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Estado de Minas LITERATURA

Obra de Clarice Lispector se estende ao cinema

Filmes 'A paixão segundo G.H.', de Luiz Fernando Carvalho, e 'O livro dos prazeres', de Marcela Lordy vão estrear em 2021


10/12/2020 04:00 - atualizado 10/12/2020 09:48

Simone Spoladori em O livro dos prazeres, história da professora Lóri filmada pela diretora Marcela Lordy(foto: Wladmir Fontes/divulgação)
Simone Spoladori em O livro dos prazeres, história da professora Lóri filmada pela diretora Marcela Lordy (foto: Wladmir Fontes/divulgação)
Não fosse a pandemia, dois longas-metragens baseados em romances de Clarice Lispector teriam sido lançados no ano do centenário da escritora. Já finalizados e previstos, mas sem data para chegar ao cinema em 2021, estão A paixão segundo G.H., de Luiz Fernando Carvalho, e O livro dos prazeres, de Marcela Lordy.

Os livros que deram origem aos filmes são do mesmo período: A paixão segundo G.H. foi publicado em 1964 e Uma aprendizagem ou O livros dos prazeres veio a público cinco anos mais tarde. Benjamin Moser apontou, em Clarice, uma biografia (2009), que O livro dos prazeres é “uma espécie de órfão”.

“Ela (Clarice) sabia que seria difícil dar uma sequência à altura de A paixão segundo G.H.... Na verdade, artisticamente, superar aquela obra atordoante seria difícil para qualquer escritor”, escreveu Moser.

Epifania 

Para muitos a obra-prima de Clarice, G.H. traz a personagem-título, uma artista plástica de classe alta, que, após a demitir a empregada, tem uma epifania ao encontrar com uma barata. A narrativa se dá por meio de intensos fluxos de consciência.

Já O livro dos prazeres acompanha Lóri, uma professora de 30 anos que não se aprofunda nas relações até conhecer Ulisses, também professor, só que mais maduro. A obra se passa quase toda dentro do pensamento de Lóri.

Tais romances, não é preciso ir muito longe, são de difícil adaptação. “Nesse sentido, gosto do poder de comunicação que o cinema tem. O livro dos prazeres é mais abstrato, não tem começo, meio e fim. Isso me deu liberdade de criação, de ousadia da linguagem, de poder expandir os limites”, comenta Marcela Lordy, que estreia em longas-metragens com esta produção.

No papel de Lóri está a atriz Simone Spoladore, que atuou no projeto anterior da diretora, o telefilme A musa impassível (2011). Coprodução com a Argentina, O livro dos prazeres foi rodado no Rio de Janeiro, mas montado em Buenos Aires.

“Clarice sempre se sentiu estrangeira, e me vi nesta condição, pois sou de São Paulo e fiz o filme entre as duas cidades. Acho que isso fez bem para a narrativa”, diz Marcela Lordy.

A diretora chegou à adaptação da obra clariceana depois de ouvir de Walter Salles, de quem foi assistente, que Fernanda Montenegro havia lhe dito que Lóri era a única personagem que gostaria de fazer e não fez, pois não tinha mais idade para tal.

“Fui meio ingênua de escolher como primeiro filme algo difícil, houve horas que pensei em desistir”, revela Marcela, que dedicou a última década ao projeto.

“Quando se fala em personagens femininas, elas nunca são protagonistas. Quando são, não são legais, ou sempre sofridas. Nos últimos 10 anos houve uma evolução e as personagens femininas ganharam força no cinema, encontraram sua própria voz. Clarice lançou o livro um ano depois de 1968, com o AI-5, e faz uma revolução feminista para o lado de dentro”, diz a diretora.

Maria Fernanda Cândido interpreta G.H., a icônica personagem de Clarice. O filme virá a público exatos 20 anos depois de Luiz Fernando Carvalho lançar seu longa anterior, Lavoura arcaica, do romance de Raduan Nassar, também considerado “inadaptável”. Foi durante a montagem de Lavoura, por sinal, que Carvalho passou a se dedicar à leitura mais atenta de G.H.
Maria Fernanda Cândido em A paixão segundo G. H., filme dirigido por Luiz Fernando Carvalho(foto: Antônio Garcia Couto/divulgação )
Maria Fernanda Cândido em A paixão segundo G. H., filme dirigido por Luiz Fernando Carvalho (foto: Antônio Garcia Couto/divulgação )

ESTRELA 

A obra de Clarice, dada sua importância, gerou poucos longas. O mais importante é A hora da estrela (1985), filme que lançou não só a carreira da diretora Suzana Amaral na ficção como levou Marcélia Cartaxo para o cinema.

Esta novela, última publicação de Clarice em vida (saiu poucos meses antes de sua morte, em 9 de dezembro de 1977), é também uma das narrativas mais importantes de sua obra.

Marcélia, então com 19 anos, deixou Cajazeiras, no interior do Paraíba, de ônibus para filmar Macabéa em São Paulo. Até então, só havia visto Suzana Amaral uma vez. Conheceu a obra de Clarice, de quem nunca ouvira falar, por causa do filme.

