Paul McCartney toca guitarra em seu estúdio

Apresentação de Paul McCartney, em dezembro, será o cartão de visitas da Arena MRV para o mercado de megashows

Mary McCartney/divulgação
 
A Arena MRV, além de sua função principal como estádio de futebol do Clube Atlético Mineiro, funcionará como espaço cultural e de entretenimento, apresentando shows e eventos corporativos, entre outras atividades. 

Nesta entrevista, Rogério Dezembro, CEO da Live Park, empresa responsável por projetos que conciliem atividades culturais e de entretenimento com o esporte na Arena MRV, diz que o espaço está apto a receber megashows de cuja agenda BH costumava ficar de fora. Caso de Taylor Swift, Coldplay, RBD, Harry Styles e The Weeknd, por exemplo. Em 3 de dezembro, Paul McCartney vai cantar lá, com ingressos esgotados.


Qual é a capacidade máxima da Arena MRV para shows?
Temos os estudos de implantação de palco, mas cada show tem dimensão diferente. Ivete com Jorge e Mateus, Jota Quest com Maroon 5 vão usar um palco diferente do Paul McCartney. São outras configurações. Isso acaba afetando o espaço de pista no gramado e o ângulo de visão das cadeiras e dos camarotes. A gente estima que a capacidade seja entre 40 mil e 45 mil lugares para shows, mas vamos ter certeza depois dos dois primeiros eventos.

Sua função na parceria da empresa Live Park com a Arena MRV é captar os eventos inaugurais. Há algo definido para depois desse período?
No caso do Paul McCartney, fomos nós que fizemos a negociação para a Arena. Esse é o nosso foco de atuação, então vamos auxiliar pelo menos na fase inicial da atração de eventos. Vamos atuar com a Arena nesses primeiros meses, nessa conciliação entre a atividade da Arena como estádio do Galo e o espaço para grandes shows. Do nosso lado, existe o interesse de continuar a parceria. Acho que a questão é conversar com a Arena em momento oportuno, imagino que até o começo de 2024.
 
Arena MRV, em Belo Horizonte, vista de cima

Arena MRV tem capacidade para shows com público de 45 mil pessoas

Douglas Magno/AFP

'São Paulo virou a primeira escala de todas as turnês que passam pelo Brasil. Aí depois você tem um grupo de cidades brigando: Rio de Janeiro, BH, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Salvador. Belo Horizonte vai se descolar desse grupo por conta da infraestrutura da Arena MRV. Você vai passar a ter São Paulo e BH, e depois, se tiver tempo, Rio'

Rogério Dezembro, CEO da Live Park

 

Desde 2018, a Live Park está em contato com a Arena. O que foi orientado, durante o planejamento do estádio, levando-se em conta os aspectos fundamentais de uma apresentação musical?
A Arena MRV queria um modelo de vida ativa, se possível, 365 dias por ano. Fizemos um estudo de mercado dos eventos em BH e começamos a mexer no projeto de arquitetura e engenharia. Criamos acesso de dois caminhões simultâneos para a área de palco, porque isso barateia e dá facilidade para montagem e desmontagem, por exemplo. Houve remodelação de espaços de escada, eliminação de elevadores, criação de determinados espaços. Na lógica e inteligência de circulação, fomos ver o fluxo de diferentes públicos: gerenciamento, segurança, limpeza, operação de alimentos e bebidas, estacionamento, Polícia Militar, Bombeiros, imprensa. Ou seja, pegamos aquele projeto macro, levamos para o micro e sugerimos a criação de determinados pontos de acesso, de fluxo. Tudo isso foi estudado no material que entregamos para a Arena em 2018. A Arena MRV é a mais bem preparada para receber shows. Ela tem infraestrutura e facilidade para montagem de shows, o que vai torná-la muito competitiva. Para o promotor, fazer um show na Arena MRV vai ser mais barato e mais fácil do que fazer em qualquer outra arena no Brasil.

