primeiro lançamento foi aqui”, conta Alencar Perdigão, de 58 anos, proprietário da Quixote. 

A partir de então, a livraria foi escolhida para todos os lançamentos da Relicário. A parceria deixou de ser apenas no campo empresarial e se tornou pessoal. O carinho e a admiração moldam a relação entre os proprietários das duas empresas, que, neste sábado (2/9), vão celebrar um duplo aniversário: 20 anos da Quixote e 10 anos da Relicário. O evento será na loja da Quixote. 

A programação inclui a venda de livros da editora Relicário e da editora Quixote-Do com desconto, brindes, surpresas musicais e poéticas, venda de chope artesanal e a apresentação do DJ Pedro Kalil.
 
A editora Maíra Nassif

Formada em filosofia, Maíra Nassif descobriu a vocação de editora depois de ser indicada para um trabalho de produção editorial

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
 
 
A Relicário foi um desvio feliz no caminho de Maíra Nassif, de 38 anos. Graduada e mestre em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com ênfase em estética e filosofia da arte, ela foi indicada por um amigo para trabalhar em uma editora que estava procurando pessoas com perfil acadêmico, para cuidar da produção editorial. 

“Nessa ocupação, totalmente nova e inesperada para mim, descobri que, ao invés da sala de aula, era exatamente isso o que eu queria para minha vida: editar livros, trabalhar com eles não apenas usando-os, mas também produzindo-os”, diz.

Depois de dois anos como produtora editorial, teve a ideia de fundar a Relicário, com livros que lhe interessassem também como leitora.
 
“A história da Relicário se confunde com a minha, pois é o resultado do meu conhecimento prático adquirido no mercado editorial, minha bagagem acadêmica, meu gosto pelos livros e pela leitura.”

Com Alencar não foi muito diferente. Leitor assíduo, sempre sonhou em ter sua própria livraria. Certo dia, ao sair do trabalho, andando pela Rua Fernandes Tourinho, viu o imóvel que hoje é sede da Quixote para alugar e resolveu seguir seus sonhos, com o apoio da esposa e coproprietária Claudia Masini.

“Ao longo desses 20 anos, construímos uma história muito bonita na cidade. A Quixote se tornou ponto de encontro para intelectuais e estudantes. Muitas pessoas se conheceram e se conhecem por aqui”, diz Alencar. 
 

Apaixonados por histórias

A livraria tem como ideal não ser apenas um ponto de comércio de livros, mas proporcionar bons momentos para os apaixonados por histórias.
 
“Nós queremos ser diferentes, fazemos tudo com amor. Temos um espaço em nossa vitrine dedicado às editoras pequenas e independentes. Também fazemos lançamentos todos os sábados aqui na loja. Buscamos ir além de ‘vender livros’”, afirma. 

Maíra se orgulha de ter escolhido a trajetória de editora. “É um sentimento de que estou exatamente no lugar onde eu deveria estar. O despertencimento que me acompanhou em vários momentos da vida e que ainda me acompanha em algumas situações é inexistente quando estou imersa no meu ofício”, afirma.
 
“Quando vejo nossos livros encontrando leitores, fomentando discussões, ocupando bibliografias, ganhando comentários e resenhas e sendo escolhidos para grupos de leitura, tenho a certeza de que esses 10 anos de muito trabalho fazem todo o sentido.”
 

TRÊS PERGUNTAS PARA...

ALENCAR PERDIGÃO
Fundador da livraria Quixote

Se pudesse voltar no tempo, teria feito alguma coisa diferente?
Olha, eu não teria mudado nada na história da Quixote, seguiria do mesmo jeito. Sou muito feliz aqui na livraria e em poder receber as pessoas. Não tenho aquela coisa de “meu trabalho é uma dificuldade”. Eu não faria nada de diferente, não. 

Se pudesse deixar alguma dica ou conselho para o Alencar de 20 anos atrás, qual seria?
Quando você gosta de alguma coisa, você tem paixão, você se arrisca sem medo. Tudo o que eu fiz foi com esse amor pelos livros e com esse desejo de fazer com que as pessoas e a cidade entendam o poder transformador do livro. Quando você gosta, você quer dividir com mais pessoas. 

E qual dica ou conselho deixaria para o Alencar de daqui a 10 anos?
Primeiro, espero estar sentado aqui na poltrona e lendo meus livros. Mas eu diria para ele que valeu a luta, valeu a persistência, valeu a paixão. Apesar das muitas dificuldades, valeu a pena! Valeu, cara, você contribuiu muito, modéstia à parte, para a história cultural de uma cidade.

TRÊS PERGUNTAS PARA...

MAÍRA NASSIF
Fundadora da editora Relicário 

Se pudesse voltar no tempo, teria feito alguma coisa diferente?
Acho que o trabalho de todo editor que se envolve com curadoria envolve riscos. Ao toparmos publicar um livro, estamos sempre fazendo apostas. Por isso, acho que toda editora terá suas histórias bem e mal sucedidas. No início da editora, topei publicar algumas coisas que hoje eu não publicaria. Mas isso também faz parte do processo. Por isso não tenho arrependimentos que me mobilizem. Tudo fez parte, e o risco de uma escolha ruim continuará nos rondando. E aqui vale a pena citar Beckett e sua máxima: "Tente novamente. Falhe novamente. Falhe melhor". 

Se pudesse deixar alguma dica ou conselho para a Maíra de 10 anos atrás, qual seria?
Desde 2013, estou em um ritmo de trabalho crescente tão frenético e ininterrupto que eu diria para a Maíra de 2013 viajar muito, ler muito por prazer e passear muito, pois depois isso ficaria cada vez mais difícil. Por outro lado, diria que, justamente pelo excesso de trabalho, as coisas aqui no futuro estão sob controle e que os planos de ser feliz ao lado dos livros, de modo sustentável, estão dando certo. Algumas situações chatas e alguns perrengues também, mas nada fora do comum. Diria pra ela relaxar e confiar. Por outro lado, foi justamente por não relaxar e não abrir a guarda que estamos aqui agora. Como lidar com esse paradoxo temporal? (risos).

E qual dica ou conselho deixaria para a Maíra de daqui a 20 anos?
Uau! Vinte anos já? Parece que foi ontem e parece que são mil anos. Vá descansar, tire suas merecidas férias, pode até ficar uns meses desligada de tudo, mas volte logo, pois temos ainda muitos livros para publicar e muitos autores para conhecer. Você vive dizendo por aí que os livros abrem mundos, não é? Ainda tem muito mundo por aí esperando pra ser aberto. Estamos só no começo!

FESTA DE 20 ANOS DA LIVRARIA QUIXOTE E 10 ANOS DA RELICÁRIO EDIÇÕES

Neste sábado (2/9), das 11h às 15h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). Entrada franca.

*Estagiária sob supevisão da editora Silvana Arantes