(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas PANDEMIA

Não há uma, e sim várias epidemias de COVID em curso no país, aponta estudo

O inquérito realizado pela Unifesp testou 120 mil pessoas em 133 municípios entre janeiro e abril; 15% dos brasileiros tinham anticorpos contra o coronavírus


26/05/2021 20:07 - atualizado 26/05/2021 21:23

Para o estudo, 120 mil pessoas fizeram testes sorológicos com amostras de sangue para detectar anticorpos contra o SARS-CoV-2(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Para o estudo, 120 mil pessoas fizeram testes sorológicos com amostras de sangue para detectar anticorpos contra o SARS-CoV-2 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
No primeiro ano de pandemia de COVID-19, o coronavírus se espalhou de forma diferente entre as diversas regiões do país, efetivamente causando epidemias regionais, com índices variados entre estados e municípios. 

Essa foi a conclusão de um levantamento foi coordenado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

No Sudeste, por exemplo, 19,57% da população do Rio de Janeiro tinha anticorpos contra o coronavírus, percentual semelhante aos 18,73% registrados no Espírito Santo, mas superior à taxa média dos paulistas, de 13%.

Foram registradas, ainda, variações entre municípios do mesmo estado. Em São Paulo, a média em Sorocaba e Bauru foi de 9%; a de Marília, 20% e a de cidades como São José do Rio Preto, Araçatuba, Ribeirão Preto e São José dos Campos, variou entre 13% e 15%.

"Esses resultados mostram que há muita variação espacial na epidemia. Temos várias epidemias e não apenas uma no Brasil. Essa variação se estende por todo o país e será um dos objetos de estudo mais detalhado deste projeto", adianta Burattini.

Em Araraquara, por exemplo, 258 pessoas foram testadas entre janeiro e meados de fevereiro e o índice de resultados positivos foi baixo, de 4%. Alguns dias depois, entre 21 de fevereiro e 2 de março, a cidade decretou lockdown para conter uma explosão de casos e reduzir a superlotação de unidades de terapia intensiva (UTIs).

"O inquérito registrou um rendimento amostral muito baixo. Poderia explicar parcialmente a explosão de casos verificada posteriormente, mas ainda não podemos afirmar categoricamente.”

 

Imunização ainda é baixa 

No final de abril de 2021, com a curva de contágio em ascensão, na média, 15% dos brasileiros testados para realização do inquérito EPICOVID-19 BR 2 tinham anticorpos contra o SARS-CoV-2. 

Os índices de soropositividade, no entanto, variaram de 9,89% no Ceará a 31,4% no Amazonas, estado com a maior taxa do Brasil. O inquérito testou 120 mil pessoas em 133 municípios de todo o país entre os dias 25 de janeiro e 24 de abril de 2021.

"A maioria das pessoas da amostra ainda não havia sido vacinada, já que os testes se concentraram entre janeiro e meados de fevereiro, quando o Programa Nacional de Imunização (PNI) estava iniciando. Menos de 1% das pessoas testadas afirmou ter recebido vacinas e praticamente nenhuma delas havia recebido as duas doses", explica Marcelo Burattini, pesquisador da Unifesp e coordenador do inquérito. 

Portanto, o levantamento não fez distinção entre vacinados e não vacinados.


Os resultados preliminares do inquérito, segundo Burattini, sugerem que a soroprevalência registrada é muito menor do que as previsões até então divulgadas sobre a proporção de casos assintomáticos faria supor. A soroprevalência acontece quando uma pessoa apresenta anticorpos contra uma doença. 

"Quando tivermos concluído a análise das 133 cidades, comparando os dados desse inquérito com a ocorrência notificada de COVID-19, teremos importantes subsídios para direcionar medidas públicas. Isso provavelmente vai levar a uma nova compreensão da dinâmica da doença e sua ocorrência em nosso meio", afirma o pesquisador da Unifesp.

O inquérito teve como objetivo:

  1. estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2 por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; 
  2. determinar o percentual de assintomáticos; 
  3. avaliar sintomas e morbiletalidade;
  4. oferecer subsídio para políticas públicas e avaliação do alcance e impacto das medidas de isolamento social (lockdown ou distanciamento social com medidas de proteção, como o uso de máscaras). 

Além da soroprevalência, as demais variáveis do inquérito ainda estão sob análise, em razão do número de pacientes envolvidos na amostra, afirma o coordenador do inquérito.

Estudos complementares


O estudo EPICOVID 19-BR-2 complementa as informações coletadas em outro inquérito, o EPICOVID-19 BR, realizado em quatro fases pela equipe do programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), coordenada por Pedro Hallal. As três primeiras fases tiveram o apoio do Ministério da Saúde e, a quarta, da iniciativa Todos pela Saúde, do Itaú Unibanco.

Na primeira fase, feita entre 14 e 21 de maio de 2020, a soroprevalência no Brasil era de 2,9%. Na segunda, entre 4 e 7 de junho de 2020, a média cresceu para 4,6% e se manteve estável na terceira, realizada entre 21 e 24 de junho. Já no quarto inquérito, feito entre 27 e 30 de agosto de 2020, a prevalência foi de apenas 1,2%.

"A discrepância da fase 4 em relação às demais ainda está sendo investigada", explica Burattini, que também participou dos primeiros inquéritos.

"O EPICOVID 19-BR-2 é um estudo independente, que se relaciona com o inquérito anterior por ter utilizado a mesma base geográfica e metodologia amostral semelhante", explica o pesquisador.

Nas quatro fases da pesquisa, os dados foram coletados em 133 municípios, 25 setores censitários, com dez domicílios sorteados por setor e um morador sorteado por domicílio, totalizando 33.250 participantes em cada inquérito.

"Em todas essas fases, para detecção de anticorpos para o SARS-CoV-2, foi utilizado o teste sorológico rápido de fluxo lateral, baseado em amostra de sangue obtida por punção digital", ressalta Burattini.

No projeto EPICOVID-19-BR-2, o estudo foi feito nos mesmos municípios e setores censitários, tendo sido sorteados oito residências por setor por restrições orçamentárias, com planejamento de 1.000 pacientes amostrados por município.

"Diferentemente dos primeiros quatro inquéritos, todos os moradores dos domicílios sorteados participaram do estudo, o que multiplicou o número de pessoas testadas, de cerca de 33 mil para mais de 133 mil.”

Outra diferença fundamental é que, nesta última fase, “o teste rápido foi substituído por punção venosa para a coleta de sangue analisada em exames sorológicos para pesquisa de anticorpos totais por eletroquimioluminescência (EQMIA).”

"Os próximos passos envolvem a análise completa do material obtido e a publicação dos resultados, o que deve ocorrer ao longo dos próximos meses", conclui.
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)