A Arena já anunciou vários megashows. Como vocês atuam para trazer artistas desse porte para o estádio?
A Live Park não é especializada em promover shows, nós gerenciamos espaços para entretenimento, cultura e lazer. Cuidamos da infraestrutura para que a Arena seja a mais receptiva possível para ter a preferência dos promotores de evento. Conhecemos esse networking, a cadeia de valor que faz eventos, e sabemos o que é importante para eles, o tipo de infraestrutura de que precisam, as não restrições que colocam de patrocínios do espaço, para não brigar com os patrocínios do evento, uma série de detalhes que fazem a diferença. Além da estrutura física, é importante ter uma equipe residente no espaço que converse com o promotor do evento, um ponto de contato que fale a mesma língua dele. É diferente de muitos locais no Brasil, onde o promotor vai fazer um show, recebe a chave e a instrução: ‘Me devolva da mesma forma que você recebeu’. Ele tem de procurar tudo na base da tentativa e erro. Isso leva tempo, gera alguns incidentes que precisam ser reparados. É um pouco do trabalho que estamos fazendo para a Arena MRV. A ideia de abrir com esses grandes shows foi para colocá-la de início neste mercado. Vamos entrar já promovendo grandes eventos para mostrar aos promotores como são feitos, como podem ser operados aqui e todas as vantagens que a Arena tem para oferecer. Então, a gente encurta o tempo de maturação do negócio, esse foi o objetivo do planejamento.
 
Rogério Dezembro, CEO da Live Park, olha para a câmera

Rogério Dezembro, CEO da Live Park, diz que a Arena MRV será a primeira opção para shows em BH com mais de 30 mil pessoas

Reprodução
 

'Temos a impressão de que BH vai 'roubar' eventos que iriam para outras cidades'

Rogério Dezembro, CEO da Live Park



Comentou-se que a Arena MRV estaria negociando o show da Taylor Swift em BH. Existiu mesmo essa conversa?
Existiu a consulta da nossa parte. Vimos que a demanda estava muito grande e sabemos que quando você tem dificuldade de atender, gera uma frustração muito grande na base de fãs. Não é bom para o artista e nem para o promotor do evento. Informamos à Arena MRV, mas não chegamos nem a levar uma proposta, porque foi uma consulta preliminar para saber se haveria disponibilidade de agenda. Infelizmente, como não existia, a discussão não foi adiante. Mas estamos o tempo todo de olho no mercado para ver as oportunidades que podemos levar para a Arena. A Arena MRV, na verdade, vai ter um primeiro ano operacional como nenhum estádio no mundo teve. O próprio Allianz Parque, em São Paulo, abriu com dois shows do Paul McCartney no final de 2014, depois teve mais dois ou três shows em 2015. Quando a Arena MRV, em seis meses, terá Jota Quest com Maroon 5, Ivete Sangalo com Jorge & Mateus, Paul McCartney. Na América Latina, nunca houve estádio inaugurado com agenda tão recheada de estrelas logo nos primeiros meses de atuação como a Arena MRV está sendo inaugurada.
 

Há outros shows em negociação para BH?
Temos três negociações em andamento para 2024, mas infelizmente não posso contar. A gente assina NDA (non disclosure agreement, ou acordo de não divulgação). Isso acaba atrapalhando o negócio do promotor. Se a possibilidade de esses shows virem para o Brasil vaza, impacta no negócio deles, por isso tratam com o sigilo que a atividade demanda. Estamos conversando sobre três eventos para 2024.

Fãs da Beyoncé manifestaram a expectativa de vê-la na Arena MRV...
Na verdade, de concreto não temos nada para divulgar mesmo. Existem negociações, que são possibilidades, como aconteceu essa da Taylor Swift – houve a consulta, mas no primeiro telefonema já se mostrou inviável pela questão de agenda. É da natureza do negócio mesmo: a cada quatro ou cinco portas que se abrem, acaba convertendo uma ou duas. Tenho certeza de que a Arena vai ser a primeira opção para shows em BH acima de 30 mil, 35 mil pessoas. Aí promotores passam a consultar a possibilidade de agenda. Atéa decolagem acontecer, temos de correr no mercado e bater na porta.
 
Funcionário da Arena MRV cuida do gramado. Utilização do campo para shows preocupa torcedores

Funcionário cuida do gramado da Arena MRV

Douglas Magno/AFP

'Uma coisa que a imprensa de futebol coloca de maneira equivocada é que existiria rivalidade entre jogos e shows. Do ponto de vista do dono da Arena, não existe rivalidade nenhuma, ele quer ter os dois'

Rogério Dezembro, CEO da Live Park

 

Nesse processo de atrair shows para BH, há algum apoio do governo de Minas Gerais ou da Prefeitura de Belo Horizonte?
Especificamente para atrair esses conteúdos, não. O que a prefeitura ajuda, assim como em outras cidades do Brasil, é definir e dar estabilidade para as regras para que você saiba o que pode negociar ou não. BH já recebe megashows há bastante tempo, então a prefeitura já tem essa política estabelecida e isso traz muita tranquilidade. Acho que o setor de entretenimento tem um impacto na economia que não é reconhecido pelos agentes públicos, isso pode até ser também culpa do segmento. Talvez para atrair um shopping, uma fábrica, exista grande mobilização do poder público. Quando você fala de entretenimento, que tem impacto na geração de empregos, arrecadação de impostos e movimentação de capital na economia às vezes maior do que um empreendimento, não existe essa mobilização. Aí é menos culpa do poder público e mais culpa nossa, dos atores que atuam nesse mercado e não sabem mostrar o impacto econômico que a atividade gera.