A hora da estrela foi rodado em 28 dias, em película de 35mm. Os atores não podiam errar, pois a cena filmada era a que iria valer. Como não havia som direto, seis meses depois das filmagens Marcélia voltou a São Paulo para dublar o filme.

“Na dublagem, a Suzana olhava e dizia: ‘Meu Deus, quem é que vai gostar do filme? Só tem gente feia.’”, conta ela. Em 1986, no Festival de Berlim, Marcélia levou o Urso de Prata de Melhor atriz pelo papel.

O cinema ainda assistiu a outros dois longas adaptados de livros de Clarice, ambos dirigidos por José Antônio Garcia e estrelados por Carla Camurati: Estrela nua (1984, codireção com Ícaro Martins) e O corpo (1991), com Antônio Fagundes e Marieta Severo no elenco.

HOJE É DIA DE CLARICE


» A editora Rocco promove uma série de lives ao longo desta quinta-feira (10). Às 11h, Teresa Montero fala sobre a nova edição de Eu sou uma pergunta: Uma biografia sobre Clarice Lispector, que prepara para 2021. Às 13h, Zélia Duncan faz leitura de Todas as cartas. Às 14h, o editor Pedro Vasquez fala sobre o desafio de editar a literatura clariceana. Às 19h, será exibido minidocumentário com Victor Burton sobre o novo projeto gráfico dos livros da escritora, relançados este ano. Às 22h, o sarau Vigília Clarice 100 anos terá início com a participação do público. Ainda nesta quinta-feira, a editora lança podcast sobre A hora da estrela, com André Paes Leme e Laila Garin, diretor e atriz do musical homônimo.
.As lives serão transmitidas pelo instagram.com/editorarocco. Gratuito.

»  Evento virtual homenageia o centenário de Clarice e os 80 anos de publicação de sua obra de estreia, o conto Triunfo, lançado em maio de 1940 na revista PAN. Participam a escritora e pesquisadora Maria Mortatti, o escritor e professor Rogério Duarte, a pesquisadora e professora Nádia Battella Gotlib e o escritor e editor João Scotecci.
.Das 16h às 18h, na plataforma Zoom (ID de acesso 725 467 53 53). Gratuito.

» Evento on-line As adaptações literárias da obra de Clarice Lispector para o audiovisual. Com Nicole Algranti, cineasta e sobrinha-neta da escritora, diretora do documentário De corpo inteiro – Entrevistas e do curta O ovo; Taciana Oliveira, diretora do documentário A descoberta do mundo; e Teresa Montero, autora dos livros O Rio de Clarice e Eu sou uma pergunta.
.Às 16h, em youtube.com/sescsp. Gratuito.

» Palestra “Clarice Lispector e o inquietante”, com o professor Luiz Lopes, do curso de letras do Cefet-MG.
.Às 11h, em youtube.com/c/ AcademiaMineiraDeLetras. Gratuito.

» Aula “Como Clarice Lispector pode mudar sua vida”. Com os escritores Nélida Piñon, Simone Paulino, Aline Bei, Valter Hugo Mãe e Leonardo Tonus; as atrizes Maria Fernanda Cândido e Leona Cavalli; e o performer Wagner Schwartz.
.Das 19h às 21h, pela plataforma Zoom. Valor: R$ 157. Inscrições: theschooloflife.com/saopaulo e (11) 99179-6714.

» Até dia 15, o Fórum das Letras promove encontros virtuais em torno de Clarice. Hoje, às 15h, “O livro das horas: A hora das estrelas” terá a presença de Nélida Piñon. Sexta (11), das 14h às 16h, minicurso “Clarice: uma vida que se conta”, com Nádia Battella Gotlib. Dia 15, às 11h, palestra “Em torno das perguntas de Clarice”, com Júlia Panadés e Juliano Garcia Pessanha, e às 17h, palestra “Clarice, hoje”, com Claire Varin e Simone Paulino.
.Informações e acesso aos links de transmissão: forumdasletras.com. Gratuito.

» O solo Na sala com Clarice, com o ator Odilon Esteves, faz temporadas aos sábados, às 20h, e domingos, às 19h, até 31 de dezembro. Nesta quinta (10), haverá sessão especial, às 20h. O projeto terá também ciclo de palestras com Nádia Battella Gotlib (dia 14, às 19h), Noemi Jaffe (11 de janeiro, às 19h) e Maria Homem (25 de janeiro, às 19h).
.Sessões transmitidas pela plataforma Zoom. Ingressos: sympla.com.br/nasalacomclarice. Gratuito.

» A biblioteca sonora Clarice 100 Ears, ligada ao Brazil LAB, da Universidade de Princeton (EUA), reúne artistas, estudiosos e fãs lendo trechos da obra da escritora em diferentes idiomas. Nesta quinta-feira, Chico Buarque lê trechos da crônica Água do mar.
.Confira em https://clarice.princeton.edu


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