O que falta para BH se tornar referência no cenário de megashows, assim como São Paulo e Rio de Janeiro?
Uma coisa que faltava não falta mais: equipamento de ponta como a Arena MRV. Temos a impressão de que BH vai “roubar” eventos que iriam para outras cidades. São Paulo virou a primeira escala de todas as turnês que passam pelo Brasil. Aí depois você tem um grupo de cidades brigando: Rio de Janeiro, BH, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Salvador. Belo Horizonte vai se descolar desse grupo por conta da infraestrutura da Arena MRV. Você vai passar a ter São Paulo e BH, e depois, se tiver tempo, Rio ou algumas das outras cidades, por conta da facilidade e da experiência.
 
Torcedores de futebol e fãs de música divergem em alguns fatores, como as condições do gramado. Isso influencia a agenda cultural do estádio? 
Esse é o eterno desafio. No mundo ideal, você deveria ter todos os jogos e todos os shows. Mas a gente sabe que o mundo ideal não existe. Então, em algumas situações, a Arena vai ter que abrir mão de shows em função de ser um período importante para o Atlético. É arena multiuso, mas antes de tudo é a casa do Atlético. E vai acontecer o inverso também, vai abrir mão de alguns jogos para receber determinado show. Não tem como fugir disso. O desafio permanente é tentar encontrar um grau de maximizar a agenda, receber o máximo de shows e jogos possível. Uma coisa que a imprensa de futebol coloca de maneira equivocada é que existiria rivalidade entre jogos e shows. Do ponto de vista do dono da Arena, não existe rivalidade nenhuma, ele quer ter os dois. Se puder ter um evento corporativo para 1 mil pessoas entre um e outro, ele quer também. São essas receitas que viabilizam a manutenção do estádio e seu constante aperfeiçoamento. É como um cinema ou restaurante vazio, não é bom. Ele precisa estar cheio o tempo todo.
 

'Vai haver aumento de eventos que virão para BH. Claro que em uma situação ou outra, pode haver disputa, mas entendemos que o Mineirão tem outras características. Naturalmente, vai haver uma acomodação, mas acho que os dois equipamentos terão o efeito de ampliar o mercado de eventos em BH'

Rogério Dezembro, CEO da Live Park

 

Tradicionalmente, o palco de BH para grandes eventos tem sido o Mineirão. Existe disputa entre Arena e Mineirão?
Na verdade, vai haver aumento de eventos que virão para BH. Claro que em uma situação ou outra, pode haver disputa, mas entendemos que o Mineirão tem outras características. Naturalmente, vai haver uma acomodação, mas acho que os dois equipamentos terão o efeito de ampliar o mercado de eventos em BH. Não vejo o Mineirão recebendo muito menos eventos por conta da Arena MRV, acho que a Arena vai acabar levando para a capital eventos que talvez fossem para outras cidades. É positivo para a Arena MRV ter o Mineirão e vice-versa. Não vejo como problema, é uma solução. Contar com os dois equipamentos coloca BH em uma situação muito privilegiada no Brasil.

Qual é o diferencial da Arena MRV em relação ao Mineirão?
O Mineirão tem operação para os promotores de evento que não é amigável. Foi justamente o que a gente procurou proporcionar no projeto da Arena MRV: que ela fosse muito simples e mais barata para a operação. Para o público, uma coisa que vai ser muito diferente é a proximidade e toda a atmosfera. Como o Mineirão é muito grande, muito extenso, tem uma escala grande, quando se tem 60 mil pessoas ali, a atmosfera é bárbara. Mas quando tem 35, 40 mil, ela fica um pouco perdida diante daquela escala muito grande. No caso da Arena MRV, como tem capacidade menor e a proximidade do público, a atmosfera vai ser muito diferente. Não é que seja um defeito do Mineirão, ele foi pensado em escala e conceito totalmente distintos.